sexta-feira, 29 de novembro de 2024

"Os ricos pagam menos do que os pobres": Belluzzo analisa o poder dos mercados financeiros e os desafios do governo Lula

Economista alerta para a influência desproporcional dos mercados financeiros no Brasil e suas implicações políticas e econômicas

(Foto: EBC)

 Em entrevista ao programa Boa Noite 247, transmitido pela TV 247, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo expôs uma análise contundente sobre o cenário econômico brasileiro, enfatizando o poder dos mercados financeiros e seus impactos na governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante o diálogo, Belluzzo abordou questões centrais relacionadas à política econômica atual, o papel do mercado financeiro e os desafios que o governo enfrenta para implementar suas reformas.

Belluzzo destacou que os mercados financeiros não atuam apenas como uma instância técnica, mas como um espaço de poder. "O que estamos observando é o exercício de poder dos mercados financeiros, e isso frequentemente escapa das considerações de muitos economistas e analistas políticos. Eles imaginam que o mercado é uma instância técnica do capitalismo, mas não é; é uma instância de poder", afirmou.

◉ Poder dos mercados e sabotagem programática

O economista enfatizou que há uma movimentação orquestrada para inviabilizar o governo Lula por meio de pressões econômicas e políticas, sem repetir o modelo de impeachment que marcou a deposição de Dilma Rousseff. “O principal objetivo é inviabilizar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso se traduz em um exercício conjunto dos protagonistas mais conservadores, que não suportam o governo do metalúrgico”, declarou Belluzzo, referindo-se à confluência de interesses entre o mercado financeiro, a oposição extremista no Congresso e outras forças conservadoras.

Ao comentar sobre a desvalorização do real e a inclinação da curva longa de juros após anúncios do governo, Belluzzo apontou que esses movimentos refletem o que chamou de “terrorismo financeiro”. Ele sugeriu que, em parte, as dificuldades enfrentadas pelo governo para aprovar medidas no Congresso estão ligadas ao lobby do mercado financeiro. "A influência do mercado financeiro no Congresso é muito grande, e isso vai ter peso na discussão dos projetos", explicou.

◉ Reformas e regressividade fiscal

Um dos pontos críticos levantados por Belluzzo foi o sistema fiscal brasileiro, que, segundo ele, permanece altamente regressivo. "Os ricos pagam muito menos do que os remediados ou os pobres. Quando o Haddad anunciou a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, já houve uma celeuma danada, como se isso fosse inviabilizar o ajuste fiscal", ironizou.

Ele também destacou as desonerações fiscais e os favores concedidos a grandes empresas como um problema estrutural. "Há anos, um grupo enorme de empresas recebe o benefício de não pagar impostos como todos nós. Isso é uma das grandes distorções que precisam ser corrigidas", apontou, criticando o foco exclusivo no corte de benefícios sociais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

◉ A meta de inflação e a política de juros

Outro tema abordado foi a política de metas de inflação e sua relação com a taxa de juros. Belluzzo relembrou a carta enviada ao Conselho Monetário Nacional (CMN) por ele e outros economistas, sugerindo a elevação da meta de inflação de 3% para 4% como forma de ajustar a política monetária às condições econômicas reais. "A meta de inflação está completamente dissociada da realidade. O único instrumento considerado é a taxa de juros, ignorando as implicações dos choques de oferta e outras variáveis estruturais", argumentou.

◉ Propostas para estabilização

Belluzzo também sugeriu alternativas para enfrentar a volatilidade cambial e proteger a economia. Ele destacou o uso de swaps cambiais para conter a especulação e a necessidade de um fundo de estabilização do petróleo. "Sem esses instrumentos, a economia brasileira continua vulnerável aos movimentos abruptos dos mercados internacionais, prejudicando tanto os produtores quanto os consumidores", alertou. 
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Fonte: Brasil 247

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