Atualmente, mais de 50% da população venezuelana vive abaixo da linha da pobreza, mas eleitores chavistas não consideram culpado o atual presidente
No último comício chavista em Caracas antes da votação para a escolha do presidente da Venezuela no próximo domingo, músicas nas quais Maduro é chamado de “meu galo pinto” (galo valente, em em espanhol) dominaram a cena e buscaram animar um eleitorado chavista que, embora insatisfeito com os resultados de seu governo, continua apoiando o herdeiro escolhido em vida pelo ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013).
A imagem do chefe de Estado como galo pinto foi pensada, comentam analistas em Caracas, após chegarem às mãos do presidente e seus assessores pesquisas qualitativas nas quais eleitores tradicionalmente chavistas afirmavam considerar Maduro “fraco”. Ser visto como frágil é algo inconcebível para um líder chavista que, como dizem letras de outras músicas típicas de comícios de Maduro, devem enfrentar batalhas, derrotar o imperialismo e defender a pátria socialista.
Em sua terceira campanha eleitoral, Maduro incorporou palavras como futuro, evolução, transformação e mudanças, mas continuam presentes os lemas herdados de Chávez e relacionados “à defesa do socialismo na luta contra o capitalismo” e da soberania nacional diante das “ameaças do imperialismo colonialista”.
O eleitor chavista de 2024 preserva o decálogo construído por Chávez e incorpora as novidades que chegaram com o madurismo, sobretudo nos últimos anos, os mais desafiadores para o presidente venezuelano.
Num comício previsto para durar 12 horas e dividido em três pontos de encontro em Caracas, eleitores chavistas cantaram as músicas de Maduro vestindo camisetas com frases que lembram épocas passadas. Algumas dessas camisetas têm a imagem de Chávez, o líder eterno e de culto inabalável. Outras, que custam, em média, cinco dólares, refletem os novos tempos com frases como “Com Nico há futuro”, “Nico vai pra frente” e “Nico é meu candidato”, entre outras.
O governo de Maduro carrega índices muito baixos de popularidade — segundo algumas pesquisas, inferiores a 15% —, mas para muitos eleitores chavistas continua sendo a única opção. Por lealdade a Chávez, pavor da oposição ou ambos.
— A vida tá difícil, sim, mas confiamos em Nicolás, vai melhorar — comenta a vendedora ambulante Yubisay Rodríguez, de 25 anos.
Os eleitores chavistas costumam argumentar que se a oposição vencer no próximo domingo terminará a chamada Quinta República, que começou com Chávez, e será iniciada uma Sexta República, que trará de volta os dramas da Quarta República, que se estendeu de 1958 até 1988. Nesse período da História venezuelana houve uma alternância de poder entre os partidos Ação Democrática e Copei, no chamado Pacto de Punto Fijo (Pacto de Ponto Fixo, em tradução livre).
Os últimos 20 anos da Quarta República foram marcados por um processo de empobrecimento e desigualdade que afetou, principalmente, os setores populares e que impulsionou o surgimento do chavismo.
Atualmente, mais de 50% da população venezuelana vive abaixo da linha da pobreza, mas eleitores chavistas como Carlos Padrón, um enfermeiro que trabalha num hospital, em suas palavras, “caindo aos pedaços”, afirmam que a culpa não é de Maduro e sim das sanções econômicas e do “imperialismo que nos boicota permanentemente”.
— Os dirigentes opositores são os responsáveis pelas sanções. Por eles estamos como estamos — assegura Carlos, de 32 anos, que votou por Maduro nas últimas duas eleições.
Para esses chavistas, a oposição jamais será uma opção. Pelo contrário, a oposição é sempre a responsável pelos males do país, e o chavismo a vítima de uma campanha permanente de boicote, dentro e fora da Venezuela.
O país enfrenta atualmente quase mil sanções implementadas por países como Estados Unidos e blocos como a União Europeia, usadas pelo chavismo para alimentar sua narrativa interna. Alguns dados econômicos também fazem parte da estratégia oficial, entre eles o de destacar que em maio passado o país registrou inflação de 1,5%, a mais baixa dos últimos 20 anos, de acordo com o Banco Central — depois de bater 189,8% em 2023.
Para muitos eleitores chavistas, “sem as sanções estaríamos muito melhor”, uma hipótese impossível de provar porque nada indica que a comunidade internacional vai aliviar as punições contra um governo que é investigado por supostas violações dos direitos humanos no Tribunal Penal Internacional (TPI).
Mas nada disso importa ao eleitor chavista. Sentada na calçada ao lado de seus filhos e alguns amigos, a costureira Usnavi González assegura que “somente com o chavismo nos sentimos tranquilos”.
Fonte: Agenda do Poder com informações de O Globo.
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