quinta-feira, 18 de julho de 2024

Querem fazer a mídia independente comprar a versão bolsonarista dos fatos

 


"Tentam ridicularizar conjecturas sobre a autenticidade do atentado, do mesmo modo que fazem com a 'facada' em Jair Bolsonaro"

Donald Trump (Foto: Reuters/Brendan McDermid)

É terrível a incompreensão, real ou dissimulada, da mídia corporativa sobre o “quem é quem” no cenário político. Após o atentado contra Donald Trump, analistas iniciaram uma verdadeira força-tarefa para cobrar da imprensa independente uma indignação perante o que julgam um ataque à democracia, a aparente tentativa de assassinato mal sucedida do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos.

Tentam ridicularizar conjecturas sobre a autenticidade do atentado, do mesmo modo que fazem com a “facada” em Jair Bolsonaro. É claro que atentar contra a vida de um candidato a presidente é também um ataque aos princípios das democracias, mas os dois personagens em tela carregam um passivo de armações, sem limites, que autorizam e até recomendam dúvidas.

Comprar pelo valor de face qualquer acontecimento que traga dividendos políticos a pessoas como Trump e Bolsonaro é assinar atestado de ingenuidade. É desconhecer a ousadia inescrupulosa de ambos, que fomentam ao longo das respectivas vidas públicas qualquer tipo de ato destrutivo da democracia, desde descreditar processos eleitorais até estimular - ou mesmo conceber - a destruição à força de instituições da República.

Trump é um jogador que não mede as consequências de suas apostas, é assim também como empresário. Bolsonaro notabilizou-se como um militar refratário à hierarquia e insubmisso, no mau sentido, que planejava explodir quartéis. Dois moleques que encontraram abrigo na extrema-direita política.

A mídia intitulada “profissional” - jornalões e emissoras de TV - acha que o jornalismo progressista utiliza dois pesos e duas medidas, condenando a priori os ataques da direita à democracia e fazendo vista grossa aos da esquerda.  O erro grosseiro - ou seria má fé? - é considerar os supostos atentados a Bolsonaro e Trump como obras consumadas da esquerda. Não há nada que indique tal relação. No Brasil, a última vez que a esquerda cometeu um ato violento foi durante a luta armada contra o regime militar, em reação ao terror de Estado.

E a direita brasileira? Só nos anos Bolsonaro, deixando de lado alguns arroubos rodoviários, sua ala miliciana matou Marielle Franco, enquanto a ala golpista depredou o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, para ficarmos em dois exemplos. 

A colunista da Folha de S. Paulo Mariliz Pereira Jorge, sem nominar a vídeo-reportagem seminal de Joaquim de Carvalho “Uma fakeada no coração do Brasil”, mesmo porque não a deve ter assistido, publicou um primor de hipocrisia e desfaçatez nesta semana, que ilustra a postura pusilânime da imprensa corporativa. Eis um trecho: “Numa reunião, um colega mencionou um documentário que provava a ‘conspiração’ do que chamam de ‘fakeada’ (fake+facada). Expliquei por que seria impossível envolver hospitais, médicos renomados, policiais e mais uma centena de pessoas, os detalhes da investigação da Polícia Federal, olhei em volta e percebi que, pelas expressões, a louca era eu”.

Quem acredita cegamente em versões bolsonaristas dos fatos merece ser chamado de louco? Ou de quê?

Fonte: Brasil 247

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