Conselheira do Comitê Internacional de Resgate conta o que viu em Gaza: um menino de seis anos sem um pé, uma menina sem os dois pés e “um bebê sem o braço e a perna direita"
Em uma pequena casa em Gaza,
onde o cheiro de pão recém-assado misturava-se com o som ensurdecedor dos
combates ao redor, a cena de um cirurgião improvisado salvando a vida de sua
sobrinha capturou a essência brutal da guerra. Ahed, uma adolescente gravemente
ferida, sangrava na mesa da cozinha quando seu tio, Hani Bseso, um ortopedista
de 52 anos, teve que tomar uma decisão desesperada. Sem instrumentos
cirúrgicos, anestésicos ou antibióticos, ele usou uma faca de cozinha, tesouras
e linha de costura para amputar a perna da jovem.
“Ela estava gravemente ferida”, Bseso recorda, “e sem
nenhuma ferramenta, nenhum anestésico, nada, tive que encontrar uma maneira de
salvar sua vida”, relata o médico em reportagem do The New York Times,
reproduzida pelo jornal O Globo.
O genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza já deixou mais
de 37 mil mortos e um número ainda maior de feridos no enclave de Gaza, segundo
autoridades locais de saúde. Dentre os 85 mil feridos, muitos enfrentam a dura
realidade das amputações. A situação em Gaza se agrava ainda mais devido ao
colapso do sistema de saúde local. Com hospitais destruídos ou funcionando com
escassez severa de suprimentos médicos essenciais, como anestésicos e
antibióticos, os médicos são forçados a amputar membros que poderiam ser salvos
em outras circunstâncias.
“Não há boas opções lá”, afirmou Ana Jeelani, cirurgiã
ortopédica de Liverpool, Inglaterra, que passou duas semanas no Hospital
al-Aqsa em março. Ela descreve uma luta constante contra a falta de suprimentos
e as condições insalubres que facilitam infecções fatais. “A esterilização
completa é impossível. As bandagens acabam, o sangue disponível é insuficiente,
e os pacientes ficam em camas sujas – é uma tempestade perfeita para
infecções".
Seema Jilani, conselheira sênior de saúde de emergência para o
Comitê Internacional de Resgate, compartilha histórias de horror de suas duas
semanas em Gaza. Entre as memórias que ela não consegue apagar está a de um
menino de seis anos, coberto de queimaduras e sem um pé, e uma menina sem os
dois pés. “Havia um bebê sem o braço e a perna direita, sangrando e
necessitando de um dreno torácico que não estava disponível. Ele não recebeu
nada para a dor e não havia macas. Um cirurgião ortopédico tentou estancar o
sangramento, mas não levou o bebê à sala de operações porque havia casos mais
urgentes".
A guerra trouxe um "inferno cheio de cenas de
pesadelo", diz Jilani. “Tentei imaginar o que pode ser mais urgente do que
um bebê de um ano sem mão, sem perna, sufocando com seu próprio sangue. Isso
lhe dá uma ideia da escala dos ferimentos que estamos vendo.”
A UNICEF estimou em novembro que cerca de
mil crianças palestinas haviam perdido uma ou ambas as pernas devido aos
combates, um número que provavelmente aumentou nos últimos meses.
Fonte: Brasil 247 com informações do
jornal O Globo
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