sábado, 20 de julho de 2024

São Paulo tem 1ª eleição sem candidato do PT e Boulos lança seu nome como soldado de Lula contra Bolsonaro

 Convenção neste sábado lança chapa de psolista com Marta buscando derrotar Nunes


Quando, dois dias antes da convenção que oficializará sua candidatura a prefeito de São Paulo, neste sábado (20), Guilherme Boulos (PSOL) reuniu jornalistas para antecipar algumas de suas propostas, o filiado ao PSOL não poderia ter deixado mais explícito seu entrosamento com o PT do presidente Lula.


A fala de abertura na entrevista coletiva coube ao presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro. Após uma pergunta sobre a participação de Lula na campanha, Boulos trocou palavras com Ribeiro e assumiu a palavra para falar que o petista estará “de maneira forte e intensa em todos os momentos”.


Boulos não é o candidato do PT, mas é quase como se fosse —e é essa a mensagem que Lula busca emplacar ao se engajar de maneira inédita na eleição paulistana, na primeira disputa pelo comando da capital desde a redemocratização, em 1985, que não tem o PT na cabeça de uma das chapas.


A constatação feita acima é de reportagem da Folha de São Paulo


A convenção para lançar Boulos e Marta Suplicy, anunciada como um evento para mais de 10 mil pessoas no Expo Center Norte, centro de convenções na zona norte da capital, sela um projeto de Lula para marcar posição na maior cidade do país, que teve início antes mesmo de seu retorno ao Planalto.


O presidente estará no palanque com ao menos oito ministros para reforçar o discurso de que está com suas tropas na rua para o que caracteriza como “uma verdadeira guerra”. A batalha não é só contra a reeleição de Ricardo Nunes (MDB), mas contra o arquirrival Jair Bolsonaro (PL), apoiador do prefeito.


O fato de que seu soldado na arena paulistana é alguém de fora do PT é resultado de uma articulação iniciada pelo próprio Lula em 2022. Para convencer Boulos a desistir de concorrer ao governo estadual e abraçar Fernando Haddad (PT), o hoje presidente prometeu apoiá-lo na disputa municipal dali a dois anos.


Boulos, que acabaria se elegendo deputado federal por sua atuação no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), tinha chegado ao segundo turno da eleição para prefeito em 2020, amealhando uma vitória política, apesar da derrota objetiva para Bruno Covas (PSDB), que morreria no ano seguinte.


Depois de debelar rebeliões no PT em virtude da inédita perda de protagonismo na cidade em quase 40 anos, Lula entrou em cena de novo para escolher quem seria o indicado do PT para a vice, conforme previa o acordo com o PSOL. Desfalcado de nomes competitivos, o partido era um deserto de opções.


O presidente adotou o pragmatismo e pôs em marcha talvez a mais surpreendente manobra política desta eleição até o momento. Primeiro ele convenceu seu entorno a repatriar Marta ao PT —hipótese antecipada pela Folha em novembro—, passando uma borracha nas rusgas da ex-prefeita com a legenda que ela deixara em 2015. Depois era preciso tirá-la do núcleo duro do maior adversário.


Marta topou a guinada e, em janeiro, deixou o cargo de secretária da gestão Nunes, na pasta de Relações Internacionais, para voltar ao partido do qual se tornara crítica e que a tratava como persona non grata, sobretudo pelo voto favorável da então senadora pelo MDB ao impeachment de Dilma Rousseff (PT).


Boulos, igualmente, teve que fazer concessões para se adaptar ao figurino de um candidato mais próximo do sistema. Começou um trabalho para suavizar a imagem e o tom, num alinhamento com o estilo conciliador de Lula que levanta queixas no PSOL, por ora restritas aos bastidores.


O deputado acomodou Marta na vice —que já foi chamada de “golpista” na esquerda pelo voto contra Dilma— e hoje conta na equipe que formula seu programa de governo com um ex-comandante da Rota (batalhão de elite da PM conhecido pelo histórico de letalidade e truculência). Boulos diz que ainda é o mesmo, mas quer aparentar mais amadurecido, calibrando a verve combativa que o popularizou entre os pares e lhe rendeu, dos inimigos, as pechas de invasor e radical.


A transformação tem um dedo do marqueteiro Lula Guimarães, responsável pela campanha vitoriosa de João Doria (então no PSDB) no primeiro turno de 2016, quando Haddad batalhava a reeleição.


Boulos incorporou o papel de algoz do bolsonarismo, associando a eventual vitória de Nunes na cidade a um triunfo do ex-presidente, que aceitou apoiar um político sem ligação orgânica com o bolsonarismo para tentar fincar o pé na administração paulistana e emplacou como vice um dos seus.


O cenário está dado para se desenrolar o que representantes dos dois lados chamam de terceiro turno das eleições de 2022. Com Lula e Bolsonaro insuflando o repeteco da polarização, políticos de esquerda reconhecem ser um risco tratar o resultado de 2024 como prenúncio da disputa nacional de 2026, mas mantêm a aposta de que a rejeição ao ex-presidente como padrinho, no patamar de 65%, falará mais alto.


Para além da disputa local, a bênção de Lula a Boulos mexe com o futuro da esquerda no país, em meio às discussões sobre a trôpega renovação de quadros e os herdeiros políticos do presidente.


Boulos, que chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto no início da fase pré-eleitoral, viu Nunes se aproximar e hoje está empatado tecnicamente com ele na primeira posição.

No levantamento mais recente do Datafolha, neste mês, o aspirante à reeleição marcou 24%, e o deputado, 23%. A margem de erro de três pontos para mais ou menos.


A coligação encabeçada por PSOL e PT, batizada como “Amor por São Paulo”, engloba oito partidos, todos do chamado campo progressista —a exceção é o PMB (Partido da Mulher Brasileira), que refuta rótulos à esquerda ou à direita. Na noite desta quinta-feira (18), a aliança ganhou a entrada do PCB (Partido Comunista Brasileiro).


Fonte: Agenda do Poder

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