domingo, 1 de dezembro de 2024

"Estamos na melhor fase das relações entre Brasil e China", diz vice-presidente da Vale

Alexandre D’Ambrosio afirma que a parceria celebrada entre os presidentes Lula e Xi Jinping amplia as oportunidades econômicas para o Brasil

Alexandre D'Ambrosio (Foto: Marcelo.Tavares)

 O vice-presidente de Assuntos Institucionais da Vale, Alexandre D’Ambrosio, afirmou que as relações entre Brasil e China atravessam seu melhor momento histórico. Em entrevista ao Brasil 247, ele destacou que a recente visita de Estado do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil, marcou um passo decisivo para o aprofundamento da parceria estratégica entre os dois países. "Por conta disso, a meu ver estamos na melhor fase histórica das relações entre Brasil e China. E a Vale, parceira da China há 51 anos, espera continuar a cooperação, vislumbrando mais '50 anos dourados' nessa relação bilateral", declarou.

O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping, realizado em novembro no Palácio da Alvorada, resultou na assinatura de 37 acordos de cooperação em áreas como energia, agronegócio, tecnologia, saúde e infraestrutura. Esses acordos reforçam a posição da China como principal parceiro comercial do Brasil, com um intercâmbio comercial que já ultrapassou US$ 136 bilhões em 2024. "Essa nova fase é marcada por um compromisso de construir uma parceria forte e benéfica, com impactos positivos para o desenvolvimento regional e global", destacou D’Ambrosio.

◉ Avanços na mineração sustentável e descarbonização

D’Ambrosio ressaltou que, entre os acordos assinados, um memorando de entendimento sobre mineração sustentável menciona expressamente o "ferro verde", produzido pela Vale. "O ferro de alto teor e os produtos de valor agregado que a Vale desenvolve são essenciais para a descarbonização da siderurgia e alinhados às metas de sustentabilidade de Brasil e China", explicou. A Vale já fornece briquetes de minério de ferro capazes de reduzir em até 10% as emissões de carbono na produção de aço, um setor que responde por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa.

A parceria com empresas chinesas também inclui projetos inovadores, como uma usina de concentração de minério de ferro em Omã e a produção de aço com hidrogênio verde, ambos focados na redução das emissões de carbono. "Hoje, Brasil e China são os maiores protagonistas da pauta ambiental e, juntos, poderão se destacar no cenário global", completou.

◉ Sinergias entre Brasil e China para a reindustrialização

D’Ambrosio vê com otimismo as sinergias entre a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), da China, e projetos estratégicos brasileiros, como o Nova Indústria Brasil (NIB) e o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). "A conexão entre essas iniciativas tem potencial significativo para impulsionar a neo-industrialização do Brasil, atraindo investimentos estrangeiros diretos para setores-chave, como energia, agronegócio e manufatura", afirmou.

A colaboração também reflete as prioridades compartilhadas por ambos os governos em áreas como economia digital, inteligência artificial e infraestrutura. "Essa relação ganha-ganha cria um ambiente propício para a modernização econômica, a geração de empregos e o alinhamento às metas ambientais", concluiu.

◉ Um olhar para o futuro

A Vale, que começou sua parceria com a China em 1973, se consolidou como uma das principais fornecedoras de minério de ferro do país asiático, que hoje representa mais de 50% das exportações da empresa. "Essa relação estratégica de longo prazo é marcada por crescimento, inovação tecnológica e compromisso com o desenvolvimento sustentável", destacou D’Ambrosio.

Com iniciativas como o parque solar Sol do Cerrado e outras tecnologias sustentáveis, a Vale já alcançou a meta de usar 100% de energia renovável no Brasil dois anos antes do previsto. "Nosso objetivo é continuar liderando a descarbonização, contribuindo para uma economia de baixo carbono e alinhada ao futuro sustentável que Brasil e China desejam construir", finalizou.

Leia a íntegra de sua entrevista ao Brasil 247:

247 – Como você enxerga a nova fase da relação Brasil-China?

Alexandre D’Ambrosio – No cinquentenário das relações entre os dois países, a visita do presidente Xi Jinping ao Brasil inaugura uma nova fase nas relações Brasil-China, com avanços promissores em várias áreas. Durante a visita, foram assinados 39 acordos, incluindo um que nos impacta diretamente, sobre mineração entre o Ministério de Minas e Energia do Brasil e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China. Nesse MOU foi mencionado expressamente o "ferro verde", que é essencialmente o ferro de alto teor produzido pela Vale, além de produtos de valor agregado, produzidos pela Vale a partir do ferro de alto teor.

Essa nova fase das relações Brasil-China é marcada por um compromisso de construir uma parceria forte e benéfica, com impactos positivos para o desenvolvimento regional e global. Esperamos que dessa colaboração resultem mais interações de alto nível, promovendo confiança e alinhamento de políticas. Ao mesmo tempo, existem muitas oportunidades de cooperação em infraestrutura, energia e tecnologia, apoiando a modernização da economia brasileira. Em termos tecnológicos, os países vão trabalhar juntos em pesquisa científica, inteligência artificial e economia digital, incentivando a inovação. Culturalmente, haverá mais programas de intercâmbio, como exposições de arte e festivais, promovendo entendimento mútuo e turismo. Na área ambiental, a cooperação focará em energia renovável e combate às mudanças climáticas, com um acordo sobre mineração sustentável.
Por conta disso, a meu ver estamos na melhor fase histórica das relações entre Brasil e China. E a Vale, parceira da China há 51 anos, espera continuar a cooperação, vislumbrando mais "50 anos dourados" nessa relação bilateral.


247 – Como as sinergias entre projetos como a NIB e a rota da seda podem contribuir para a reindustrialização do Brasil?

Alexandre D’Ambrosio – Para a Vale, é extremamente positivo que Brasil e China tenham decidido aprofundar suas relações, assinando 39 acordos de cooperação durante a recente visita de Estado do presidente Xi ao Brasil. Entre esses acordos de cooperação, os dois países concordaram em avaliar sinergias estratégicas entre a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), proposta pela China, e as estratégias de desenvolvimento brasileiras, como o plano Nova Indústria Brasil (NIB), o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), o Plano de Transformação Ecológica e o Plano da Rota de Integração Sul-Americana. Acreditamos que as sinergias entre eles têm um potencial significativo para ajudar na chamada "neo-industrialização" do Brasil. A conexão de projetos e políticas brasileiros e chineses leva nossos países a uma cooperação ganha-ganha, na qual as prioridades de nossos governos orientarão as parcerias estratégicas para gerar investimentos, desenvolvimento de infraestrutura, modernização da indústria e criação de empregos.

Penso que a identificação de sinergias contribui para atrair investimentos estrangeiros diretos para setores-chave identificados na estratégia do NBI, como energia, agronegócio e manufatura. Esse investimento pode ampliar os setores locais e diversificar a economia. Além disso, como ambos os governos enfatizam o desenvolvimento sustentável, é certo que novos projetos industriais serão alinhados com as metas ambientais do Brasil. Aliás, uma das principais convergências entre Brasil e China se dá nessa visão de futuro, com foco na descarbonização.
Brasil e China são, hoje, os maiores protagonistas dessa pauta ambiental e, juntos, poderão se destacar no cenário global.


247 – Como a parceria com a China foi importante para a Vale nos últimos anos e quais são os projetos da Vale para os próximos anos relacionados à China?

Alexandre D’Ambrosio – O desenvolvimento da Vale está intrinsecamente ligado ao crescimento da China, com uma parceria que se iniciou em 1973, um ano antes do estabelecimento das relações diplomáticas Brasil-China. Inicialmente considerada uma transação de alto risco, a exportação de minério de ferro para a China transformou-se significativamente ao longo das décadas. De 0,1% das vendas em 1973-1974, a China tornou-se o maior mercado da Vale desde 2006, representando mais de 50% dos produtos de minério de ferro desde 2014. Além de cliente, a China também é o principal fornecedor de produtos e serviços em mineração, infraestrutura e logística.

Recentemente, a Vale anunciou importantes projetos em parceria com empresas chinesas. Um deles é uma joint venture com a Jinnan Iron & Steel Group para estabelecer uma usina de concentração de minério de ferro em Sohar, Omã. A instalação, com previsão de início em 2027, processará 18 milhões de toneladas de minério de ferro anualmente, produzindo 12,6 milhões de toneladas de concentrado de alta qualidade. Outro projeto promissor envolve a cooperação em Mega Hubs no Oriente Médio, focados na produção de hot-briquetted iron (HBI) usando rotas de redução direta. Esta abordagem pode reduzir substancialmente as emissões de carbono na cadeia de produção de aço, podendo chegar a zero com o uso de hidrogênio verde.
A parceria Vale-China representa uma trajetória de crescimento, inovação tecnológica e compromisso com desenvolvimento sustentável, consolidando-se como uma relação estratégica de longo prazo.

247 – Como a Vale vê os esforços do Brasil e da China para a descarbonização?

Alexandre D’Ambrosio – A Vale apoia os compromissos do Brasil e da China para a descarbonização. Nossas metas incluem reduzir em 33% as emissões de CO2 (Escopo 1 e 2) até 2030, reduzir em 15% as emissões líquidas de Escopo 3 até 2035 e zerar as emissões líquidas até 2050. O Brasil tem grande potencial para ser protagonista na economia de baixo carbono, por apresentar uma matriz elétrica altamente renovável e oferecer minério de ferro de alta qualidade, como aquele produzido em Carajás, que favorece a descarbonização da siderurgia. Já a China está acelerando uma nova industrialização, impulsionada pela inovação e também baseada na economia de baixo carbono, promovendo otimização e atualização das indústrias tradicionais. Importante lembrar que a siderurgia é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa e é um dos setores mais difíceis de descarbonizar. A transformação do setor siderúrgico é essencial para que a China possa atingir suas metas de redução de emissões.


Hoje, a Vale fornece alguns dos melhores "mix" de produtos de alta qualidade do mercado de minério de ferro para ajudar a siderurgia a descarbonizar. Os briquetes de minério de ferro são um marco nesse sentido, com potencial de revolucionar o setor siderúrgico, reduzindo as emissões de CO2 em até 10%. Quando o hidrogênio verde estiver disponível, será possível a produção de aço com zero emissões no futuro.
A China é também uma grande fornecedora de equipamentos, materiais e serviços para as áreas de mineração, infraestrutura e logística das operações globais da Vale.

Exemplo disso é a presença de tecnologia chinesa em alguns de nossos projetos mais importantes de utilização de energias alternativas renováveis e mais ‘limpas’, como o Sol do Cerrado, um dos maiores parques de energia solar da América Latina. Este projeto, somado a outros que também estão sendo executados em nossa jornada de descarbonização, contribuíram para que a meta da Vale de utilizar 100% de energia renovável no Brasil até 2025 fosse alcançada já em 2023.

Fonte: Brasil 247

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