Márcia Huçulak na Assembleia. Foto: Orlando Kissner
A deputada Márcia Huçulak (PSD) usou a tribuna da Assembleia Legislativa nesta segunda-feira para rebater declarações da candidata do PMB à prefeitura de Curitiba, Cristina Graeml, a respeito do enfrentamento à pandemia de covid-19 na cidade.
Márcia Huçulak, que foi secretária municipal da Saúde no período agudo da doença e organizou não só o atendimento aos infectados como também a posterior campanha de vacinação, reagiu a uma entrevista dada na semana passada pela candidata ao colunista Ogier Buchi.
Na entrevista, Cristina Graeml critica o trabalho de Márcia Huçulak. A deputada não deixou barato: “Ela promove desinformação deliberadamente, fiel ao que faz de melhor: destilar mentiras e incitar o ódio”.
Veja a seguir a íntegra da manifestação de Márcia Huçulak sobre a entrevista de Cristina Graeml:
“Subo a esta tribuna hoje com um sentimento de indignação, mas também com o senso de responsabilidade, especialmente quando o assunto é saúde pública. Na semana passada, fui alvo de infâmia vinda da candidata negacionista. De forma totalmente raivosa, como lhe é peculiar, a candidata atribuiu a mim e à atual gestão do município, ‘os piores anos vividos por Curitiba’, em decorrência da pandemia de covid-19. Toda vez que eu for atacada com mentiras, vou responder neste espaço, que é o legítimo lugar de fala dos parlamentares.
É lamentável que um tema que teve um tratamento de excelência em nossa capital seja alvo de uma provocação tão rasteira, mentirosa e irresponsável. A pandemia representou a maior crise sanitária do planeta em cem anos de história. A pior. Para toda a humanidade.
Não foi só Curitiba que sofreu; o mundo inteiro sofreu.Todos hão de se lembrar das imagens de cidades ao redor do planeta, com corpos empilhados em caminhões frigoríficos, hospitais abarrotados, mortes em profusão. Insegurança geral.
As sucessivas declarações da candidata irada, demonstram claramente seu total desconhecimento sobre questões básicas de saúde pública. Ela promove desinformação deliberadamente, fiel ao que faz de melhor: destilar mentiras e incitar o ódio. Esconde sua ignorância tentando transformar gestão de saúde em rixa ideológica.
É de um primarismo assustador: ‘médicos de direita’ versus ‘médicos de esquerda’. Cada um de nós tem suas inclinações políticas, e isso é normal numa democracia. Mas vamos respeitar o mais elementar bom senso. Epidemiologia não tem bandeira. O comportamento dos vírus não respeita ideologia. Ideologia não coloca remédio na prateleira das unidades de saúde, tampouco promove a melhoria do cuidado das pessoas.
Com a irresponsabilidade, o negacionismo e o radicalismo que movem sua postura política, a candidata anunciou para a Secretaria de Saúde de Curitiba, caso seja eleita, uma pessoa conhecida como “Doutora Cloroquina”, que se notabilizou durante a pandemia por trabalhar contra medidas sanitárias básicas, estimulando o uso de medicações comprovadamente ineficazes, além de dizer em vídeo compartilhado que as vacinas causavam doenças autoimunes e que a variante ômicron não resultou em nenhuma morte, o que é mais uma mentira deslavada.
A figura, portanto, se empenhou em iludir as pessoas, causando-lhes sofrimento ou mesmo morte com a mentira de estar tratando a covid-19. Eu tive, sim, a responsabilidade de coordenar todo o trabalho de combate à pandemia na nossa capital, sob a liderança do prefeito Rafael Greca e do vice Eduardo Pimentel. Com base na ciência e na gestão – com profissionais muito bem formados e qualificados – construímos ao longo dos anos o melhor sistema de saúde pública das capitais do Brasil. E não sou eu que digo isso, todos os ministros da saúde do governo anterior e a atual equipe do MS (Ministério da Saúde) e da OPAS reconhecem que o SUS de Curitiba é dos melhores. Esse sistema que foi fundamental durante a pandemia de covid-19.
Nosso planejamento e as ações que implantamos foram referência para muitas cidades e resultaram no melhor desempenho no enfrentamento na pandemia. Tivemos a menor taxa de letalidade – o menor número de óbitos, entre as capitais. A famosa doutora Cloroquina que a candidata cita como uma sumidade em saúde, na cidade onde foi secretária, por 10 meses em 2021, teve percentualmente mais óbitos que Curitiba, relativos aos casos graves. Em todas as faixas etárias.
Vou citar alguns exemplos: Em Curitiba, na faixa etária de 50 a 59 anos, o percentual de óbitos foi de 28%; em Porto Seguro, sob o comando da dra Cloroquina, foi de 40%. Na faixa etária de 80 anos e mais, em Curitiba, 59%; em Porto Seguro, 71%. Na média, Porto Seguro, uma cidade ao Sul da Bahia, com 160 mil habitantes, não chega a 10% da população de Curitiba, teve um percentual de óbitos maior que Curitiba.
Ora, poupem a minha Inteligência. Remédio para piolho não mata o vírus da covid. Remédio para malária não mata o vírus da covid. Se assim fosse, Manaus não sucumbiria e teria a maior número de mortes por covid no país, 4 vezes o número de Curitiba. Lá a cloroquina é usada frequentemente por conta do controle da malária.
A solução veio pela vacina, pela ciência que o mundo tem à disposição e à qual a Doutora Cloroquina e sua candidata também se opõe. Me sinto com o coração sereno e com a sensação de dever cumprido. Curitiba poderia ter tido até o dobro ou o triplo dos quase 9 mil óbitos registrados por covid. Fizemos um trabalho sério, num cenário de muitas incertezas, procurando sempre equilibrar as decisões priorizando as vidas humanas.
Como me disse o prefeito Rafael Greca num dos momentos mais graves da pandemia:
— “Márcia, você se preparou 30 anos para este momento. Vamos superá-lo”.
De fato, sou formada na PUC, tenho especialização em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz, uma das melhores instituições do país na área, Fiz meu mestrado em Planejamento e Finaciamento em Saúde na Universidade de Londres, na Inglaterra. Atuei em cargos de gestão na saúde, não só no município de Curitiba, no Estado e em Brasília. Concluí minha carreira como gestora pública reconhecida pela minha dedicação e eficiência na gestão da saúde. Todos sabem como cheguei aqui, como a deputada mais votada em Curitiba, reconhecimento do meu trabalho em prol da vida e das pessoas.
Fico imaginando se a pandemia tivesse ocorrido sob uma eventual administração da candidata jornalista e da dra Cloroquina. Seriam pelo menos 30 mil curitibanos e curitibanas com suas vidas ceifadas pela ideologia e pela ignorância. Não tenham dúvida disso! Que gestor público minimamente consciente de suas responsabilidades pode defender — mesmo que por ignorância — tantas mortes evitáveis para se promover ideologicamente?
E preciso dizer ainda, que inteligência artificial nenhuma dá conta de atender com eficiência uma população de quase 1 milhão e 800 mil, numa estrutura complexa, com 109 unidades de saúde, 9 UPAs, laboratório de exames clínicos, quase 20 hospitais entre públicos e filantrópicos, SAMU que atende 1.200 pessoas por dia. Juntos, todos os nossos serviços de saúde do SUS atendem 66 mil pessoas por dia. Vou repetir – 66 mil pessoas por dia, que é mais que toda a população de 369 municípios do Paraná. Inteligência artificial não pode estar a serviço da negligência política de quem quer se mostrar uma coisa que não é.
O discurso que se envereda para o mundo da opinião, porta-voz de extremismos e não raro de fake-news – só demonstra o interesse que hoje está muito em voga: causar, lacrar e promover polarização e radicalismo, que em nada ajudam o povo. Quem perde com isso é toda a população. Não podemos nos render ao pântano do negacionismo e das mentiras, que nos remete a um mundo onde vidas acabam pela simples ignorância dos problemas reais das pessoas”.
Fonte: Bem Paraná
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