Entregadores dormem entre as corridas por aplicativos em SP. Foto: Lincon Zarbietti
A possibilidade de extinguir a jornada de trabalho no modelo 6×1, em que o trabalhador tem um dia de folga a cada seis dias trabalhados, tem ganhado destaque nas discussões nacionais. Uma pesquisa Datafolha realizada nos dias 12 e 13 de dezembro revelou que 49% dos brasileiros acreditam que a medida seria ótima ou boa para a economia, enquanto 24% a consideram ruim ou péssima. Para 22%, o impacto seria regular, e 5% não souberam opinar.
O levantamento entrevistou 2.002 pessoas em 113 municípios do Brasil, abrangendo indivíduos com 16 anos ou mais. Entre os entrevistados, 70% fazem parte da População Economicamente Ativa (PEA), composta por trabalhadores assalariados, autônomos, prestadores de serviços, funcionários públicos e assalariados sem registro.
A pesquisa destacou que 43% dos brasileiros que trabalham dizem ter menos tempo do que gostariam para descanso e lazer, enquanto 47% afirmam que o tempo é suficiente. Apenas 7% dizem ter horas sobrando para si fora do trabalho. A disparidade é ainda maior entre mulheres: 47% delas relatam falta de tempo para pausas, contra 41% dos homens.
A jornada extensa também foi um dos pontos de reclamações. Entre os entrevistados, 31% trabalham de 8 a 12 horas por dia e 6% ultrapassam as 12 horas diárias. A sobrecarga é mais sentida entre assalariados com carteira assinada (52%) do que entre funcionários públicos (33%) e é mais comum nas regiões metropolitanas (49%) do que no interior (39%).
A proposta de reduzir a jornada de trabalho tem apoio significativo. Segundo o levantamento, 72% acreditam que o fim da escala 6×1 melhoraria a qualidade de vida dos trabalhadores, enquanto 64% apoiam mudanças na legislação trabalhista.
No entanto, o impacto sobre as empresas divide opiniões: 42% avaliam que a medida pode ser negativa, 35% a veem como positiva e 19% acreditam que o efeito seria regular.
A iniciativa está sendo debatida na Câmara dos Deputados por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP). A proposta ganhou força após o movimento “Vida Além do Trabalho” viralizar nas redes sociais, trazendo à tona o impacto da carga horária extensa na saúde mental e física dos trabalhadores.
Clemente Ganz Lúcio, sociólogo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), destacou em entrevista à Folha a importância da redução da jornada para a qualidade de vida.
“A intensificação da carga de trabalho só serve para contratarmos uma sociedade adoecida. Reduzir a jornada de trabalho é uma resposta para que a sociedade alcance um contexto de vida melhor”, argumentou.
Fonte: DCM
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