Falta de atendimento em São Paulo forçou a família a viajar mais de 2.000 km para interromper gravidez, fruto de um estupro; criminoso continua foragido
Uma menina de 14 anos de
Guarulhos (SP), identificada pelo nome fictício Karen, precisou viajar até
Salvador (BA) para realizar um aborto legal após ser estuprada pelo marido de
sua avó. De acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo, a jovem, que estava na
31ª semana de gestação, não conseguiu atendimento em dois hospitais de São
Paulo, onde o procedimento é limitado a 20 semanas. A tragédia revela falhas
graves no sistema de saúde e na aplicação da justiça, já que o criminoso permanece
foragido.
Vânia, mãe de Karen, também com nome fictício, notou o
aumento do volume abdominal da filha e, após insistência, descobriu o abuso.
Desesperada, registrou um boletim de ocorrência e procurou o Hospital da Mulher
em São Paulo, onde a filha foi submetida a exames e ao coquetel anti-HIV, mas
informada de que o aborto não poderia ser realizado devido ao estágio avançado
da gestação. No Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, receberam a mesma
negativa, agravada pela suspensão do serviço pela prefeitura.
Sem alternativas, mãe e filha viajaram de ônibus até Salvador,
enfrentando uma jornada de dois dias e cinco horas. O procedimento foi
finalmente realizado no Hospital da Mulher na capital baiana. "Minha filha
não aguentava mais a situação", relatou Vânia, destacando o sofrimento
psicológico e físico da menina. Enquanto isso, o estuprador continua foragido.
"Minha filha sempre pergunta: 'e aí, mãe, não vai acontecer nada com ele?
Por que ele não foi preso se cometeu um crime?'", disse Vânia.
O caso ganha contornos ainda mais dramáticos diante da
tramitação urgente do Projeto de Lei Antiaborto por Estupro na Câmara dos
Deputados, que propõe a criminalização do aborto após 22 semanas de gestação
para vítimas de estupro. "Cadê a lei? Cadê a Justiça? Não existe. Querem
culpar a vítima de estupro e não vão atrás de quem faz esses absurdos",
desabafou Vânia.
Ainda de acordo com a reportagem, a
recuperação de Karen tem sido lenta e dolorosa, mas ela recebe apoio
psicológico do SUS e do Conselho Tutelar. Aos poucos, ela retoma a vida,
cursando o primeiro ano do ensino médio e jogando vôlei. A família, apesar da
dor, mantém a esperança. "A gente crê em Deus, e eu acho que, apesar de
tudo o que aconteceu com minha filha, ele tem um propósito grande para a vida
dela", finaliza Vânia.
Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo
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