sexta-feira, 12 de julho de 2024

“Abin paralela” espionou podcast e perfis no Twitter críticos a Bolsonaro, além de espalhar fake news sobe ONG que defende desarmamento

 Esquema de espionagem também alcançou agências de checagem e movimento contra desinformação

O monitoramento clandestino feito por membros da Agência Brasileia de Inteligência (Abin) incluiu autoridades dos Três Poderes, além de jornalistas, agências de checagem, um perfil do X (antigo Twitter) crítico ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e até mesmo um podcast. Além disso, o esquema produziu fake news sobre o Instituto Sou da Paz, ONG que pesquisa violência e é a favor do desarmamento.


Desinformação sobre ONG


No relatório de quase 200 páginas produzido pela Polícia Federal sobre a “Abin paralela”, estrutura dentro da Agência Brasileira de Inteligência usada por bolsonaristas para espalhar minar opositores, um dos alvos foi o Instituto Sou da Paz, informa o colunista do jornal O GLOBO Ancelmo Gois.


Segundo a PF, o militar do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, cedido à Abin, foi responsável pela propagação de desinformação relacionada ao instituto, incluindo dados sobre possíveis advogados da instituição.


Giancarlo era responsável por enviar informações ao dono de um perfil no Twitter, de endereço @richard_pozzer, que propagava dados falsos entre os correligionários de Jair Bolsonaro.


O servidor, aliás, confirmou ser responsável pela divulgação de informações falsas em contato com Marcelo de Araújo Bormevet, outro funcionário cedido à Abin — e que foi preso ontem pela PF. Num dos contatos, há uma menção sobre “marcar o CB” nas postagens. Segundo a PF, “CB” seria o vereador Carlos Bolsonaro.


Autoridades e críticos sob vigilância


Na representação sobre o esquema enviada ao STF, a Polícia Federal (PF) listou quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), oito parlamentares ou ex-deputados e cinco integrantes do Poder Executivo, incluindo servidores, entre os espionados. O esquema, no entanto, ia além e incluía também diversos críticos de Bolsonaro.


No STF, foram monitorados os ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux. No Legislativo, os alvos incluem o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ex-presidente Rodrigo Maia e quatros senadores que integraram a CPI da Covid: Alessandro Vieira (MDB-SE), Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL).


A PF apontou, no entanto, que a espionagem foi além. O militar do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que foi cedido pela Abin e é um dos investigados, afirmou que em uma mensagem que estava levantando informações sobre os perfis “Tesoureiros” e “Medo e Delírio em Brasília”, esse último referente a um podcast de mesmo nome.

Podcast e o perfil no X 'Medo e Delírio em Brasília' — Foto: Reprodução
Podcast e o perfil no X ‘Medo e Delírio em Brasília’ — Foto: Reprodução


A página Tesoureiros (antigamente chamada Tesoureiros do Jair) ganhou notoriedade durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, quando ajudou a levantar informações sobre os temas investigados pelo colegiado. Já o “Medo e Delírio” adotava um tom crítico à gestão Bolsonaro.


“As ações clandestinas relacionadas aos perfis do Twitter ‘tesoureiros’ e ‘medo e delírio’ declaradas pelo militar Giancarlo ao policial federal Bormevet resultou no ‘dossiê’ materializado no arquivo: ‘Tesoureiros.pdf’”, descreveu a PF.


Outro alvo foi o movimento Sleeping Giants Brasil, um perfil anônimo nas redes sociais que costuma pressionar empresas a retirar a publicidade de sites, que, na visão deles, veiculam notícias falsas. Giancarlo Rodrigues afirmou, em mensagem enviada ao policial federal Marcelo Bormevet, que havia repassado informações sobre o coletivo para uma página do Twitter.


Rodrigues ainda levantou informações sobre as agências de checagem Aos Fatos e Agência Lupa, que avaliam a veracidade de declarações de autoridades e publicações em redes sociais, entre outros conteúdos.

Quem foi monitorado — Foto: Editoria de Arte
Quem foi monitorado — Foto: Editoria de Arte

Fonte: Agenda do Poder com informações do GLOBO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário