sábado, 28 de setembro de 2024

Indefinição do eleitorado pode decidir eleição nos últimos momentos; pelos 40% não definiram voto em 19 capitais


Especialistas avaliam que percentuais estão dentro do patamar observado em eleições mais recentes, nas quais a definição do voto tem se aproximado cada vez mais da data de ir à urna



Na fase final das eleições municipais, a indefinição do eleitorado persiste nas capitais do Brasil. Em diversas cidades desse grupo, pelo menos quatro em cada dez eleitores afirmam que ainda não decidiram seu voto para prefeito, conforme a rodada mais recente de pesquisas da Quaest, realizadas nas últimas duas semanas.

Especialistas apontam que esses percentuais estão dentro da faixa observada em eleições anteriores, nas quais a definição do voto tem se aproximado cada vez mais da data da votação. Eles ressaltam que os eleitores indecisos podem ter um impacto significativo nas composições do segundo turno, especialmente em disputas acirradas. Essa situação destaca a importância das campanhas que buscam conquistar os indecisos nas últimas semanas antes da eleição, já que essas escolhas podem definir o resultado final nas urnas.

Em 19 das 26 capitais, o percentual de eleitores que não definiram candidato iguala ou supera 40% na modalidade espontânea — isto é, quando o entrevistado é apenas questionado se já “escolheu em quem vai votar”, sem ser apresentado a uma lista de opções. Entre essas cidades, em sete — Curitiba, Goiânia, Campo Grande, Belo Horizonte, Cuiabá, Porto Alegre e Porto Velho — a fatia de indefinidos chega a metade do eleitorado.

Pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, o cientista político Oswaldo Amaral afirma que há uma tendência nos últimos anos de os eleitores decidirem o voto cada vez mais tarde — a campanha termina oficialmente na antevéspera da eleição, mas tem seguido quase ininterrupta nas redes sociais. Para o pesquisador, isso gera uma possibilidade de que o cenário nas urnas difira do captado nas pesquisas, especialmente quando “os candidatos estão muito próximos”.

— Quando há um contingente grande de indecisos e disputas apertadas, isso pode significar um resultado diferente. Especialmente se houver voto útil — afirma Amaral.
Indefinição do voto nas capitais — Foto: Arte O Globo
Indefinição do voto nas capitais — Foto: Arte O Globo



Mandatos curtos

Em Belo Horizonte, o atual prefeito Fuad Noman (PSD) aparece tecnicamente empatado na segunda colocação com o bolsonarista Bruno Engler (PL), segundo a Quaest. A capital mineira tem 53% de indecisão na pesquisa espontânea. Fuad, que assumiu o mandato em meados de 2022, após a renúncia do então prefeito Alexandre Kalil, tem hoje uma gestão considerada positiva por 41%. O percentual dos que não souberam avaliá-lo, porém, de 11%, é o maior entre os prefeitos de capitais, quase igual a seu índice de reprovação (14%), segundo a pesquisa.

O cenário de vices que assumiram o mandato também aparece em outras duas campeãs de indecisão, Goiânia e Campo Grande. Em ambos os casos, os incumbentes que concorrem à reeleição aparecem com patamares relativamente baixos de aprovação — 13% e 33%, respectivamente. São números similares aos de outras capitais com indefinição alta, como Cuiabá (16%) e Porto Alegre (37%).
Mulheres e mais pobres

Para a cientista política Marcia Ribeiro Dias, da Unirio, a falta de consolidação dos incumbentes se reflete na indefinição dos eleitores. Capitais como Recife, Macapá e Maceió, por exemplo, onde os prefeitos concorrem à reeleição com percentuais de aprovação superiores a 75%, também registram alguns dos menores índices de indecisos. Em São Luís, outra capital com baixa indefinição, o prefeito Eduardo Braide (PSD) lidera com 63% dos votos.

— A avaliação de governo pesa em eleição à prefeitura, onde se consegue perceber melhor como a gestão afeta o dia a dia. Até por isso, a moderação leva vantagem sobre a radicalidade para atrair o voto dos indecisos, a não ser quando algo torna o incumbente menos palatável para o eleitor — pontua Dias.

Segundo os dados da Quaest, o eleitorado feminino e das faixas de remuneração mais pobres apresenta maior indefinição do que a média em boa parte das capitais. Em Goiânia, onde Sandro Mabel (União) e Adriana Accorsi (PT) aparecem tecnicamente empatados na liderança, 64% das mulheres entrevistadas dizem não ter escolhido candidato, quando as opções não são apresentadas; entre os homens, o percentual é de 51%.

Em Curitiba, onde o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) — desconhecido por quase um em cada cinco eleitores — aparece na liderança, a indecisão entre os mais pobres chega a 64%. Já na faixa mais rica, com remuneração superior a sete salários mínimos, este índice desce para 50%.

Para a professora da Unirio, esta maior indefinição se explica por diferentes fatores, como a agressividade de candidatos e a menor qualidade de acesso à informação, que tendem a afastar as mulheres e os mais pobres da política. O cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP, também enxerga a possibilidade de resiliência de um sentimento de rejeição à política por diferentes estratos:

— Há uma certa desconfiança em relação aos políticos, e quem desconfia acaba tendo maior dificuldade para definir o voto, porque acha que não vai mudar nada. Isso talvez seja mais forte entre o eleitor de baixa renda, enquanto o topo da pirâmide, com mais informação, percebe o que está em jogo. A definição do voto em cima da hora também pode estar relacionada a esta leitura negativa do sistema político.

Fonte: Agenda do Poder com informações de O Globo.

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