Em entrevista histórica concedida ao jornalista Florestan Fernandes Júnior, Leonel Brizola deu uma aula sobre o trabalhismo
Em uma entrevista histórica concedida em 2000 ao jornalista Florestan Fernandes Júnior, da TV 247, e disponibilizada pelo centro de memória do IREE, o político gaúcho Leonel Brizola fez uma ampla retrospectiva de sua trajetória, abordando com ênfase sua relação com o presidente Getúlio Vargas e o papel do trabalhismo no Brasil. O ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro falou sobre sua origem humilde, sua entrada na vida pública e os momentos decisivos de sua carreira.
Brizola relembrou com admiração a figura de Getúlio Vargas, a quem considerava seu grande mentor e inspiração política. “O meu inspirador foi o presidente Vargas”, afirmou Brizola. Segundo ele, Vargas era um homem tranquilo, mas com métodos próprios, enquanto Brizola, por sua origem popular, tomou outro rumo na política, atuando como líder de massas. “Eu, naturalmente, pela minha origem, fui assumindo os meus caminhos políticos... mas sempre sob a impressão daqueles tempos que vivíamos”, disse.
Sobre o impacto de Vargas na formação do trabalhismo, Brizola destacou que o presidente foi o responsável por consolidar direitos sociais fundamentais, mas que enfrentava resistência tanto das elites conservadoras quanto de parte da intelectualidade de esquerda. "O grosso ficou mesmo com essa posição do Prestes", comentou Brizola, referindo-se à divisão que se formou na esquerda brasileira em torno da figura de Getúlio Vargas.
Brizola também refutou a ideia de que o PTB teria sido uma criação de Vargas. Ele enfatizou que o partido nasceu a partir das demandas das associações sindicais e não de uma imposição do presidente. “O Presidente Vargas não mandou criar o PTB, ele concordou”, esclareceu. Ele ainda ressaltou que Getúlio sempre buscou modernizar o Brasil e garantir direitos essenciais aos trabalhadores, como a consolidação das leis trabalhistas e a cidadania para as mulheres.
O suicídio de Vargas
Outro momento marcante da entrevista foi quando Brizola comentou sobre o suicídio de Vargas em 1954, episódio que ele vivenciou enquanto ocupava o cargo de secretário de obras no Rio Grande do Sul. Brizola descreveu a reação popular à morte de Vargas e o impacto que o suicídio teve na política brasileira. “Vargas foi esmagado por aquela força reacionária que surgia... ele não quis ser desmoralizado”, afirmou. Para Brizola, o gesto de Vargas foi uma tentativa de impedir que as acusações contra ele se transformassem em verdades.
No que diz respeito ao golpe militar de 1964, Brizola foi enfático ao dizer que João Goulart, seu cunhado e sucessor de Vargas, poderia ter resistido ao golpe, mas optou por não o fazer. "Eu acho francamente que se o presidente Jango quisesse, não cairia. Ele tinha condições de se sustentar", declarou. Brizola explicou que, ao contrário de Goulart, ele defendia uma resistência mais firme contra os militares e as elites conservadoras, que estavam determinadas a derrubar o governo.
Brizola encerrou a entrevista destacando a importância do trabalhismo na construção de uma nação mais justa e igualitária. Para ele, a herança de Vargas e do PTB foi crucial para garantir direitos que, mesmo décadas depois, continuavam sendo essenciais para a classe trabalhadora brasileira. Ele criticou o uso do termo “reformas” por governos que, segundo ele, distorciam o sentido original das mudanças sociais promovidas pelo trabalhismo. “Reforma é no sentido democratizante, de abrir socialmente para um maior número de pessoas... e não para fazer arrocho”, concluiu Brizola.
A entrevista de Leonel Brizola, concedida ao jornalista Florestan Fernandes Júnior, da TV 247, oferece um relato profundo sobre a política brasileira do século XX, destacando a influência de Getúlio Vargas e do trabalhismo nas lutas sociais e políticas do país. Assista:
Fonte: Brasil 247
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