Apresentação encontrada em notebook de Mauro Cid detalha os primeiros passos de uma tentativa de ruptura democrática
Bolsonaro e militares (Foto: REUTERS/Adriano Machado | José Cruz/Agência Brasil)
O relatório final da Polícia Federal (PF) que embasou o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa aponta que o planejamento de Bolsonaro e aliados para uma ruptura institucional no Brasil teve início quase dois anos antes da sua derrota nas eleições de 2022.
Segundo a coluna da jornalista Malu Gaspar, de O Globo, o núcleo da investigação da PF está em uma apresentação de slides encontrada no notebook do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, apreendido durante as investigações.
O arquivo, datado de 22 de março de 2021, descreve em detalhes um golpe de Estado apoiado por táticas militares, incluindo um plano de fuga para o ex-mandatário, caso a investida fracassasse. A apresentação foi criada 20 meses antes das eleições, revelando o caráter premeditado da tentativa de ruptura.
Para a PF, o ex-mandatário, amparado por seus aliados, enfrentou o Judiciário e chegou a ameaçar uma ruptura institucional em setembro de 2021, quando atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) durante a tradicional comemoração do 7 de setembro. O plano de golpe foi escalado após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022, conforme a análise da PF.
O documento encontrado por investigadores detalha três cenários que levariam Bolsonaro a desrespeitar decisões judiciais e avançar para uma ruptura democrática. As possíveis causas de tal ação incluíam a intervenção do STF sobre o Executivo, a cassação de sua chapa à reeleição ou o veto do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à implementação do voto impresso. Embora o projeto tenha sido derrotado na Câmara dos Deputados, a ameaça de confronto com o Judiciário seguiu se intensificando.
O relatório da PF descreve com clareza as intenções golpistas, com o uso de "técnicas militares" para garantir a fuga de Bolsonaro, caso as ações fracassassem. As investigações também revelam os preparativos para manifestações violentas em Brasília e São Paulo, como o apoio de figuras como o cantor e ex-deputado Sérgio Reis e o caminhoneiro Zé Trovão, que incitaram os bolsonaristas a invadir o STF.
No dia 7 de setembro de 2021, Bolsonaro foi enfático, afirmando: “Ou o chefe desse Poder [Luiz Fux] enquadra o seu, ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”.
Durante o evento, o então presidente ainda ameaçou não aceitar o resultado das eleições sem a implementação do voto impresso. Além disso, anunciou a convocação do Conselho da República, que poderia declarar um estado de defesa ou de sítio, embora o colegiado não tenha sido formalmente acionado.
A PF ainda revelou que, caso o golpe não fosse bem-sucedido, o planejamento incluía a "exfiltração" de Bolsonaro, ou seja, sua retirada clandestina do país. Isso ocorreu, de fato, em 2022, quando Bolsonaro viajou para os Estados Unidos após perder as eleições, evitando uma possível prisão e aguardando o desfecho da crise política que culminaria com os ataques terroristas de 8 de janeiro de 2023.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo
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