domingo, 3 de novembro de 2024

“A classe média votou contra nós”, diz preferido de Lula para suceder Gleisi no PT


Edinho Silva ( PT ): o prefeito de Araraquara (SP) é o favorito de Lula para suceder Gleisi na presidência do PT- Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

Edinho Silva (PT-SP), prefeito de Araraquara (SP), é tido como o nome preferido de Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a presidência do PT no próximo ano. Neste domingo (3), o político concedeu entrevista à jornalista Malu Gaspar, publicada em O Globo. Confira trechos:

Você está cotado para a presidência do PT e a grande polêmica no partido hoje é se o PT foi bem ou mal nas eleições. A Gleisi Hoffmann contabiliza vitórias, enquanto o ministro Alexandre Padilha diz que o PT precisa fazer uma avaliação profunda do que aconteceu, porque ainda não saiu da zona do rebaixamento. De que lado você está?

Primeiro eu quero deixar claro que eu nunca fui candidato, o que na verdade existe são conversas. Tivemos uma eleição muito difícil, numa conjuntura muito adversa para o campo progressista e democrático. Há um crescimento da direita que não é novo e se dá no mundo inteiro, desde a crise de 2008. No Brasil, ela ganhou força com as manifestações de junho de 2013, que mudaram a correlação de forças. É uma direita que se mobiliza nas ruas e nas redes, com grande capacidade de organização, que dá visibilidade a lideranças que investem no sentimento antissistema. Pessoas que acreditam que o estado não é capaz de mudar as coisas, que colocam a política em descrédito e geram uma grave crise na nossa democracia. (…)

Um dos recados da eleição não é de insatisfação com o governo Lula?

Seria errado jogar essa responsabilidade sobre o governo. E não estou minimizando não. Só que é maior que o governo, é essa classe média que engrossa o discurso antissistema. A situação que o presidente Lula assume, com o rombo fiscal, não deu a celeridade que poderia ter dado às políticas públicas. A classe média que votou em nós em 2022 queria uma resposta mais rápida. Agora, uma parte dessa resposta não depende só do Lula, depende do crescimento da economia.

Uma tese forte no PT é a de que as dificuldades que a esquerda teve nessa eleição derivam do fato de o governo ser de coalizão. Você concorda? Ser de frente ampla atrapalhou o PT?

Olha, até agora eu estava me vigiando para não gerar polêmica. Mas é um erro absurdo avaliar isso. Se a gente não tivesse uma política de alianças ampla, em 2022, o presidente Lula não ganhava.Foi a eleição mais polarizada da história do Brasil. (…)

Então você concorda que foi um erro lançar o Boulos em São Paulo, já que ele não agregou uma frente ampla? Jilmar Tatto e Quaquá fizeram essa crítica. Os partidos da frente ampla do Lula estavam na base do Nunes.

Não, foi um acerto lançar o Boulos. Nessa nova geração, ele talvez seja a maior liderança da esquerda. E o Boulos não ganhou São Paulo porque a reeleição está institucionalizada. Em raras situações o prefeito sentado na cadeira não foi reeleito. A sociedade está conservadora. Claro que há fatores locais que explicam vitórias e derrotas. Mas, no geral, o eleitor pensa: entre um governo mais ou menos e um candidato que eu desconheço, deixa esse que tá aí. Além disso, é só a gente olhar o mapa eleitoral de São Paulo, a classe média popular votou contra nós. Foi só em São Paulo? Não, foi no Brasil inteiro. Nós quase perdemos Fortaleza. Eu não tenho nenhuma dúvida que nós vamos ter que fazer uma reforma política eleitoral.

Em que termos? O que ela vai ter que conter?

O voto em lista, por exemplo. A gente não pode permitir que esse ambiente antissistema crie figuras maiores que as instituições. (…)

Uma crítica comum ao presidente Lula é que ele não entende que ganhou a eleição mais contra o Bolsonaro do que por ele mesmo. Dizem que ele está isolado no palácio, não tem ouvido as pessoas.


Ninguém tem mais sensibilidade em relação à sociedade brasileira do que o presidente Lula. Ele interpretou essas eleições mais do que todos nós, e neste momento que estamos falando aqui certamente a cabeça dele está construindo respostas. Agora, quem votou nele em 2022 está com a porta aberta. É a gente chegar e chamar para conversar. Nosso problema é quem não votou nele, romper com esse ambiente da polarização. Esse é um grande desafio. (…)

Fonte: DCM

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