quinta-feira, 18 de julho de 2024

Mauro Cid disse à PF que empresário do agro bancou viagem de Bolsonaro aos EUA

 PF suspeita que parte das despesas de Bolsonaro no país foram custeadas com valores provenientes da venda ilegal das joias


O tenente-coronel Mauro Cid afirmou à Polícia Federal, em um dos depoimentos do seu acordo de delação premiada, que o empresário do agronegócio Paulo Junqueira bancou a viagem do ex-presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, realizada no fim de dezembro de 2022 após a derrota nas eleições. O ex-presidente passou três meses no país.


Segundo informa o colunista Aguirre Talento, do portal UOL, a PF obteve indícios de que um familiar do empresário entregou um envelope de dinheiro vivo ao ex-presidente nos EUA. O próprio empresário confirmou a uma repostagem do UOL, publicada na semana passada, que ajudou a bancar despesas da hospedagem de Bolsonaro.


Procurada, a defesa de Bolsonaro não se manifestou. O empresário não respondeu aos contatos feitos nesta quarta-feira (17).


Junqueira, que preside o Sindicato Rural de Ribeirão Preto, também emprestou sua casa para que Bolsonaro se hospedasse no período em que ficou no país. Ainda no cargo de presidente da República, ele viajou para os EUA porque não queria passar a faixa presidencial para Lula.


Em um dos termos de depoimento de sua delação premiada, obtido pelo portal UOL, Cid disse que o empresário foi responsável por bancar despesas da viagem de Bolsonaro no país. A PF não chegou a fazer questionamentos para aprofundar esse ponto do depoimento, que também abordou outros assuntos.


O depoimento foi prestado em setembro do ano passado, quando Cid assinou seu acordo de delação. O material está sob sigilo.


Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Cid passou quatro meses preso no ano passado, por suspeitas de envolvimentos em diversos crimes. Ele deixou a prisão após fechar um acordo de delação.


Depois do depoimento, a PF encontrou no celular de Cid diálogos sobre a entrega de um envelope de dinheiro vivo pelo genro do empresário.


Os diálogos foram anexados ao inquérito que trata do desvio das joias, mas esse ponto não chegou a ser aprofundado. Esse fato deve ser investigado em uma outra linha de apuração a ser aberta pela PF.


Os diálogos


Em 31 de dezembro, quando ainda era presidente da República, Bolsonaro recebeu a visita do genro do empresário, Samuel Oliveira, que foi responsável por fazer a entrega do dinheiro.


Questionado pelo UOL na semana passada, Junqueira disse que se tratava de um “valor irrisório”.


“Ele foi entregar o imóvel pra eles, a chave. Tinha alguns reparos para serem feitos na casa, e o Samuel, se não me engano, por que eu não tava lá né, aí você teria que falar com o Samuel, entregou alguma coisa pra eles assim pra que fosse feito algum reparo, alguma coisa no imóvel. Mas sem dúvida alguma foi um valor irrisório. Parece que também que o Samuel, se eu nao me engano foram feitas também algumas compras com o cartão”, disse o empresário.


Mauro Cid recebeu uma mensagem de um funcionário da Ajudância de Ordens comunicando sobre a visita. “Compras foram feitas e a casa já está abastecida. A cobertura da área da piscina foi finalizada para garantir a privacidade. O Samuel (genro do Paulo) prefere ir encontrar o PR amanhã para entregar a encomenda”, disse o funcionário.


No dia seguinte, Cid perguntou ao coronel Marcelo Câmara, segurança de Bolsonaro que o acompanhava na casa, se houve a entrega do dinheiro. “Samuel entregou o dinheiro?”, escreveu na mensagem. “Cartão do Junqueira?”, complementou Cid, sem deixar claro se houve a entrega de um cartão de visitas ou cartão de crédito.


O coronel Marcelo Câmara confirmou a entrega e disse que ficaria com parte do dinheiro “para controle” e que cumpria demandas da primeira-dama Michelle. “Sim entregou. E eu passei para o cordeiro [Sérgio Cordeiro, também integrante da equipe de segurança]. Aí ele vai falar com o PR. Avisei para deixar uma parte comigo para controle. A PD me manda msg pedindo as coisas eu faço”, escreveu Câmara a Cid.


“Diante dessas conversas entre Mauro Cid, Daniel Luccas e Marcelo Câmara, ficou evidente que Samuel entregaria uma encomenda (dinheiro) para o ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda no ano 2022, enquanto ainda exercia o cargo de Presidente da República do Brasil”, diz o relatório pericial da Polícia Federal.


O presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto, Paulo Junqueira, inicialmente confirmou que seu genro fez pagamentos para a equipe de Bolsonaro, mas depois disse que não ordenou pagamentos nem a entrega de dinheiro para o ex-presidente. “Da minha parte, não foi pedido pra entregar, e nem acredito que o Samuel tenha entregue absolutamente nada para o presidente Bolsonaro. Eu cedi o imóvel pra ele ficar, ele não foi pro meu imóvel no início da temporada que ele teve lá, ele ficou num outro imóvel”, afirmou, em conversa com o UOL por telefone na semana passada.


“Agora eu vou receber os meus amigos na minha casa, a casa tem que estar em ordem. Pode ser que o Samuel tenha entregue alguma coisa, não para o presidente Bolsonaro. Pra que alguma coisa tenha sido arrumada, alguma coisa nesse sentido, entendeu. Te garanto também que foi alguma coisa irrisória”, disse.


A PF também suspeita que parte das despesas de Bolsonaro no país foram custeadas com valores provenientes da venda das joias.


Fonte: Agenda do Poder com informações do UOL

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