sábado, 12 de outubro de 2024

Prefeita mais votada no Brasil diz que PT precisa rever estratégia política e Lula deve reforçar diálogo

Eleita em Contagem (MG) pela quarta vez, a prefeita Marília Campos (PT) conquista votos até de bolsonaristas. Foto: Alexandre Rezende/Folhapress

A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), reeleita no primeiro turno com 61% dos votos válidos, afirma que o Partido dos Trabalhadores precisa revisar sua estratégia política, afastando-se da polarização e de discursos focados em questões identitárias. Com uma aliança que envolveu 13 partidos, ela conquistou 188.228 eleitores e garantiu o quarto mandato à frente da maior cidade comandada pelo PT no Brasil, com 620 mil habitantes.

“Eu conquistei parte do eleitorado que se diz de direita, que votou no Bolsonaro, mas que preferiu fazer uma escolha pautada pela diferença que o nosso governo fez na vida delas”, destacou Marília em entrevista à Folha de S.Paulo.

Durante a disputa eleitoral, o principal adversário de Marília foi o deputado federal Junio Amaral (PL), que contou com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e outras lideranças da direita. Mesmo com o engajamento do inelegível, ele obteve 39% dos votos, enquanto Marília venceu em todas as zonas eleitorais de Contagem, incluindo regiões que haviam dado vitória a Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022.

Marília defende que o PT precisa se adaptar ao cenário atual, afastando-se de discussões que, segundo ela, não agregam ao projeto político do partido. “O PT deve repensar sua estratégia política, seu discurso, que ainda continua muito focado na polarização”, afirmou.

Marília Campos, prefeita de Contagem (MG), e o presidente Lula. Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Ela também critica a ênfase em temas identitários, que, em sua visão, não contribuem para o sucesso eleitoral: “O que mais vejo são os parlamentares focados ou em questões essencialmente identitárias, que não somam num projeto de disputa política”.

A prefeita destacou que sua gestão se diferencia por realizar um governo focado no diálogo com diferentes setores da sociedade, o que a ajudou a conquistar eleitores de diversas orientações políticas. Ela reforça que evitou replicar o clima polarizado que domina a política nacional em sua campanha municipal.

Comentando sobre o desempenho do PT em Belo Horizonte, onde o partido teve uma participação discreta na eleição, Marília opina que a legenda deveria ter apoiado a reeleição do atual prefeito, Fuad Noman (PSD), no primeiro turno.

“Um candidato ou candidata à prefeitura tem que, em primeiro lugar, ter perfil, um discurso municipalista, conhecer bem a cidade e disputar um projeto de cidade”, declarou, sugerindo que o partido não cumpriu esses requisitos na capital mineira.

Sobre sua relação com o presidente Lula (PT), Marília afirma que não convidou o mandatário para sua campanha, mas ressalta a importância de um diálogo mais próximo entre o presidente e a população. “Eu acho que falta diálogo, dos ministros e também do presidente. Eu queria o Lula mais perto”, disse, sugerindo que o presidente precisa estar mais presente nas diferentes regiões do país para ouvir as demandas da população.

Quanto ao futuro político, Marília é frequentemente mencionada como um possível nome para compor a chapa do PSD nas eleições para o governo de Minas Gerais em 2026, como vice do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. No entanto, a prefeita afirma que não cogita deixar o cargo.

“Nós temos que ter um projeto de recuperação para Minas Gerais, com alguém representativo, com capacidade de diálogo. E que seja ousado para lutar para que Minas saia desse estrangulamento”, afirmou, referindo-se à crise financeira do estado.

A gestão de Fernando Pimentel (PT) como governador de Minas Gerais (2015-2018) deixou marcas negativas para o partido no estado, especialmente pela crise financeira que resultou no atraso de salários de servidores e repasses para municípios. Marília critica a falta de clareza na comunicação de Pimentel sobre a renegociação da dívida estadual.

“Ele entrou com uma ação para suspender o pagamento da dívida e só se beneficiou por dois meses. A pergunta é: por que o Pimentel não tornou isso claro desde o primeiro dia do governo?”, questiona a prefeita.

Fonte: DCM

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