Segundo ele, “o mundo pós-pandemia está muito mais endividado”, com obstáculos fiscais significativos
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou na Lide Brazil Conference, em Londres, nesta terça-feira, os desafios econômicos enfrentados pelo Brasil e pelo mundo no cenário pós-pandêmico. Segundo ele, “o mundo pós-pandemia está muito mais endividado”, com obstáculos fiscais significativos, desinflação em curso, mas ainda com pressão inflacionária em serviços. Campos Neto explicou que, enquanto os preços de bens apresentam baixa inflação, o setor de serviços continua pressionado, algo que precisa ser ajustado.
Ao analisar o contexto dos Estados Unidos, Campos Neto pontuou que os “pilares do debate econômico são inflacionários”, com políticas expansionistas e protecionistas em pauta, o que pode impulsionar ainda mais os preços. Além disso, observou que o discurso contrário à imigração nos EUA tem o potencial de elevar os custos de mão de obra, uma situação que pode se traduzir em pressões inflacionárias adicionais.
Para Campos Neto, o cenário global está ainda mais complexo devido aos “maiores riscos geopolíticos”, com uma divisão entre blocos econômicos cada vez mais evidente desde a invasão da Ucrânia. “O Brasil é hoje um dos poucos países do mundo com indicações de alta na taxa de juros”, ressaltou, contrastando o contexto interno com a realidade de outros países.
Na análise sobre a situação fiscal, o presidente do Banco Central lembrou que os países ricos chegaram a gastar cerca de 22% do PIB durante a pandemia, enquanto os países emergentes, como o Brasil, despenderam cerca de 10%. Segundo ele, a produtividade está em queda em várias regiões, inclusive no Brasil, onde a inflação converge para a meta, mas a mão de obra está “muito apertada” e as expectativas de inflação seguem desancoradas, o que, segundo ele, preocupa a instituição.
Campos Neto ressaltou ainda que, no Brasil, toda tentativa bem-sucedida de reduzir juros esteve associada a “choques fiscais positivos”, reforçando a necessidade de um compromisso claro com o ajuste fiscal para que o mercado perceba que o cenário econômico poderá melhorar. “É muito difícil trabalhar com juros menores sem a percepção pelo mercado de que o fiscal irá melhorar”, concluiu.
Fonte: Brasil 247
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