Assessor especial da presidência para temas internacionais ainda vê a situação venezuelana como delicada
Em entrevista concedida ao Valor Econômico, Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República e principal articulador do governo brasileiro junto ao regime chavista da Venezuela, declarou que o Brasil não pretende romper laços com o governo de Nicolás Maduro, apesar dos impasses no processo eleitoral do país vizinho. "O Brasil não vai romper relações com a Venezuela. Relações são com o Estado", afirmou Amorim. A declaração vem em um momento em que os esforços brasileiros por um processo eleitoral transparente na Venezuela parecem ter fracassado, culminando com o reconhecimento da vitória de Maduro pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) sem a comprovação das atas eleitorais.
Amorim evitou classificar a situação venezuelana como uma ditadura, preferindo adotar uma postura cautelosa: “Eu prefiro não fazer adjetivos”, disse o assessor. No entanto, ele foi enfático ao declarar que, neste momento, não vê a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparecer à cerimônia de posse de Maduro, marcada para janeiro. “Hoje, eu não vejo o Lula indo à posse de Maduro”, afirmou.
A entrevista também abordou temas como as relações do Brasil com os Estados Unidos e a China, além de questões globais como as queimadas na Amazônia, a guerra na Ucrânia e o conflito no Oriente Médio. Amorim destacou a importância da multipolaridade nas relações internacionais e afirmou que o Brasil buscará uma postura equilibrada entre as grandes potências, reforçando a parceria estratégica com a China, mas sem negligenciar os EUA.
Sobre as eleições americanas, Amorim revelou que o governo brasileiro tem maior afinidade com os democratas, representados pela atual vice-presidente Kamala Harris, mas espera um pragmatismo do lado republicano caso Donald Trump seja eleito. “A identidade [do governo Lula], em matéria de política econômica e de política social, é com os democratas. Agora, em termos internacionais, obviamente EUA e Brasil têm que ter uma boa relação”, pontuou.
A questão climática também foi um dos pontos centrais da entrevista, com Amorim adiantando que o discurso de Lula na próxima Assembleia-Geral da ONU, marcada para terça-feira, deverá ter forte ênfase na agenda ambiental. "Certamente será um tema muito importante, talvez o principal, individualmente", disse, fazendo referência às queimadas que atingem o Brasil neste momento.
Amorim demonstrou ainda preocupação com o avanço do conflito entre Israel e o Hezbollah no Líbano, destacando que, embora condene as ações do Hamas, vê com apreensão a escalada militar na região. Em relação à guerra na Ucrânia, afirmou que o Brasil segue defendendo a paz, mas com uma abordagem que inclui diálogo com a Rússia. "Nós temos interesse na paz. Ao contrário do que a mídia diz, de que o presidente Lula queria ser o mediador, eu nunca vi isso", afirmou Amorim, reforçando que o Brasil nunca buscou mediar diretamente o conflito, mas sim colaborar com iniciativas internacionais pela paz.
Com essas declarações, Celso Amorim reflete o complexo tabuleiro geopolítico em que o Brasil está inserido, equilibrando seus interesses diplomáticos e comerciais em um cenário de tensões globais crescentes. A incerteza sobre a posse de Maduro é apenas uma das muitas questões que o governo Lula deverá enfrentar nos próximos meses, mantendo o compromisso de uma política externa pautada pela soberania e a multipolaridade.
Fonte: Brasil 247 com informações do Valor Econômico
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