Mesmo após publicação de reportagem apontando abusos cometidos por Tales de Carvalho, a Polícia Civil do Paraná permaneceu inerte
A Polícia Civil do Paraná soube em 2021 das acusações contra o empresário e astrólogo Tales de Carvalho, filho de Olavo de Carvalho, mas se omitiu de investigar os crimes, informa o colunista Guilherme Amado, do portal Metrópoles. Em maio daquele ano, Calinka Padilha de Moura, ex-mulher de Tales, fez um registro de ocorrência relatando os abusos a que era submetida pelo ex-marido. Denunciou, inclusive, uma ameaça de morte.
O boletim de ocorrência foi registrado no dia 14 de maio de 2021, logo após Calinka ter fugido da casa em que morava com Tales no Paraguai. A ex-mulher do filho de Olavo de Carvalho apontou supostos crimes praticados no Paraguai e no Brasil, como a ameaça de morte.
“Minha filha avisou-me que ele estava objetivando minha localização e fazendo inúmeras injúrias e difamações ao meu respeito. Esclareço que ele sempre relatou que, caso eu fugisse, ele falava que tiraria minhas filhas de mim e até mesmo me mataria”, disse Calinka no registro feito na Polícia Civil do Paraná.
Ela também detalhou à corporação o relacionamento abusivo que vivia:
“Fui vítima inúmeras vezes de torturas físicas, aprisionamento em residência com total controle das minhas atividades, abuso sexual e outras coisas. Os atos algumas vezes foram presenciados pelas primeiras filhas”.
Nesta quinta-feira (27/6), uma reportagem da coluna de Guilherme Amado no portal Metrópoles mostrou que o filho de Olavo de Carvalho, dono da escola de cursos Instituto Cultural Lux et Sapientia (ICLS), cometeu, durante pelo menos dois anos e meio, uma série de abusos e torturas contra duas das mulheres com que foi casado. Uma delas era Calinka.
A reportagem trouxe o relato de Calinka e de duas das três filhas deles, Julia e Ana Clara. As netas de Olavo de Carvalho confirmam terem crescido “em um ambiente de medo” e vendo a mãe ser violentada pelo pai.
A chefe da Delegacia da Mulher no Paraná, a delegada Emanuele Maria de Oliveira Siqueira, disse que a Polícia Civil fez diversas diligências, mas que “não conseguiu” intimar Calinka para uma representação na delegacia. O boletim de ocorrência havia sido registrado pela internet.
“Nós tentamos de 2021 até 2022 a intimação dela porque essa parte do Brasil dependia do depoimento dela. Mas eu acionei a Polinter sobre os crimes que ela relata terem acontecido no Paraguai”, alegou Siqueira.
Calinka, entretanto, foi presencialmente na delegacia antes de registrar o boletim de ocorrência online. A ex-mulher de Tales estava acompanhada de sua filha Júlia e do ex-genro. Segundo Calinka, o delegado que a atendeu orientou que ela registrasse um boletim de ocorrência pela internet e que colocasse o endereço do escritório de seu advogado.
O endereço fornecido à Polícia Civil no registro de ocorrência foi do escritório do advogado Levi de Andrade, que a representava na época do divórcio. À coluna, a chefe da Delegacia da Mulher no Paraná disse que Calinka foi intimada por Andrade, mas que nunca compareceu à delegacia.
Calinka disse que nunca soube das intimações por Levi de Andrade. Questionado sobre as intimações, o advogado disse à coluna, nesta quarta-feira (27/6), que a ex-mulher de Tales de Carvalho é “complicada”.
O advogado negou que tenha se omitido de avisar à Calinka sobre as intimações. Andrade alegou que prints de conversas de WhatsApp comprovariam que ele informou à Calinka sobre as intimações, mas que perdeu a troca de mensagens quando mudou de celular.
A delegada disse que, devido à ausência de depoimento na delegacia, a Polícia Civil não conseguiu abrir um inquérito para investigar os crimes supostamente cometidos por Tales de Carvalho contra a ex-mulher.
Entretanto, por se tratar de um caso de ameaça de morte e perseguição, a Polícia deveria, segundo especialistas ouvidos pela coluna, ter sido mais assertiva e insistente no contato com Calinka.
A coluna enviou uma série de perguntas ao delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Silvio Jacob, sobre a omissão da corporação na investigação do caso. Entre as perguntas, a reportagem questionou se é procedimento padrão da Polícia Civil mandar uma mulher vítima de abusos registrar um boletim de ocorrência online.
Fonte: Agenda do Poder com informações da coluna do jornalista Guilherme Amado, no Metrópoles
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