Presidente discursou nesta quarta-feira na abertura do FII Priority Summit, um fórum internacional de investimentos organizado pelo Future Investment Initiative Institute
O presidente Lula (PT) discursou nesta quarta-feira (12) na
abertura do FII Priority Summit, um fórum internacional de investimentos
organizado pelo Future Investment Initiative Institute. O evento acontece no
Rio de Janeiro e busca atrair atenção global para discussões centradas na
sustentabilidade e inclusão social.
Durante sua fala, o presidente deu um ‘puxão de orelha’
nos agentes do mercado financeiro, destacando a necessidade de aliar o debate
econômico aos problemas sociais. “Eu não consigo falar de economia sem colocar
a questão social na ordem do dia. Em todos os debates que fazem tratando de
economia a gente fala de um monte de coisa, mas parece que os problemas sociais
não existem. E eles existem e estão no nosso calcanhar, estão nas nossas
portas, nas ruas. É por isso que esse mundo extraordinário digitalizado ainda
permite que 735 milhões de pessoas vão dormir toda noite sem ter o que comer,
em um mundo em que a gente tem conhecimento genético para produzir alimento de
sobra para todo mundo. Alguma coisa está faltando”.
“Nos últimos anos foram gastos quase US$ 3 trilhões em guerra,
quando esse dinheiro poderia ser gasto em paz, investimento, em reduzir a
miséria, a desigualdade e pobreza no mundo. Eu tenho um compromisso de fé, não
de mandato. Só tem sentido um governante governar alguma coisa se ele tiver
compromisso de cuidar do seu povo, de dar oportunidade a todos, de permitir que
todos, sem distinção, tenham a oportunidade de se desenvolver, de viver uma
vida digna e de ser uma pessoa respeitada”, acrescentou
Leia abaixo a íntegra do discurso de Lula:
É a primeira vez que o Brasil sedia uma edição da Iniciativa de
Investimento Futuro.
Este espaço, que já
se consolidou como a “Davos do Deserto”, não deixa nada a desejar para a Davos
dos Alpes.
Ele confirma a consolidação de atores emergentes no debate
econômico mundial, para além dos centros tradicionais.
Já é passada a hora
de reconhecer o crescente peso de países como a Arábia Saudita e o Brasil,
sócios cada vez mais próximos e parceiros nos BRICS.
Com minha visita a Riade, em novembro passado, e a recente
visita do Vice-Presidente Alckmin, estamos dando impulso a essa colaboração.
A escolha do Rio de
Janeiro para receber este evento sinaliza a confiança que os mais de mil
participantes depositam em nosso país.
Estou aqui hoje para mostrar que o Brasil é digno dessa
confiança.
Sempre digo que a
coisa mais importante para um investidor é a estabilidade.
E isso o Brasil tem de sobra para oferecer.
Na esteira da
Constituição Cidadã de 1988, aperfeiçoamos nossos marcos legais e garantimos
estabilidade jurídica.
Com determinação,
vencemos os fantasmas da inflação e da dívida externa e conquistamos
estabilidade econômica.
Soubemos navegar pela
crise de 2008 e, superado o impacto da pandemia, reencontramos o caminho do
crescimento.
Contrariando as
expectativas pessimistas, nosso PIB cresceu 2,5% nos últimos 12 meses.
Caminhamos para ser a
oitava maior economia do mundo neste ano.
Até o final do
mandato, podemos voltar a ser a sexta economia mundial, como fomos em 2011.
Nossa balança
comercial bateu recorde em 2023, com o maior saldo da história.
As exportações entre
janeiro e abril deste ano alcançaram a marca recorde de 108 bilhões de dólares,
com aumento da participação de produtos da indústria de transformação.
Estamos arrumando a
casa e colocando as contas públicas em ordem para assegurar equilíbrio fiscal.
O aumento da
arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem
comprometer a capacidade de investimento público.
A reforma tributária
vai tornar nosso regime mais justo e eficiente, deixando de penalizar os mais
pobres e dando mais competitividade à economia.
Mas sabemos que a
economia não existe no vácuo.
O mercado não é uma
entidade abstrata apartada da política e da sociedade.
Nada disso se
sustenta sem estabilidade política e social.
Felizmente,
demonstramos nossa resiliência frente à maior provação que o Brasil enfrentou
em sua história recente.
Nossas instituições
sobreviveram à tentativa de desmonte do Estado brasileiro e a democracia
prevaleceu sobre os ataques de forças extremistas.
O governo reatou o
pacto federativo com Estados e Municípios, retomou o diálogo com o Congresso e
voltou a respeitar o Judiciário.
Por meio do Conselho
de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, a sociedade voltou a ser
ouvida na definição de diretrizes e na formulação de políticas públicas.
Recuperamos a
capacidade de planejar o desenvolvimento e enfim pudemos nos concentrar
novamente no que realmente importa: melhorar a vida das pessoas.
Para isso, foi
preciso recolocar o pobre no orçamento.
Restabelecemos a
política de valorização do salário mínimo e reestruturamos programas sociais.
O desemprego no
trimestre fevereiro a abril foi o menor desde 2014.
O tema deste Fórum é
“investir na dignidade”. Essa é nossa prioridade.
Henry Ford já
ensinava que os empresários só prosperam se os trabalhadores puderem consumir o
que produzem.
De nada adianta
construir ilhas de prosperidade cercadas de miséria.
Muito dinheiro na mão
de poucos significa fome, doença, analfabetismo e criminalidade.
Mas se muitos têm
pelo menos um pouco, a sociedade muda para melhor.
Em um cenário
internacional de tantas incertezas, o Brasil se firma como porto seguro.
Somos um país amante
da paz e avesso a rivalidades geopolíticas.
Dialogamos e
negociamos com todos os que possam e queiram contribuir para o progresso do
país e do mundo.
Em qualquer
constelação de poder que se forme no panorama global, a estrela do Brasil
continuará brilhando.
Estaremos lá para
construir pontes e encurtar distâncias.
É esse o espírito das
nossas presidências do G20 e dos BRICS e da COP do Clima em Belém.
O G20 é o lugar onde
o Norte e o Sul se encontram para buscar consensos que tragam benefícios
coletivos.
É espaço privilegiado
para combater as desigualdades que persistem dentro de nossos países e entre
eles.
A COP30 será um
evento determinante para o planeta. Sem o esforço de todos, conforme suas
responsabilidades e capacidades, o aquecimento global poderá atingir níveis
catastróficos.
Estamos vivenciando
isso em primeira mão com as enchentes do Rio Grande do Sul, cuja reconstrução
demandará investimentos maciços do governo e do setor privado.
Não há negacionismo
capaz de refutar a tragédia que se abateu sobre nossos irmãos gaúchos.
O investimento
público é decisivo para induzir o desenvolvimento.
Mas o capital privado
pode ser um aliado dinâmico, se Estado e empresariado convergirem em torno de
uma mesma visão de futuro.
O Brasil que
vislumbramos é um gigante da sustentabilidade e um peso pesado da segurança
alimentar.
É um país capaz de
ampliar sua produtividade agrícola com respeito ao meio ambiente e de renovar
sua vocação industrial a partir da energia limpa e da inovação tecnológica.
O mapa do caminho
para esse Brasil está desenhado no novo Programa de Aceleração de Crescimento e
no Nova Indústria Brasil.
O novo PAC vai criar
as condições necessárias para aumentar a competitividade da economia
brasileira.
Entre fontes públicas
e privadas, serão investidos recursos da ordem de 320 bilhões de dólares, 75%
dos quais até 2026.
Vamos promover a
modernização de nossa infraestrutura logística, construindo e ampliando
rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos, e da rede elétrica,
levando luz para todos.
Vamos tornar nossas
cidades mais resilientes e aprimorar a infraestrutura de prestação de serviços
sociais.
Também investiremos
na integração física com nossos vizinhos, por meio de cinco rotas multimodais
que cruzarão toda a América do Sul, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico.
A Nova Indústria
Brasil vai mobilizar linhas de financiamento, compras governamentais e
melhorias regulatórias para fomentar setores estratégicos para nosso
desenvolvimento sustentável.
Em 16 meses de
governo, já foram aprovados 15 bilhões de dólares para projetos voltados à
inovação, sustentabilidade e ampliação da produtividade e da capacidade
exportadora brasileira.
Em um mundo cujas
bases econômicas serão revolucionadas pelas transições energética e digital, o
Brasil desponta como celeiro de oportunidades.
Nossa visão de
desenvolvimento sustentável para a Amazônia, um dos biomas mais importantes do
planeta, está alicerçada no potencial da bioeconomia.
Somos hoje um dos
países com a matriz energética mais limpa.
88% de nossa
eletricidade provêm de fontes renováveis como a biomassa, a hidrelétrica, a
solar e a eólica.
Fizemos a opção pelos
biocombustíveis há quarenta anos, muito antes que a discussão sobre
alternativas a combustíveis fósseis ganhasse tração.
Há alguns dias
inauguramos a maior planta de etanol de segunda geração do mundo.
Fomos os pioneiros e
continuamos na vanguarda da bioenergia.
Isso nos coloca em
vantagem para ocupar espaços em outros nichos importantes como o da produção do
hidrogênio verde e de minerais críticos.
O Brasil tem
potencial para se tornar o maior produtor de hidrogênio verde do mundo. E temos
grandes reservas de minerais estratégicos como nióbio, grafite, níquel e terras
raras.
Buscamos parceiros
interessados em agregar valor a esses recursos em nosso território.
A condição de mero
exportador de matérias-primas não nos convém.
Podemos produzir
localmente aço verde e componentes de baterias elétricas e gerar assim mais
renda para nossa população.
Os veículos elétricos
são o motor do atual renascimento da indústria automotiva brasileira.
Não queremos
simplesmente instalar maquiladoras. Somos perfeitamente capazes de produzir
peças e componentes no país.
Já somos líderes em
vários setores ligados à alta tecnologia.
Nossa competência é
amplamente reconhecida na produção de ônibus elétricos e aeronaves.
O potencial da
indústria aeronáutica brasileira é tão grande que já estamos falando nos
primeiros protótipos de veículos elétricos de decolagem e pouso vertical.
Estamos prontos para
explorar novas fronteiras tecnológicas.
Vamos elaborar um
plano nacional sobre inteligência artificial, que vai mapear a infraestrutura
de processamento necessária para atender áreas estratégicas.
Essas são as razões
que explicam porque o Brasil se tornou o segundo maior destino de investimentos
estrangeiros diretos em 2023.
Vejo no
relacionamento com a Arábia Saudita grande potencial de ganhos recíprocos e
quero que seja exemplo modelar para as relações sul-sul que almejamos promover.
Há claros pontos de
convergência entre nossos projetos de desenvolvimento.
O objetivo da “Visão
2030” de diversificar a economia e fazer crescê-la com inovação, é também o que
nos move.
Temos grandes
expectativas em relação à criação do Fundo bilateral para Investimentos em
Oportunidades Especiais, que fortalecerá ainda mais a parceria entre nós.
A Arábia Saudita
sempre terá no Brasil um sócio privilegiado.
Tenho certeza que
este evento proporcionará proveitosos debates e negócios e convido todos a
investirem, cada dia mais, em nosso país.
Muito obrigado.
Fonte: Brasil 247
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