"Essa tendência de atores, jogadores e cantores de vir e dizer aos franceses em que eles devem votar (...) está começando a ficar muito presente em nosso país", criticou
RFI - "Os franceses estão fartos de receber lições de moral e instruções para votar", disse a líder da extrema direita francesa ao canal de TV norte-americano CNN International, que publicou um trecho de sua entrevista nas redes sociais.
"Kylian Mbappé é, sem dúvida, um jogador de futebol muito bom", admitiu Le Pen, ela própria "não muito fã de futebol". Mas "essa tendência de atores, jogadores de futebol e cantores de vir e dizer aos franceses em que eles devem votar (...) está começando a ficar muito presente em nosso país", acrescentou, principalmente quando são "milionários ou mesmo bilionários que vivem no exterior" e estão falando com "pessoas que ganham € 1.300, € 1.400 por mês", enfatizou.
"As pessoas que têm a sorte de viver bem, muito bem mesmo, de estar protegidas da insegurança, da pobreza e do desemprego, (...) deveriam ser mais reservadas", insistiu Le Pen, líder do maior partido de extrema direita da França.
Na quinta-feira (4), Kylian Mbappé disse que era "realmente urgente" votar após os "resultados catastróficos" do primeiro turno, que colocaram o RN em posição de conquistar uma maioria de assentos na Assembleia Nacional da França.
"Esperamos que todos se mobilizem e votem no lado certo", acrescentou o atacante estrela dos Bleus, como é conhecida na França a seleção nacional masculina de futebol, em uma coletiva de imprensa antes das quartas de final da Eurocopa, na noite desta sexta-feira, na Alemanha.
"Há um verdadeiro sentido de urgência. Não podemos colocar o país nas mãos dessas pessoas", disse o atacante, cuja equipe vai disputar a vaga contra Portugal.
Futebol e extrema direita
Em 16 de junho, a estrela do futebol francês já havia se manifestado politicamente durante um episódio bastante comentado em uma entrevista coletiva em Düsseldorf. Na ocasião, o capitão da seleção francesa declarou que não quer "representar um país que não corresponde aos seus valores". Um texto opinativo assinado por 160 atletas franceses, publicado no jornal esportivo L'Equipe, também pedia uma “mobilização” geral contra a extrema direita na França.
A relação entre o futebol e Marine Le Pen nunca foi simples. Em 2010, por exemplo, ela chegou a dizer que não se reconhecia "no time de futebol francês", e alegou que "alguns jogadores têm outra nacionalidade no coração". "Eles se envolvem" em outras bandeiras, disse, na ocasião, ao canal francês BFMTV.
"A maioria dessas pessoas considera que está representando a França quando se encontra na Copa do Mundo e, no minuto seguinte, considera que pertence a outra nação ou que tem outra nacionalidade no coração", disse Marine Le Pen. "Se eles se comportassem adequadamente, se às vezes ouvíssemos esses jogadores falarem sobre patriotismo, se alguns deles não se recusassem a cantar a Marselhesa, se não os víssemos enrolados em bandeiras de outras nações que não a nossa, talvez as coisas mudassem. Mas do jeito que as coisas estão, tenho que admitir que não me reconheço particularmente nessa equipe", continuou.
Marine Le Pen também admitiu que "futebol não é muito a minha praia", admitindo que não conhecia Raymond Kopa, o grande atacante francês dos anos 1950 e 1960. Em 1996, no auge da Copa das Nações Europeias, seu pai, cofundador do partido de extrema direita Frente Nacional (FN), na década de 1970, Jean-Marie Le Pen, causou polêmica ao dizer que era uma atitude "artificial trazer jogadores do exterior e chamá-los de time francês".
Em plena Copa do Mundo de 2022, o jornal Le Parisien revelou que havia perguntado à líder do RN sua opinião sobre a seleção francesa e a Copa do Mundo em geral. A resposta de Marine Le Pen foi desconcertante. "Ah, nós ganhamos?", ela perguntou, antes de ironizar: "Nós somos tão bons!"
Fim de campanha sob alta tensão
A França encerra uma campanha sob alta tensão nesta sexta-feira (5), a dois dias de eleições legislativas históricas que farão com que o país se incline para a extrema direita e possa se afundar em uma grave instabilidade política.
A campanha oficial termina à meia-noite de Paris (19h em Brasília) e terá revelado a grande fragmentação política da França, um dos pilares da União Europeia, após sete anos de presidência de Emmanuel Macron.
Essa fratura deu origem a uma campanha violenta, com ataques físicos a ativistas, ameaças verbais, acerto de contas políticas e o desencadeamento de retórica racista. "51 candidatos, deputados ou ativistas" foram "agredidos fisicamente" nos últimos dias, de acordo com o ministro do Interior do país, Gérald Darmanin.
Em um sinal do clima tenso, o governo anunciou que "30 mil policiais, incluindo 5 mil em Paris e seus subúrbios" serão mobilizados no domingo para a noite do segundo turno.
(Com AFP)
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