Esse tipo de pensamento denota total desconhecimento da lógica do sistema eleitoral
Já ouvi essa alegação de muita gente: “Voto na pessoa. O que
importa é a pessoa. Se ela for boa, voto nela!" Costumam dizer.
Esse tipo de pensamento denota total desconhecimento da
lógica do sistema eleitoral, principalmente o proporcional. Nesse sistema, a
priori votamos para a legenda partidária. Isso mesmo, nosso voto tem a função
de decidir quais partidos preencherão as vagas disponíveis e quantas cadeiras
cada um ocupará nas câmaras municipais na próxima legislatura. Desse modo,
muitos eleitores votam pensando estar escolhendo uma determinada pessoa para
ocupar uma vaga quando, na verdade, estão votando para o partido na qual o
candidato está filiado. As vagas são dos partidos e podem não eleger o
candidato que o eleitor gostaria.
Dificilmente um candidato sozinho consegue uma votação
suficiente para dotar o seu partido de uma ou mais vagas.
Analisando cinco eleições proporcionais ocorridas no
estado de São Paulo entre os anos de 2004 a 2020, envolvendo mil municípios com
os maiores eleitorados, começando com São Paulo com mais de 9 milhões e
descendo até os de 100 mil eleitores, encontrei apenas um candidato que
conseguiu a façanha de alcançar uma votação maior do que o quociente eleitoral
calculado para aquela eleição.
O fato se deu em 2016, no município de Santos, com o candidato
Kenny Pires Mendes, nome de urna Professor Kenny, que conquistou 24.765 votos
nominais, correspondentes a 10,95% dos votos válidos, quantia suficiente para
que o seu partido preenchesse duas vagas e muito provavelmente uma terceira,
haja vista que, além das cadeiras preenchidas, os seus sufrágios geraram ainda
uma sobra de 3.216 votos, número que garantiria o lugar de nono colocado
naquela eleição para qualquer candidato que o alcançasse. Essa, acredito, deve
ter sido a maior porcentagem de votos nominais em relação aos votos válidos já
alcançada na história das eleições proporcionais no Brasil.
Ainda em 2016, Eduardo Suplicy alcançou em São Paulo a
excepcional quantia de 301.446 votos nominais, o que correspondeu a 3,06% dos
votos válidos. Uma votação enorme, mas que só foi superior ao quociente
eleitoral porque o alto número de cadeiras disponíveis na Câmara de Vereadores
de São Paulo (55) empurram o quociente eleitoral daquela cidade, 1,82 dos votos
válidos, para baixo.
Em Pindamonhangaba, minha cidade natal, também no estado de São
Paulo, em 52 anos de observação de eleições para vereador encontrei apenas um
candidato que conseguiu uma proeza próxima à do professor Kenny. Foi Geraldo
Alckmin, que em 1972 conseguiu 9,30% dos votos válidos. Veja que esse é um
número maior até do que o quociente eleitoral atual que, em função das atuais
onze vagas disponíveis, é de 9,09% dos votos validos.
Assim sendo, concluímos que se um candidato quer ter a sua
chance de ocupar uma cadeira na câmara aumentada, deve disputar o pleito em um
dos partidos de maior potencial de votação. E não se enganem, esses partidos
são aqueles que abrigam os candidatos às reeleições. Portanto, ignorar os
partidos e votar olhando apenas para o candidato certamente não atenderá aos
objetivos almejados pelo eleitor.
Fonte: Brasil 247
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