quarta-feira, 10 de julho de 2024

PF vê conexão entre inquéritos e atuação de organização criminosa: Bolsonaro seria o chefe da quadrilha

 

Para investigadores, “possível organização criminosa” objetivava “a obtenção de vantagens de caráter diverso" por meio do uso da estrutura estatal como modus operandi

Ex-presidente Jair Bolsonaro na porta da sua casa em Brasília (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

A Polícia Federal (PF) está investigando a existência de uma possível organização criminosa instalada no Palácio do Planalto durante o governo Jair Bolsonaro (PL), segundo o jornal O Globo. A investigação, que liga pelo menos sete frentes distintas, aponta Bolsonaro como o líder desse grupo, sendo o personagem central em diversos casos, incluindo fraude na carteira de vacinação, roubo de joias do acervo presidencial, tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente Lula (PT), ataque às urnas eletrônicas e às instituições democráticas, uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar adversários e o suposto uso irregular do cartão corporativo para despesas pessoais.

Bolsonaro já foi indiciado em dois desses casos, ambos incluídos no inquérito-mãe (4874) iniciado em julho de 2021. Este inquérito investiga um grupo com "forte atuação digital" e "a nítida finalidade de atentar contra a democracia", conforme descrito pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em um relatório recente enviado ao STF, a PF detalha as conexões entre os diferentes inquéritos, apontando para a atuação de uma "possível organização criminosa" que objetivava “a obtenção de vantagens de caráter diversos (políticos, patrimoniais ou não)”. A investigação se concentra na "articulação de pessoas" próximas a Bolsonaro, “com tarefas distribuídas por aderência entre idealizadores, produtores, difusores e financiadores”.

A defesa de Bolsonaro nega todas as irregularidades, questionando a prerrogativa de Moraes para relatar esses processos e alegando que os inquéritos são "direcionados" ao ex-mandatário. Bolsonaro também tem criticado publicamente o chefe do Departamento de Inteligência (DIP) da PF, delegado Rodrigo Morais, que conduz as investigações.

A PF identifica uma relação entre os diversos fatos investigados e afirma que Bolsonaro teria viajado aos Estados Unidos no final de 2022 por não conseguir apoio do Comando do Exército e da Aeronáutica para um golpe de Estado. Durante essa viagem, parte das joias roubadas do acervo presidencial teria sido levada pela comitiva presidencial. O dinheiro obtido com a venda desses itens teria custeado a estadia de Bolsonaro em Orlando.

A investigação também aponta que Bolsonaro, Cid e seus familiares teriam fraudado seus cartões de vacinação para evitar problemas ao entrar em países que exigem imunização contra a Covid-19, como os Estados Unidos. Os relatórios indicam que esses esquemas foram realizados "a pedido" e "no interesse" de Bolsonaro.

O próximo indiciamento de Bolsonaro deve ocorrer no inquérito sobre a tentativa de golpe, que está ligado ao caso das milícias digitais. Outro processo em andamento investiga o uso da Abin para vigiar adversários políticos, vinculado ao inquérito das fake news (4781) iniciado em 2019.

Para a PF, os inquéritos das milícias digitais e das fake news, bem como suas ramificações, compartilham um modus operandi comum: o uso da estrutura estatal para atender aos interesses da suposta organização criminosa. No caso das joias, membros do Ministério de Minas e Energia e da Receita Federal foram mobilizados para recuperar presentes dados por autoridades estrangeiras. No esquema de fraudes vacinais, a Ajudância de Ordens da Presidência e a prefeitura de um aliado ajudaram a manipular sistemas do Ministério da Saúde. Na tentativa de golpe, Bolsonaro teria buscado o apoio das Forças Armadas.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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