Pesquisadora analisa inédita investigação sobre alta cúpula militar e detalha planos concretos de golpe contra a democracia
(Foto: Divulgação | ABR )
Em entrevista ao programa Brasil Agora, Ana Penido, pesquisadora do Grupo de Estudos em Defesa e Segurança Internacional (Gedes – Unicamp) e do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, analisou os desdobramentos das investigações da Polícia Federal envolvendo militares de alta patente na tentativa de golpe contra a democracia no Brasil. A especialista em ciência política destacou a relevância histórica da denúncia e os impactos sobre a percepção pública das Forças Armadas.
Penido afirmou que o cenário atual traz dois aspectos inéditos. “A primeira, sem dúvida, é o tamanho dessa denúncia. Ela envolve as altas patentes. [...] Normalmente, todo mundo imagina que tudo que acontece no meio militar acaba em pizza. E isso não é verdade. [...] Isso só é regra quando as intervenções são à direita e protagonizadas por altas patentes. E isso, sim, é uma novidade nesse momento histórico.” Ela ressaltou ainda que, pela primeira vez, há a possibilidade de julgamentos concretos envolvendo oficiais de alta patente. “A possibilidade sequer disso vir a julgamento é inédita.”
A pesquisadora também enfatizou a concretude dos planos golpistas. “Os planos que foram divulgados têm uma dimensão tático-operacional que surpreende. [...] Tinha um grupo de militares que chegou a levantar até qual que é o armamento que era necessário, como é que eles iam matar o Lula [...] Dá um grau de concretude, de materialidade que muda a discussão.”
Ana Penido destacou a complexidade da percepção pública sobre as Forças Armadas e as razões para sua boa avaliação histórica. “As pessoas, de forma geral, avaliam positivamente as Forças Armadas não é porque são militares. É porque eles cumprem funções que são atribuídas a outras agências governamentais [...] Isso não é culpa deles, isso é um problema nosso, do poder político civil.”
Sobre os possíveis danos à imagem das Forças Armadas, ela apontou: “Não acho que os últimos eventos vão desgastar a imagem da instituição como um todo. [...] A instituição pode conseguir ser hábil no sentido de mostrar, inclusive, que eram as maçãs podres.”
Penido ressaltou a importância de punir os envolvidos, mas diferenciou responsabilidades individuais e institucionais. “Por que em uma dimensão você tem a punição do CPF, que é o judiciário [...] Mas tem uma outra dimensão, que é a dimensão do CNPJ, que é a instituição militar mesmo, ver como ela se organiza e por que dentro dela esse tipo de segmento floresceu.”
A pesquisadora concluiu destacando o papel do governo na gestão das consequências institucionais. “O que a gente precisa ver é o CPF responder. O CNPJ depende da vontade do governo.” Assista:
Fonte: Brasil 247
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