Um estudo nos EUA mostra que o tempo que o internauta passa online e o perfil dos influenciadores seguidos estimulam a busca por procedimentos. Especialistas alertam para os riscos
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein - Passar horas nas mídias sociais, seguir perfis de
celebridades e lançar mão de filtros para melhorar fotos são fatores que estão
associados ao maior desejo de passar por intervenções estéticas e ao aumento da
procura por esse tipo de consulta, mostra um estudo da Universidade de Boston,
nos Estados Unidos, publicado no Journal
of Clinical and Aesthetic Dermatology. Segundo os autores, embora a decisão de se submeter a um
procedimento desse tipo seja complexa, há uma relação entre o uso das redes, a
autoestima e a maior aceitação dessas técnicas.
“Esse é um fenômeno que tem sido observado na prática.
Temos notado o aumento significativo no número de pacientes que buscam
procedimentos para alcançar um padrão de beleza muitas vezes idealizado. Eles
estão constantemente em busca de pele sem poros, sem rugas nem olheiras, corpo
perfeito, sem celulite, flacidez e com o abdômen definido. Além disso, com o
uso crescente de plataformas de videoconferência, as pessoas se veem
constantemente na câmera, o que intensifica a autocrítica em relação à própria aparência”,
observa a dermatologista Barbara Miguel, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Os autores chegaram a essa conclusão após avaliar os resultados
de um questionário aplicado em 175 pacientes, que
passaram por um ambulatório de dermatologia com diversas queixas – não só
estéticas. As questões incluíam o número de horas em aplicativos, como
Instagram e Snapchat, os perfis seguidos e
a intenção de fazer procedimentos, além de perguntas sobre ter conversado com
familiares, amigos e médicos a respeito dessas questões.
Metade dos entrevistados (50,9%) passava mais de uma hora
por dia nas redes e 24% ficavam entre duas e quatro horas diárias navegando
pelos apps. A maioria (72%) seguia celebridades e influencers e 40%
acompanhavam contas de dermatologistas e cirurgiões que apresentavam os
resultados de procedimentos. Após cruzar os dados, esses três fatores – bem
como o uso de editores de imagem – foram correlacionados a uma maior
suscetibilidade a passar por intervenções.
O artigo frisa que, embora não sejam a causa direta desse
desejo, as redes sociais podem estimular aqueles mais suscetíveis, pois elas
bastante eficientes em disseminar essa informação e fazer propaganda,
transformando os usuários em pacientes potenciais.
“Muitos adolescentes e pré-adolescentes buscam
procedimentos para ficar parecidos com seus ídolos, conforme padrões que a
sociedade e as redes mostram. Mas, é importante diferenciar quando é um desejo
legítimo, se há a real necessidade de fazer a correção de algo estético”, diz a
psicóloga Caroline Nóbrega, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Essa
tendência levanta questões sobre o impacto das mídias sociais nas nossas
percepções de beleza e autoimagem”, completa a dermatologista. “Embora as redes
sociais nos conectem, também podem criar expectativas irreais e pressões
sociais sobre a nossa aparência”, continua Barbara Miguel.
Para a psicóloga, vale um alerta se a pessoa nunca teve essa
preocupação e, de repente, ela passa a ser
excessiva. “É preciso avaliar a motivação, se está trazendo prejuízo funcional
à vida da pessoa, se está impactando a qualidade de vida”, orienta Nóbrega, que
reforça: “Devemos lembrar que as redes
mostram o que querem mostrar, que o que serve para um pode não servir para quem
está olhando”, diz a especialista.
Alguns fatores ajudam a identificar as razões que podem
justificar um desconforto estético. “A idade da pessoa, suas queixas, se está
afetando sua autoestima e o convívio social, se está sofrendo bullying, ou se o
problema pode trazer risco de sequelas futuras, tanto do ponto de vista físico
quanto psicológico, como as cicatrizes de acne”, explica a dermatologista.
Segundo ela, sem uma motivação clara e uma avaliação criteriosa,
pode haver impactos emocionais, como o aumento da insatisfação corporal, a
baixa autoestima e até a depressão. “Por isso, é preciso cultivar a
autoaceitação e a autoestima, independentemente dos padrões externos de beleza.
Lembre-se deque a verdadeira beleza vem de dentro e não pode ser definida por
curtidas e seguidores nas redes”, orienta a dermatologista.
As especialistas consultadas pela Agência Einstein sugerem alguns itens
importantes para a avaliação antes de optar por um procedimento estético:
- Escolha
muito bem o profissional. “Muitas vezes, as pessoas dão mais
importância ao número de seguidores do que à qualificação do
profissional”, observa Barbara Miguel. Por isso, em primeiro lugar
verifique se ele possui formação e experiência na área, se tem as
credenciais necessárias, como o RQE (Registo de Qualificação de
Especialista), e o registro em órgãos reguladores, como o
Conselho Regional de Medicina (CRM). O procedimento só deve ser feito após
uma avaliação cuidadosa, que ajude a compreender seus reais
desejos e necessidades, levando em conta expectativas realistas (e não
influências externas), além da saúde física e mental.
- Informe-se. Procure esclarecer
todas as vantagens e desvantagens para chegar à melhor opção para o seu
caso, entendendo limites e possibilidades, riscos e benefícios dos
diferentes tipos de procedimentos.
- Converse. Comunique abertamente
suas expectativas, preocupações e histórico médico para garantir um plano
de tratamento personalizado e seguro.
- Avalie
cuidadosamente os riscos e os benefícios. Os procedimentos
estéticos sempre apresentam riscos e complicações potenciais, que podem
ser agravados quando não há a avaliação completa da saúde e das
expectativas do paciente.
- Não
banalize os tratamentos. Embora possam aumentar a autoestima,
alguns podem apresentar complicações ou não promover o resultado esperado
e deixar cicatrizes ou manchas, por exemplo.
- Gerencie
as expectativas. É
preciso estabelecer expectativas realistas em relação aos resultados. O
objetivo deve ser o aumento da confiança e do bem-estar, e não uma
perfeição inalcançável, muitas vezes retratada nas redes. Se o resultado
não corresponder ao esperado, ele pode gerar insatisfação e
angústia.
- Evite
realizar procedimentos baseados em modismos. Avalie se ele é
realmente adequado ou apenas uma tendência passageira. “Buscar a sua
melhor versão com naturalidade é sempre a melhor opção e tende a
apresentar resultados mais satisfatórios”, diz a dermatologista.
- Atenção
especial para os procedimentos definitivos. Métodos como
preenchimento com polimetilmetacrilato (PMMA) e camuflagem de olheiras e
estrias com técnicas de tatuagem podem trazer complicações muitas vezes
irreversíveis.
- Mantenha
um diálogo aberto. O
apoio e a compreensão da família são cruciais no processo. Uma conversa
honesta ajuda a esclarecer dúvidas e percepções.
As especialistas também ressaltam a importância de controlar o uso
diário das redes sociais. Outra orientação é ter critério na hora de seguir
alguém: evite perfis que promovam padrões de beleza irreais e procure aqueles
que incentivem a diversidade e a positividade corporal. É importante também
desenvolver um pensamento crítico, questionando as imagens que se veem nas
redes, pois muitas são cuidadosamente selecionadas e editadas para transmitir
um padrão idealizado.
Fonte: Brasil 247 com Agência Einstein
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