A medida gerou uma onda de cancelamentos de assinaturas e provocou renúncias entre colunistas e integrantes do conselho editorial
O Washington Post está passando por uma crise após a decisão de Jeff Bezos, proprietário do jornal e fundador da Amazon, de impedir um apoio editorial à candidatura de Kamala Harris à presidência dos Estados Unidos, conforme reportado pelo NPR. A medida gerou uma onda de cancelamentos de assinaturas e provocou renúncias entre colunistas e integrantes do conselho editorial.
De acordo com fontes internas, mais de 200 mil assinantes digitais cancelaram suas assinaturas até o meio-dia de segunda-feira. Esse número representa cerca de 8% da base total de assinantes do jornal, que conta com cerca de 2,5 milhões de leitores, incluindo assinantes impressos. O número de cancelamentos continuou crescendo ao longo do dia, mas a administração do Post se absteve de comentar."É um número colossal," afirmou Marcus Brauchli, ex-editor-executivo do Post, em entrevista à NPR. Segundo Brauchli, o problema central é a falta de transparência: “As pessoas sabem que a decisão foi tomada, mas não entendem por quê.” Will Lewis, atual diretor-executivo e publisher do jornal, explicou que a decisão de não endossar candidatos presidenciais visava restaurar uma postura "independente" ao Post. No entanto, o momento escolhido – poucos dias antes da eleição entre Harris e Donald Trump – levantou questionamentos na redação e entre antigos editores.
Marty Baron, também ex-editor-executivo, compartilhou dessa preocupação: "Se essa decisão tivesse sido tomada há três anos, dois anos, talvez até um ano, seria mais aceitável. Mas foi tomada poucas semanas antes da eleição, sem qualquer deliberação formal com o conselho editorial,” declarou ele à NPR.
Bezos, respondendo à controvérsia, escreveu uma coluna no próprio Post para esclarecer que o momento foi resultado de “um planejamento inadequado e não de uma estratégia intencional.” Ele justificou a medida como uma tentativa de evitar qualquer "percepção de parcialidade."As reações foram intensas. Familiares de alguns jornalistas do jornal cancelaram assinaturas em protesto, e colunistas como Molly Roberts anunciaram sua saída. Em sua declaração de despedida, Roberts expressou preocupação: "Quanto mais silenciosos ficamos, mais perto ele [Trump] chega." David Hoffman, jornalista vencedor do Pulitzer, descreveu os editoriais do Post como “um farol de esperança” para os que enfrentam repressão, acrescentando que vê a candidatura de Trump como uma ameaça real à democracia. “Acredito que perdemos nossa voz,” escreveu Hoffman ao renunciar ao conselho editorial.
O momento da decisão de Bezos gerou especulação, intensificada por um encontro entre executivos da Blue Origin – sua empresa aeroespacial – e Trump, ocorrido logo após a decisão ser anunciada. A Blue Origin possui contratos bilionários com a NASA, e a Amazon já havia processado o governo alegando que a administração Trump bloqueou contratos com o Pentágono em retaliação à cobertura crítica do Post.
Bezos abordou essas suspeitas diretamente, negando qualquer interferência de outros interesses comerciais e afirmando que não estava ciente do encontro entre a Blue Origin e Trump. “Suspiro ao saber disso, pois sabia que seria usado para distorcer a situação,” escreveu ele. Apesar das complexidades envolvendo seus negócios, ele reafirmou que sua gestão do Post desde 2013 sempre foi pautada em princípios.
Fonte: Brasil 247 com NPR
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