terça-feira, 16 de julho de 2024

Mesmo após divulgação de áudio, aliados de Bolsonaro veem “sobrevida” na campanha de Ramagem à Prefeitura do Rio

 Na interpretação de correligionários, uma eventual quebra de confiança entre os dois foi aplacada pelo fato de a gravação não demonstrar uma indicação de crime por parte do ex-presidente

Pessoas próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) veem “sobrevida” na relação entre ele e o pré-candidato à prefeitura do Rio Alexandre Ramagem (PL), após divulgação do áudio encontrado no computador do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).


Na interpretação de correligionários, uma eventual quebra de confiança entre os dois foi aplacada pelo fato de a gravação não demonstrar uma indicação de crime por parte de Bolsonaro. Ramagem afirma que o áudio foi feito com o conhecimento do ex-presidente para “registrar um crime”, que, segundo ele, acabou não acontecendo.


Os aliados de Bolsonaro garantem que o ex-presidente não sabia que o arquivo seguia armazenado no celular de Ramagem que foi apreendido pela Polícia Federal. O conteúdo, entretanto, reforçaria o discurso de “perseguição política” e, por isso, não põe fim à candidatura de Ramagem.


Ao saber da existência da gravação, Bolsonaro teria se mostrado irritado e chegou-se a especular que Ramagem poderia ser rifado.


— Se essa é a tal “bomba” contra o Ramagem, ele está feito. Tentaram interferir nas eleições, mas se trata de um atestado de boa fé. Seguimos reforçando que Bolsonaro e Ramagem estão juntos no objetivo de livrar o Rio de Janeiro da esquerda — afirma o filho 01 do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).


O arquivo mostra Ramagem, Bolsonaro, o general Augusto Heleno e duas advogadas discutindo a participação de auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência fiscal que originou justamente o inquérito das “rachadinhas” contra Flávio.


De acordo com pessoas que trabalham na campanha de Ramagem ouvidas pela reportagem, as manifestações de bolsonaristas sobre o assunto devem citar uma “tentativa de desgaste da campanha”, sem implicação de Bolsonaro para cometer qualquer ato ilícito.


As peças de campanha também vão reforçar a amizade entre os dois. As gravações feitas até aqui exploram justamente a relação de confiança entre Bolsonaro e Ramagem, a intimidade. Ambos são apresentados como amigos, que sempre se consultavam em momentos difíceis. Agora, a campanha indicará que eles não soltaram as mãos em meio a “intrigas”.


Ramagem prestará depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira e espera-se que ele conceda uma entrevista coletiva depois. A partir de quinta-feira, ele e Bolsonaro voltarão a realizar agendas públicas. Em seus discursos, os dois devem atacar o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que surge como favorito nas pesquisas de intenção de votos.


A versão de Ramagem


Ramagem, que era diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na ocasião, afirmou que gravou a reunião com autorização de Bolsonaro. A gravação foi apreendida pela Polícia Federal no celular de Ramagem e compõe o inquérito que apura a suposta espionagem ilegal praticada durante o governo passado para beneficiar o ex-mandatário, seus filhos e aliados.


— Essa gravação não foi clandestina. Havia o aval e o conhecimento do presidente — disse Ramagem em vídeo postado na rede X. Ele explicou que gravou o encontro de 1 hora e 8 minutos com o objetivo de registrar um crime e proteger o então presidente.


Segundo Ramagem, “havia a informação” de que viria no encontro uma pessoa próxima do então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, com uma “proposta nada republicana”. Na época, Bolsonaro tratava Witzel como um adversário político que visava tomar o seu lugar no Palácio do Planalto.


— A gravação, portanto, seria para registrar um crime, um crime contra o presidente da República. Só que isso não aconteceu e a gravação foi descartada — afirmou ele.


A reunião ocorreu em agosto de 2020 no Palácio do Planalto e contou com Bolsonaro, Ramagem, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e duas advogadas de Flávio. No áudio, as defensoras falam de supostas irregularidades cometidas por auditores da Receita Federal que elaboraram um relatório de inteligência fiscal que originou investigação da chamada “rachadinha” contra Flávio Bolsonaro.


Durante o encontro, Bolsonaro e Ramagem falam sobre estratégias para blindar o filho 01 da investigação da chamada “rachadinha”. Entre as sugestões dadas à defesa de Flávio, eles falam em falar com o chefe da Receita e vir uma ação “de dentro” do órgão.


— Quando o presidente se manifestou, ele sempre informou que não queria favorecimento, sempre se manifestou que não queria jeitinho muito menos tráfico de influência — ressaltou Ramagem.


Fonte: Agenda do Poder com informações do GLOBO.

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