“Não dá para sair à noite”, relata uma imigrante brasileira
Ex-presidente dos EUA, Donald Trump 31/05/2024 REUTERS/Andrew Kelly (Foto: Reuters)
Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos estão vivendo um ambiente de tensão após a eleição de Donald Trump para a presidência do país, informa uma reportagem do jornal O Globo. Trump prometeu promover uma deportação em massa em seu segundo mandato na Casa Branca, o que faz com que os quase 2 milhões de brasileiros que vivem nos EUA sintam o clima de instabilidade.
Cerca de 232 mil brasileiros estão em situação ilegal no país. O número coloca o Brasil como o 8º país com mais imigrantes sem documentos em território americano, segundo um balanço do Departamento de Segurança Interna de 2023. Entre outubro de 2019 e setembro deste ano, 162 mil brasileiros foram flagrados tentando cruzar a fronteira México-EUA, a 12ª nacionalidade mais apreendida. De acordo com o Itamaraty, os EUA são o principal destino de expatriados, com Nova York, Boston e Miami.
É o caso da mineira Lucimara Rodrigues, que cruzou a fronteira entre México e Estados Unidos, há 21 anos,quando a questão migratória ainda não era o campo minado de hoje. Chegando sozinha e com sonhos de prosperar, ela se estabeleceu em Boston, teve dois filhos e abriu seu próprio negócio, após deixar o trabalho como empregada doméstica. Mas mesmo com a vida que construiu, Lucimara nunca conseguiu regularizar seu status imigratório.
Ela relata que sentiu a insegurança durante o primeiro mandato de Trump e teme que volte a sofrer com as hostilidades. “No primeiro governo Trump, eu tinha medo de ser deportada porque ele colocava blitz de agentes da Imigração nas ruas. Não dá para sair à noite. Você vive com medo de que seus vizinhos chamem a Imigração para pegar você”, relatou Lucimara ao Globo.
Elen Silva (nome fictício), que chegou aos EUA em 2018 com o marido e a filha, reforça o temor de Lucimara. Hoje, ela trabalha numa ONG que acolhe imigrantes em Boston e destaca a possibilidade de novas ordens executivas. “O que mais preocupa são as ordens de Trump, que no primeiro mandato limitaram o acesso de migrantes a direitos básicos”, afirmou Elen. “Ele tira os direitos dos imigrantes, e quando o imigrante precisa pedir auxílio ao governo, isso acaba diminuindo as chances de conseguir o green card depois.”
Com os republicanos controlando o Senado e uma maioria conservadora na Suprema Corte, as mudanças de Trump podem ser amplas. Tanto Elen quanto Lucimara temem que policiais locais possam passar a abordar imigrantes e denunciá-los, o que atualmente é proibido. O advogado Gustavo Nicolau alerta para a influência que uma retórica anti-imigração exerce no sistema, “contaminando o Judiciário de cima para baixo”. “Hoje, um imigrante irregular geralmente só tem um processo de deportação se tiver um registro criminal. Mas Trump pode reduzir o limite de gravidade para esses casos”, explica Nicolau.
Fuga de cérebros - Apesar da retórica dura, Nicolau destaca que Trump propôs, em seu primeiro mandato, aumentar os green cards para imigrantes qualificados. Agora, espera-se que seu governo estimule a fuga de cérebros de outros países, reduzindo vistos baseados em laços familiares e focando em mão de obra especializada.
“A promessa de deportar todos é bravata. O governo americano sabe que precisa de imigrantes qualificados para competir com países como China e Rússia”, concluiu Nicolau.
Fonte: Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário