Pérez Esquivel critica governos autoritários, destaca a importância da memória histórica e alerta para as consequências do avanço da extrema-direita
O Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, de 92 anos, recebeu em sua casa a correspondente do 247 na Argentina, a jornalista Marcia Carmo, para uma conversa sobre democracia, direitos humanos e o avanço preocupante da extrema-direita na América Latina.
Ainda ativo como artista plástico, professor universitário e defensor dos direitos humanos, Esquivel começou a entrevista destacando a importância de se discutir democracia, especialmente em tempos de retrocessos. “Democracia significa direitos e igualdade para todos, não para alguns. Temos que reagir contra o avanço da extrema-direita através da educação, da cultura, da informação e da memória”, afirmou, reforçando a necessidade de transmitir às novas gerações as lições do passado.
Esquivel, sobrevivente da ditadura militar, acredita que a falta de debate sobre o passado acabou contribuindo para a ascensão de figuras como Jair Bolsonaro no Brasil e Javier Milei na Argentina. Segundo ele, muitos jovens, que não viveram aquele período, têm uma visão distorcida. “Pessoas como Bolsonaro e Milei surgiram por erros de governos passados que não construíram uma memória sólida, e agora as pessoas estão sofrendo as consequências”, analisou.
Com uma vida marcada pela luta contra regimes autoritários, Esquivel recorda seus momentos mais difíceis. Ele foi preso duas vezes no Brasil durante a ditadura militar, sendo salvo da morte pelo então cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. “Dom Paulo organizou uma grande manifestação para me libertar”, relembra emocionado.
Em sua casa, Esquivel guarda com orgulho uma foto tirada no Brasil, além de uma de suas pinturas mais emblemáticas, A Última Ceia, onde retrata figuras que admira, como Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Hélder Câmara e Leonardo Boff, além das Mães da Praça de Maio, símbolo da resistência na Argentina. Ele reforça seu ativismo contra o machismo, o racismo e todas as formas de exclusão e desigualdade.
Amigo de longa data do presidente Lula, com quem mantém uma relação próxima desde os anos 70, Esquivel falou sobre sua admiração pelo líder brasileiro. “Lula é um irmão. Ele nunca perdeu o objetivo de lutar contra a fome. Visitei-o na prisão, junto com Leonardo Boff, e acredito que sua detenção foi injusta, algo que abriu o caminho para Bolsonaro chegar à presidência”, declarou.
Sobre o governo argentino de Milei, Esquivel foi crítico, afirmando que o presidente “está tentando destruir as políticas de direitos humanos” e implementando um ajuste econômico severo, que afeta especialmente os mais pobres. No entanto, ele ainda acredita em uma mudança. “Especialmente na América Latina, ainda há esperanças de reverter essa situação”, concluiu o Prêmio Nobel da Paz, em uma mensagem de otimismo e luta.
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Fonte: Brasil 247
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