Aumento das tarifas nos EUA deve atingir setores cruciais da economia brasileira e intensificar efeitos negativos no comércio global
A volta de Donald Trump ao governo dos Estados Unidos traz perspectivas preocupantes para o Brasil e outros países exportadores, segundo analistas ouvidos pela Folha de S. Paulo. Eles apontam que, caso Trump cumpra suas promessas de campanha, o novo governo republicano reforçará políticas protecionistas, com aumento de tarifas sobre produtos importados, cortes de impostos e outras medidas que podem afetar diretamente o comércio exterior brasileiro, especialmente em setores como agronegócio, biocombustíveis e produtos de ferro e aço.
Uma das promessas mais destacadas de Trump é a elevação de tarifas entre 10% e 20% para todas as importações, incluindo as de países aliados, e até 60% para produtos chineses. Para o Brasil, que fechou 2023 com uma balança comercial deficitária com os EUA, os impactos podem ser relevantes. Segundo dados oficiais, as exportações brasileiras para o mercado americano somaram US$ 36,9 bilhões, enquanto as importações totalizaram US$ 38 bilhões, uma relação que pode se agravar com o aumento das tarifas.
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, observa que setores como aço, alumínio e cobre já sofrem com medidas antidumping americanas, mas novos aumentos tarifários podem se estender a outras áreas estratégicas. “Aço, alumínio e cobre brasileiros já estão sendo afetados, e temos uma exportação importante de autopeças e partes de equipamentos, principalmente de multinacionais americanas instaladas no Brasil”, comenta.
Outro ponto que preocupa os analistas é a possível desaceleração da economia chinesa diante das tarifas americanas. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), alerta que uma redução no comércio entre China e Estados Unidos pode prejudicar o Brasil indiretamente, já que a China é um dos maiores compradores de commodities brasileiras. “A situação afeta a maioria dos países, inclusive o Brasil, que depende da exportação de commodities para os chineses”, pontua Castro.
As tarifas protecionistas dos EUA também podem criar uma dinâmica em que produtos asiáticos busquem mercados alternativos. Segundo Marcos Lélis, especialista da Unisinos, “os produtos asiáticos inundando outros mercados de forma predatória já é um problema para o Brasil, especialmente na América do Sul e Central, mercados ocupados pela China”.
Além das implicações comerciais, o retorno de Trump pode intensificar tensões econômicas internas nos Estados Unidos. Segundo o professor Márcio Garcia, da PUC-Rio, a expansão fiscal proposta por Trump, com cortes de impostos para os mais ricos, pode agravar o déficit público e levar a um aumento na dívida. “A confiança nos títulos do Tesouro americano depende da ordem fiscal. Podemos ver os títulos sendo vistos como arriscados”, explica Garcia, ressaltando que isso também geraria pressão inflacionária no mercado interno dos EUA.
Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo
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