Professor explica como o movimento político do ex-presidente vê uma parcela significativa da sociedade brasileira como inimiga
Em entrevista ao programa Subsolo, o professor João Cezar de Castro Rocha, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ofereceu uma análise profunda sobre as bases ideológicas e históricas que sustentam o bolsonarismo no Brasil. Para o professor, o movimento político de Jair Bolsonaro deve ser compreendido como um dos mais poderosos fenômenos de massa da história recente do país, organizado em torno de uma visão de mundo "bélica e agônica", que transforma o adversário político em um inimigo a ser eliminado.
Castro Rocha argumenta que o bolsonarismo é uma forma de "terrorismo doméstico", uma vez que emprega a retórica do ódio e a lógica da violência como meios de eliminar aqueles que são considerados "outros". Esses "outros" podem ser desde militantes de esquerda até minorias raciais e sexuais. A base teórica desse movimento, segundo o professor, está enraizada na Lei de Segurança Nacional de 1969, um marco jurídico da ditadura militar brasileira, que institucionalizou o conceito de inimigo interno e estabeleceu o aparato repressivo do regime. Esse dispositivo, em sua análise, é um verdadeiro "culto à morte", mencionando 32 vezes a palavra "morte" e prevendo penas capitais para crimes políticos.
Outro pilar crucial que sustenta o bolsonarismo, segundo Castro Rocha, é o projeto ORVIL, um documento militar elaborado nos anos 1980, que buscava reescrever a história da ditadura militar como reação ao livro Brasil Nunca Mais. O ORVIL teria sido uma tentativa de justificar e normalizar as atrocidades cometidas pelo regime, apresentando os opositores como inimigos a serem eliminados. O professor destaca que essa visão de mundo, que desumaniza qualquer oposição, permanece viva nos discursos de figuras como Bolsonaro e seus aliados.
Castro Rocha também ressalta a influência decisiva do ideólogo Olavo de Carvalho, que popularizou e disseminou ideias de extrema direita, incluindo a "ideologia de gênero" como uma das principais bandeiras do bolsonarismo. Carvalho é descrito pelo professor como "o intelectual orgânico da ignorância", cuja obra contribuiu para moldar a retórica de ódio e de desinformação que caracteriza o movimento.
Por fim, o professor João Cezar alerta para o fato de que o bolsonarismo, longe de ser um fenômeno passageiro, continuará se fortalecendo e se reconfigurando, mesmo após o enfraquecimento de Jair Bolsonaro como figura política central. Ele observa que a lógica do inimigo interno e a cultura do ódio são características que transcendem o líder, enraizando-se em vários níveis da sociedade brasileira.
A análise de Castro Rocha lança luz sobre as dinâmicas históricas e ideológicas que estruturam o bolsonarismo, enfatizando a necessidade de uma leitura cuidadosa dos documentos que moldaram esse movimento, como a Lei de Segurança Nacional e o ORVIL. Com essa leitura, ele busca desmontar a narrativa de que o bolsonarismo seria apenas um "espasmo" político passageiro, afirmando que sua influência está longe de ser eliminada. Assista:
Fonte: Brasil 247
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