Para o jornal, a truculência policial se tornou método em São Paulo e a presença de Derrite ameaça a democracia e os direitos humanos
Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite, governador e Secretário de Segurança Pública de São Paulo (Foto: Reprodução/Facebook)
O jornal Estado de S. Paulo publicou um editorial contundente nesta quinta-feira 5, exigindo a demissão de Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública de São Paulo, diante de casos recentes de violência policial flagrados em vídeo e do aumento da letalidade da Polícia Militar. "Cada dia que o sr. Guilherme Derrite continuar à frente da Secretaria da Segurança Pública sinalizará à sociedade que, para o atual governo de São Paulo, vale tudo em nome de um suposto combate ao crime", afirma o jornal.
A crítica ocorre após a repercussão de um vídeo em que um policial militar joga um suspeito de uma ponte, gerando revolta no país. O episódio, segundo o editorial, é "só mais uma evidência de que a truculência se tornou método" na atuação da PM paulista sob a liderança de Derrite.
O Estadão destaca a contradição entre as declarações públicas do secretário e seu histórico na Polícia Militar. Derrite, que afirmou não tolerar desvios de conduta, admitiu em entrevista ter sido afastado da Rota, a elite da PM, porque "matou muito ladrão". O editorial questiona: "Como acreditar na advertência de alguém que celebra ter matado suspeitos e considera ‘vergonhoso’ um policial sem ‘três ocorrências’ de mortos no currículo?"O jornal também critica o governador Tarcísio de Freitas, que, apesar da indignação causada pelos casos recentes, já declarou que não pretende afastar Derrite, alegando que os abusos são "exceções". "Ao ignorar denúncias graves e se mostrar complacente com a violência, o governador valida práticas policiais que colocam a população em risco", escreve o Estadão.
Outro ponto central é o aumento da letalidade policial no estado. De acordo com dados apresentados pelo jornal, a PM paulista matou 496 pessoas entre janeiro e setembro deste ano, o maior índice desde 2020. "Esse é o verdadeiro padrão da segurança pública sob a atual gestão, e não a queda de homicídios e furtos usada como justificativa para manter Derrite no cargo", pontua o editorial.
O texto também denuncia a resistência de Derrite às câmeras nos uniformes dos policiais, uma medida considerada essencial para coibir abusos. Para o Estadão, a postura do secretário reforça a cultura de impunidade na PM. "Os policiais militares não podem continuar a ter como chefe e inspiração alguém que considera desumanidade uma prática aceitável."Por fim, o editorial alerta para a instrumentalização da segurança pública como estratégia política. Segundo o Estadão, Derrite já é cogitado como candidato ao governo ou ao Senado, em uma aposta de que a truculência policial pode render votos. "A violência, tratada como solução, é, na verdade, um retrocesso que mina os valores democráticos e os direitos humanos."
A conclusão é categórica: "A solução não é afastar um punhado de policiais flagrados em atos revoltantes. É afastar o secretário que legitimou esses atos e que, por isso mesmo, não deveria ocupar uma posição de liderança em um estado democrático de direito."
Fonte: Brasil 247
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