O bimotor ATR-72 da Voepass, que caiu em Vinhedo (SP) na última sexta-feira (9), teve problemas no sistema antidegelo detectados em 2023.
Relatórios internos da companhia aérea, divulgados pelo Globo, mostram que a aeronave apresentou falhas no sistema de degelo em pelo menos seis ocasiões, em três dias de julho do ano passado. Na época, uma recomendação técnica orientava a evitar voos para o Sul devido ao risco de condições climáticas adversas, mas essa recomendação não foi seguida.
Especialistas apontam que a falha no sistema antidegelo pode ter contribuído para o acidente, que matou 62 pessoas.
A Voepass, por sua vez, se defende afirmando que as falhas foram corrigidas no ano passado e que o sistema estava operante no dia da queda. No entanto, em 13 de julho de 2023, em Ribeirão Preto, foi recomendada a restrição de voos para o Sul, mas a aeronave seguiu para Porto Alegre, onde o problema persistiu.
No relatório de Porto Alegre, além do sistema antidegelo, foram apontadas falhas no limpador de para-brisa e no sistema de alerta de aproximação em solo.
No dia seguinte, antes de decolar para Congonhas, o relatório mencionava apenas a “restrição de gelo”, sugerindo que os outros sistemas haviam sido reparados. Em 14 de julho, em Congonhas, os mecânicos anotaram novamente a “restrição de gelo” e a recomendação de evitar a região Sul.
Quatro dias depois, em outra inspeção em Congonhas, além do sistema antidegelo, foi identificada a inoperância do gerador elétrico. Esse gerador, movido pelas hélices do avião, alimenta a bomba hidráulica, a luz de pouso, a luz de cabine, entre outros itens. No fim do mesmo dia, durante outra inspeção em Ribeirão Preto, foi apontada a falha em mais um equipamento: o indicador de situação horizontal, que fornece uma exibição visual da posição do avião em relação a pontos de navegação.
No dia do acidente em Vinhedo, a aeronave enfrentou uma turbulência climática que durou quase dez minutos, segundo uma reconstituição do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de Alagoas. Durante o voo, o avião atravessou nuvens supercongeladas com temperaturas de até -40ºC, o que pode ter levado à formação de gelo nas asas, contribuindo para a tragédia.
Um comandante ouvido pela reportagem afirmou que o sistema antidegelo do ATR-72 não costuma quebrar com frequência ou por algum motivo específico. “A chance de falha é a mesma em um avião novo ou mais antigo. No ATR, o sistema é relativamente simples e infla com o ar que sai do motor. Ele pode parar de funcionar por várias razões, como falta de lubrificação ou problemas na válvula”, explicou.
Fonte: DCM
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