Eduardo Paes teve 25 ações de entrega ou divulgação de obras de 15 de junho até sexta-feira, mais de uma por dia
Prefeitos que têm o poder da máquina para as eleições municipais de outubro tiveram uma semana intensa, marcada por sucessivas entregas. A explicação está na lei eleitoral: esta sexta-feira (5) foi o último dia permitido para inauguração de obras ou divulgar a prestação de serviços públicos. Enquanto adversários apostam em outras estratégias, como a nacionalização do jogo local, candidatos à reeleição têm como principal ativo a exposição do que estão fazendo como gestores — mesmo que, em alguns casos, as entregas recentes envolvam apenas trechos de projetos em andamento.
De pequenos reparos a grandes obras de infraestrutura, os compromissos agora proibidos tomaram conta da rotina de Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo, Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro, e João Campos (PSB), no Recife. Com exceção de Nunes, todos despontam com confortável favoritismo nas pesquisas eleitorais.
“Estão conseguindo acompanhar o meu trabalho ou estão sem fôlego?”, brincou nas redes sociais o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), que teve mais de 30 agendas em cinco dias.
Empatado tecnicamente com Guilherme Boulos (Psol) no levantamento do Datafolha divulgado sexta-feira, Nunes conta com as entregas como principal forma de se promover no momento. Nos últimos cinco dias, o emedebista inaugurou cinco unidades de saúde ou de pronto-atendimento, uma creche, duas Vilas Reencontro — casas temporárias para famílias em situação de rua —, além de novos trechos de faixas exclusivas para motos, a reforma de um terminal de ônibus e o SmartSampa, esperado desde fevereiro.
Se Boulos conta com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para angariar eleitores, Nunes ainda não sabe quão presente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) será na campanha. Segundo aliados do prefeito, é difícil contar com a “imprevisibilidade” de Bolsonaro. Em contrapartida, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) deve intensificar a participação em agendas conjuntas com o prefeito.
A campanha acirrada entre Nunes e Boulos chegou a ter até uma disputa pela “paternidade” de uma obra, a extensão da Linha 5 (Lilás) do metrô. Foram feitos dois eventos diferentes para anunciar o projeto — um com Tarcísio e Nunes, outro com Boulos e Lula.
A partir da próxima semana, Nunes vai se concentrar em visitar obras em andamento e participar mais de eventos partidários, além de trabalhar de forma mais assídua na construção do programa de governo, que é coordenado pelo ex-governador tucano Rodrigo Garcia, hoje sem partido. O prefeito deve fazer um grande evento com pré-candidatos a vereadores. Também nas próximas semanas, o coronel Ricardo Mello Araújo, vice na chapa do emedebista, tende a começar a se envolver mais na campanha.
As 25 entregas de Paes
Eduardo Paes teve 25 ações de entrega ou divulgação de obras de 15 de junho até sexta-feira — mais de uma por dia. No último dia permitido, concentrou-se sobretudo em Campo Grande, bairro mais populoso do país, na Zona Oeste da cidade.
Lá, Paes inaugurou trechos de projetos rodoviários, como um mergulhão com 400 metros de extensão. Essa entrega é apenas uma das nove frentes do projeto, que inclui ainda a construção de túneis e a duplicação de várias vias. O chamado Anel Viário de Campo Grande só deve ficar totalmente pronto no fim de 2025.
Paes anunciou outros projetos, como o início da restauração da antiga Estação Leopoldina, a reforma de São Januário e a nova Bolsa de Valores a ser instalada na cidade.
Com 53% das intenções de voto no Datafolha — os demais candidatos não chegam aos dois dígitos —, o prefeito tem o apoio do presidente Lula, mas não pretende nacionalizar a eleição. Ao contrário: esta é a principal arma de Alexandre Ramagem (PL), que precisa se associar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para crescer nas pesquisas e chegar perto de Paes.
Os anúncios constantes de projetos da prefeitura, portanto, são o grande trunfo do prefeito. Nas inserções partidárias às quais o PSD teve direito há poucas semanas, o discurso de Paes se concentrou em dizer que o Rio estava longe de ser perfeito, mas caminha na direção certa.
Também favorito e pouco afeito à nacionalização da disputa, Bruno Reis promoveu 30 agendas em Salvador com entregas ou anúncios nos últimos cinco dias, numa média de seis por dia. Teve abertura de espaço para a prática de capoeira, hospital, moradias e restaurantes populares, por exemplo.
Representante do carlismo, cultura política iniciada pelo ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães, Reis é o sucessor de ACM Neto, herdeiro político e familiar do antigo cacique. Salvador desponta como uma fortaleza inexorável do carlismo, dado que o PT, apesar da força superlativa na Bahia, nunca conquistou a prefeitura da capital. O partido de Lula, inclusive, sequer vai lançar candidatura própria na cidade este ano. Optou por apoiar Geraldo Júnior, do MDB.
Com 75% das intenções de voto no Datafolha, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), também passou a semana anunciando entregas. Foram 21 compromissos classificados como “inauguração” ou “entrega” na agenda do prefeito.
Com a linguagem moderna que fez o prefeito de 30 anos se tornar o mais seguido do país no Instagram, ele compartilhou compromissos que vão desde a abertura de uma simples academia pública até a inauguração de uma escola, passando por um hotel.
Assim como Paes no Rio, Campos tem o apoio de Lula, mas não depende dele para consolidar o favoritismo na eleição. Por lá, a exemplo do carioca, evita ceder a vice ao PT, apesar de encaminhar a entrada do partido na aliança de reeleição.
O calendário de inaugurações também marcou a semana de prefeitos como Sarto (PDT), em Fortaleza. Já no caso de outra capital populosa, a mineira Belo Horizonte, a semana de Fuad Noman (PSD), outro que busca a reeleição, foi marcada por menor presença nas ruas e por um anúncio triste: a revelação de um câncer. O mineiro, contudo, disse que seguirá na disputa eleitoral.
Fonte: Agenda de Poder com informações de O Globo.
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