“Dos mais de 100 pontos levantados no documento, aparece pela primeira vez uma menção à importância das estatísticas para o BRICS", disse Márcio Pochmann
Após a cúpula dos chefes de Estado do BRICS em Kazan, na Rússia, na semana passada, dirigentes de órgãos de estatísticas de nove países-membros se reuniram para discutir o papel da produção de dados no desenvolvimento das nações. Nesta linha, o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Márcio Pochmann, destacou à Sputnik Brasil que a reunião representou uma nova perspectiva para as estatísticas que refletem a realidade do Sul Global.
Pochmann afirmou que, embora reuniões similares já ocorressem desde 2016, este foi o primeiro encontro com a participação de dez países, resultado da expansão inédita do grupo que, a partir deste ano, passou a incluir Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã. O dirigente brasileiro destacou que, no documento final da cúpula, pela primeira vez foi reconhecida a importância das estatísticas para os países do BRICS, o que indica um avanço significativo na valorização dos institutos nacionais de estatística.
“Dos mais de 100 pontos levantados no documento, aparece pela primeira vez uma menção à importância das estatísticas para o BRICS. Essa manifestação dos chefes de Estado culminou em um reconhecimento do protagonismo dos institutos nacionais na construção de uma perspectiva que mostre a realidade do BRICS e, por consequência, do Sul Global”, declarou Pochmann.
Historicamente, os congressos internacionais de estatística foram dominados por uma visão eurocentrista, refletindo as preocupações do Norte Global. No entanto, o presidente do IBGE observa que este encontro abre uma nova era de reflexão sobre as estatísticas, com foco na harmonização de dados que aborde as realidades do Sul Global, que hoje representa mais de 70% do desempenho econômico recente.
O encontro também revelou uma convergência entre os novos membros do BRICS em relação à necessidade de modernização das estatísticas. Pochmann enfatizou a importância da formação profissional dos líderes das instituições, preparando-os para se conectarem às inovações da era digital. Além disso, foi criado um portal conjunto para consolidar informações sobre a evolução da população, desemprego e PIB.
O Brasil, que deve liderar o próximo encontro, pretende discutir indicadores econômicos, sociais e ambientais com foco na realidade sul-americana. Pochmann mencionou a relevância de aprimorar as estatísticas relacionadas a pessoas em situação de rua e a economia dos cuidados, considerando o impacto do trabalho remoto e o envelhecimento da população.
No tocante à soberania de dados, Pochmann observou as diferenças entre os países do BRICS. Enquanto países como Rússia, Irã e China já avançaram em mecanismos de controle, Brasil e África do Sul ainda não possuem tais estruturas. Essa disparidade abre oportunidades para uma maior cooperação entre as nações.
"O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem destacado a importância da unificação dos bancos de dados. A liderança do Brasil nesse contexto deve oferecer condições melhores para abordar questões de soberania e a maneira como esses dados impactam cada país de forma diferenciada", ressaltou.
Além do BRICS, o Brasil tem sido ativo nas discussões dentro do G20, onde assume a liderança rotativa este ano. O próximo encontro dos dirigentes de estatísticas contará com o apoio do UNICEF para analisar o uso da Internet por crianças e adolescentes e seu impacto no desempenho educacional.
Fonte: Brasil 247 com informações da agência Sputnik Brasil
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