Historiador analisa em entrevista o aspecto histórico da cultura do estupro que se perpetua no Brasil. Assista na TV 247
O professor e historiador
Francisco Carlos Teixeira, da UFRJ, abordou, em entrevista à TV 247, o PL
1904/2024, conhecido como PL antiaborto ou PL do Estupro. Ele argumentou que a
proposta se insere na história da cultura de violência de gênero no Brasil e
criticou duramente as elites política e religiosa do país, que buscam equiparar
o aborto ao crime de homicídio.
Teixeira qualificou o PL como “coisa insana” e afirmou que
a ofensiva sobre os direitos reprodutivos das mulheres não começou agora. Ele
disse que, apesar de o Brasil ser frequentemente celebrado como "o país do
futebol" e "o país do futuro", há uma realidade sombria que é
frequentemente ignorada. "Poucas vezes tem se dito que, ao longo da
história do Brasil, o Brasil tem sido, sobretudo, o país do estupro",
disse.
Ele fez uma análise histórica, afirmando que o país nasceu
"sob o estupro das índias e depois das mulheres negras africanas trazidas
pro Brasil como trabalho forçado." Segundo ele, essa violência foi
perpetuada por uma cultura "branca, homofóbica, misógina e falocrata"
que permitia o estupro "para os homens brancos de bem".
Teixeira então criticou o Congresso Nacional por permitir
"uma lei tão insana e tão monstruosa como essa", sublinhando a
necessidade de entender a história de sofrimento das mulheres indígenas e
negras. Ele mencionou que, muitas vezes, essas mulheres recorriam ao aborto, em
situações desesperadoras causadas pelo "colonizador português" e
pelos "invasores".
Ele também destacou a continuidade da "cultura do
estupro" no Brasil, lamentando que "religiosos cujo traço principal
deveria ser a compaixão não entendem e não estudam nada da sua própria teologia
e da sua própria religião".
O professor apontou a Igreja como responsável pelo alinhamento com as "elites das classes dominantes" para manter a mulher "como uma fornecedora de crianças que trabalhavam 18 horas por dia na Revolução Industrial." Segundo ele, questões como essa são "econômicas, e não são religiosas". Teixeira também chamou de "absolutamente hipócritas" aqueles que não reconhecem a necessidade de um debate sério sobre o aborto e a violência no Brasil.
Assista na TV 247:
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