quarta-feira, 12 de junho de 2024

Lula reclama de erros da equipe com tentativa de criar medida para compensar desoneração da folha de pagamento

 Presidente afirmou que governo deveria ter negociado uma fonte de receitas no momento em que firmou o acordo para manter a desoneração

Em reunião com auxiliares mais próximos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou dos erros do governo na tentativa de criar uma medida para compensar a desoneração da folha de pagamento de empresas e municípios. A queixa foi feita durante seu encontro semanal com ministros e líderes do governo. Segundo relatos de quatro participantes, Lula afirmou que sua equipe deveria ter negociado uma fonte de receitas no momento em que firmou um acordo para manter a desoneração.


A edição de uma medida provisória que restringe o uso de crédito presumido de PIS/Cofins provocou uma reação negativa do setor produtivo e resultou em uma derrota para o governo. O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciou a devolução do texto, decisão que anula sua validade. A desoneração, por sua vez, continua em vigor.


Integrantes do governo apontam que as críticas de Lula foram direcionadas a toda a equipe. A proposta foi elaborada pelo Ministério da Fazenda no final de maio recebeu aval da Casa Civil e foi apresentada à equipe de articulação política. A medida foi assinada por Lula em 4 de junho. Na avaliação de Lula, de acordo com esses relatos, o governo deveria ter negociado de maneira simultânea o acordo que deu continuidade à desoneração e a medida para compensar uma renúncia estimada em R$ 26,3 bilhões.


O Palácio do Planalto, no entanto, levou quase um mês para formalizar uma solução para o caso. O governo fechou em 9 de maio um acordo com o Congresso para preservar a desoneração da folha em 2024 e iniciar uma transição gradual para o fim do benefício a partir do próximo ano.


A manutenção da desoneração era uma demanda dos parlamentares. A negociação envolveu o Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu uma liminar e determinou a criação de uma medida compensatória para cobrir o valor da renúncia. O governo solicitou à corte a retomada da desoneração em 17 de maio.


Auxiliares de Lula indicam que a Fazenda tentou elaborar uma medida de compensação ao longo de todo esse processo, mas não conseguiu fechar uma proposta dentro do prazo das negociações com o Congresso e o STF.


O tempo foi curto porque, sem a suspensão da liminar, os municípios e empresas estariam submetidos a uma tributação maior já em 20 de maio. A avaliação política de Lula é que o governo teria mais força nas negociações caso a medida de compensação estivesse em conjunto com a manutenção da desoneração.

Desde o anúncio da MP que restringiu o uso de créditos de PIS/Cofins, o Ministério da Fazenda foi alvo de uma enxurrada de reclamações de associações setoriais e de frentes parlamentares, que pediam a devolução da medida ao Executivo.


O setor mais afetado seria o agronegócio, que precisaria seguir regras mais rígidas para compensação dos tributos pagos sobre insumos na cadeia e não poderia se ressarcir de créditos presumidos, uma espécie de valor fictício concedido como benefício fiscal.


Reportagem da Folha mostrou que a proposta azedou os ânimos de empresários com o governo e foi avaliada como uma demonstração de que a atual gestão está disposta a tirar dinheiro de onde puder para não cortar gastos.


O governo previa arrecadar até R$ 29,2 bilhões com a MP, valor mais do que suficiente para bancar a desoneração da folha para empresas de 17 setores e de municípios com até 156 mil habitantes.


Entre os grupos beneficiados com a desoneração está o setor de comunicação, que inclui o Grupo Folha, empresa que edita a Folha de S.Paulo. Também são contemplados os segmentos de calçados, call centers, confecção e vestuário, construção civil, entre outros.


Além de Pacheco, que tomou a decisão de devolver a medida provisória, o mal-estar também envolveu o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Quando a MP foi publicada, Lira chegou a pedir explicações ao Ministério da Fazenda.


Segundo relatos, ele afirmou que a proposta não havia sido negociada previamente com ele e que desconhecia o conteúdo do texto. Em conversas com interlocutores, o deputado avaliou que seria difícil a MP obter votos suficientes para ser aprovada na Câmara. Ele também relatou ter recebido diversas ligações de representantes de diferentes setores questionando a viabilidade da proposta.


Fonte: Agenda do Poder com informações da Folha de S. Paulo.

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