sexta-feira, 5 de julho de 2024

Polícia Federal informa que seguiu ‘rastros’ deixados pelos envolvidos para reunir provas e indiciar Bolsonaro; veja abaixo

 Durante a investigação da PF, a defesa de Bolsonaro afirmou que ele agiu ‘dentro da lei’ e ‘declarou oficialmente os bens de caráter personalíssimo recebidos em viagens’


O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro na investigação sobre um suposto esquema de venda de presentes e joias recebidos pela Presidência da República se baseia em uma série de provas reunidas pela Polícia Federal (PF) e até mesmo pelo FBI. A apuração foi facilitada pelos próprios envolvidos, segundo a PF, que deixaram “rastros”, como o reflexo em fotos, registros de localização nos aplicativos Waze e Uber e conexões na rede Wi-Fi de uma loja.


Durante a investigação da PF, a defesa de Bolsonaro afirmou que ele agiu “dentro da lei” e “declarou oficialmente os bens de caráter personalíssimo recebidos em viagens”. Segundo seus advogados, esses itens devem constar de seu acervo privado, podendo ser levados por ele ao termo de seu mandato.


Em 29 de dezembro de 2022, antepenúltimo dia do governo de Bolsonaro, o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva tentou retirar da alfândega do aeroporto de Guarulhos um outro conjunto de joias, entregue ao governo brasileiro pela Arábia Saudita e que não chegou a ser vendido. Jairo foi enviado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e argumentou com o auditor responsável que a retirada era “de urgência”, pois, devido à troca de governo, “não pode haver nada do antigo para o próximo”. No entanto, o conjunto não foi liberado e continuou com a Receita Federal.


O reflexo do rosto do general do Exército Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid, aparece em uma foto de uma escultura. Lourena Cid tirou uma foto para pedir uma avaliação do valor do item em lojas especializadas.


Comprovante de venda


Em junho de 2022, o tenente-coronel Mauro Cid aproveitou uma viagem oficial de Bolsonaro aos Estados Unidos para vender dois relógios que haviam sido recebidos pelo então presidente, das marcas Rolex e Patek Philippe. Cid guardou um comprovante da compra em seu armazenamento de nuvem. O documento mostra que os relógios foram vendidos por US$ 68 mil.


O dinheiro da venda foi depositado em uma conta de Mauro Lourena, pai de Cid. No dia anterior à venda, Lourena enviou ao filho dados da conta que seria utilizada na transação.

Waze e Wi-Fi


Além do documento, a PF também comprovou que Cid esteve no local por dois rastros que ele deixou. Na data, ele buscou no aplicativo Waze — utilizado para direções — um endereço do shopping onde fica a loja, especializada em vendas de relógios novos e usados. Depois, utilizou a rede de Wi-Fi da loja.


Metadados


Cid tinha fotos de um conjunto de joias da marcha Chopard, enviados pelo governo da Arábia Saudita a Bolsonaro. Os metadados — um conjunto de informações de um arquivo — mostram que as fotos foram tiradas na casa do militar, no Setor Militar Urbano (SMU), em Brasília. O registro foi feito no dia 19 de dezembro, a poucos dias do fim do governo de Bolsonaro.


Número de série de relógio


Em 2023, Cid e outros auxiliares de Bolsonaro tentarem vender o conjunto Chopard. A PF encontrou o artigo em um site de leilões, com a estimativa de arrecadação entre US$ 120 mil e US$ 140 mil. Foi possível identificar que era o mesmo kit por meio do número de série de um dos itens, o relógio.


Código de rastreio


O leilão, contudo, falhou por falta de compradores, e o conjunto de joias é enviado de Nova York, onde fica a loja, até a Flórida, onde Bolsonaro estava hospedado. O tenente-coronel envia um código de rastreio do pacote para Osmar Crivelatti. O código que foi checado pela PF no site da empresa. Quando Crivelatti confirma a entrega, Cid comemora em uma mensagem: “Ufa”.


Registros de passagens


Quando o Tribunal de Contas da União (TCU) se preparava para determinar a entrega dos presentes recebidos pela Arábia Saudita, os auxiliares de Bolsonaro começam a preparar um esforço para retomar os itens vendidos.


No dia 11 de março de 2023, o advogado Frederick Wassef embarcou em um voo saindo de Campinas (SP) em direção a Fort Lauderdale, na Flórida. No mês dia, trocou mensagens com Cid.


Em paralelo, Cid conversava com o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, atual assessor de Bolsonaro, sobre a possibilidade de uma decisão do ministro Augusto Nardes, do TCU, ser revista, e mencionam Wassef na conversa. Inicialmente, Nardes determinou que o ex-presidente não poderia vender as joias. Depois, mudou sua posição e obrigou a devolução.


No dia 26, o próprio Cid saiu de Campinas e chegou na manhã do dia seguinte em Fort Lauderdale. Na noite do dia 27, embarcou em um voo de volta para Miami e chegou no dia seguinte em Brasília.


Comprovante de saque


No dia 27 de março, quando estava nos Estados Unidos, Cid sacou US$ 35 mil de uma conta do BB Américas. O comprovante do saque foi apreendido na casa do tenente-coronel em Brasília.


Uber


No mesmo dia 27, houve há um registro no Uber de Cid do endereço de uma loja de joias em Miami. Na tarde deste dia, ele manda uma mensagem para Crivelatti: “Resolvido”. Depois, pede o envio do “cadastro dos presentes”, “caso seja parado amanhã”.


Auxílio do FBI


A PF fez diligências no caso com o auxílio do FBI, seu equivalente nos Estados Unidos. Um dos resultados dessa parceria foi a descoberta de uma nova joia — um bracelete — que teria sido negociada por aliados de Bolsonaro.


Em maio, um agente e um delegado da PF estiveram no país em uma cooperação internacional. Em cidades como Miami (Flórida), Wilson Grove (Pensilvânia) e Nova York (NY), os policiais conseguiram colher depoimentos de comerciantes, acessar imagens de câmeras de segurança e ainda obter documentos, como movimentações financeiras dos investigados.


Fonte: Agenda do Poder com informações de O Globo.

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