A indústria naval é uma das prioridades do governo para o crescimento da economia
Por Marta Nogueira, Rodrigo Viga Gaier e Sabrina Valle
RIO DE JANEIRO, 15
Mai (Reuters) - Magda Chambriard, a próxima
presidente da Petrobras, recebeu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a
missão de acelerar investimentos no comando da estatal, para que a petroleira
seja a principal indutora de emprego e renda no país, afirmaram pessoas com
conhecimento das conversas nesta quarta-feira.
A indústria naval é um dos temas de destaque para o governo
brasileiro, e um plano para aumentar a construção de navios em estaleiros
brasileiros chegou a ser discutido entre Chambriard e Lula, conforme disseram
duas das fontes, na condição de anonimato. O governo está preparando um
programa para incentivar o setor -- que muitas vezes encontra equipamentos no
exterior a custos mais baixos --, na expectativa de que a Petrobras tenha
participação importante no processo.
Por preocupações com a ingerência política na Petrobras
após a anunciada mudança no comando, as ações da empresa operavam em queda
acentuada nesta quarta-feira, levando a companhia a perder quase 50 bilhões de
reais em valor de mercado. Investidores temem que uma guinada na petroleira
poderá reduzir os generosos dividendos pagos aos acionistas nos últimos anos.
Outros segmentos na área de downstream, como refino,
fertilizantes, igualmente vistos por alguns especialistas como menos lucrativos
no Brasil, também precisam ganhar tratamento especial com a nova gestão em nome
do desenvolvimento industrial, na avaliação de Lula. Esses setores poderiam
ganhar espaço nas prioridades da companhia em detrimento de iniciativas
voltadas à transição energética, afirmaram as fontes, na condição de anonimato.
Chambriard, engenheira e ex-diretora-geral da reguladora
ANP, foi indicada na véspera pelo governo para o cargo de CEO da Petrobras,
após uma definição pelo encerramento antecipado do mandato de Jean Paul Prates.
Ainda não há data para a sua posse.
Por enquanto, o conselho da estatal nomeou a diretora de Assuntos Corporativos
da Petrobras, Clarice Coppetti, como presidente interina. Também foi destituído o então CFO, Sergio Caetano Leite, com a
nomeação
interina de Carlos Rechelo Neto, atual gerente executivo de finanças.
"Não foi por falta de aviso ao Prates. Ele, embora
muito competente, não conseguiu dar ritmo aos investimentos necessários",
disse a terceira fonte.
"O presidente Lula quer que a Petrobras volte a ser um
importante motor do país. Ele... quer que a empresa invista em setores
estratégicos e possa gerar emprego, renda e capital político. A perda de
popularidade não pode sair do radar das análises."
Uma quarta fonte afirmou que algumas demandas do governo
estavam caminhando, como por exemplo projetos de gás relacionados ao GasLub,
antigo Comperj.
Em entrevista a jornalistas na porta da sede da Petrobras, no
centro do Rio de Janeiro, mais cedo nesta quarta-feira, Prates afirmou que a
empresa está com uma política de preços ajeitada e a reindustrialização
encaminhada nas áreas de refino, fertilizantes e na indústria naval.
Mas não resistiu à pressão, em meio a embates com os
ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil).
"A grande insatisfação do Lula era com a indústria naval. Ele tem
um olhar especial para isso. O Jean Paul fazia muito o que era possível: mas a
Magda chega com a missão do que é o ideal, não apenas o possível", afirmou
a quarta fonte.
A pessoa ponderou, entretanto, que Chambriard conhece bem o setor e sua
missão irá muito além de aumentar as contratações. "Tem que arrumar formas
e maneiras de estimular o conteúdo local. Só assim haverá retomada do setor com
geração de renda e emprego como o Lula quer."
Chambriard foi funcionária da Petrobras por mais de 20 anos, e atuou por
muitos anos na ANP, onde assumiu uma diretoria em 2008 e foi diretora-geral
entre 2012 e 2016, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, de quem é
amiga pessoal.
PERFIL ALINHADO AO GOVERNO
Aurélio Amaral, que foi diretor da ANP, inclusive em período em que
Chambriard foi diretora-geral, afirmou que ela é "muito determinada"
e "conhece a Petrobras como poucos".
"Ela tem o DNA da companhia... Foi por onde ela fez a trajetória
profissional dela", afirmou Amaral, que atualmente é diretor de Relações
Externas da Eneva.
Amaral destacou ainda que Chambriard participou do governo de
transição e ajudou a escrever o programa de governo. "Eu creio que ela vai
tentar aproximar um pouco mais essas demandas do governo, para tentar responder
um pouco melhor, mas sem perder de vista que a empresa tem ações em bolsa, eu
não acho que ela vá perder essa orientação, não."
A Federação Única dos Petroleiros (FUP), que reúne 12
sindicatos de petroleiros e é ligada ao PT, elogiou a indicação de Chambriard,
apontando que suas ideias "coadunam com as da FUP em relação ao
fortalecimento da indústria naval nacional, conteúdo local, ampliação do parque
de refino".
Grande entusiasta do avanço para novas fronteiras
exploratórias de petróleo e gás no Brasil, Chambriard deve ser capaz de avançar
com a exploração da chamada Margem Equatorial brasileira, que vai do Rio Grande
do Norte ao Amapá e abriga diversas áreas com grande potencial para novas
descobertas, segundo especialistas que trabalharam com ela.
"Eu tenho absoluta certeza pelo que eu tenho
acompanhado da Magda, ela vai não só reforçar o debate da Margem Equatorial,
mas trabalhar para destravar... como ela é uma pessoa nacionalista, com um viés
desenvolvimentista, acredito que ela vai encarar", afirmou Allan Kardec,
que também foi diretor da ANP na época em que Chambriard comandava a autarquia.
A Petrobras e outras empresas de petróleo têm tido
dificuldades para obter licenciamento ambiental para perfurar na Margem
Equatorial, diante de grande sensibilidade e desafios socioambientais.
Guilherme Papaterra, assessor de diretoria da ANP e que
também trabalhou com Chambriard na agência, destacou que a futura CEO tem um
entendimento muito amplo sobre áreas de exploração de petróleo que foram
licitadas, lembrando que ela estava à frente da ANP quando foram leiloadas
diversas áreas de novas fronteiras.
"Nessa discussão com Ibama, nessa questão da Foz do
Amazonas... ela tem autoridade... Ela pode ter uma voz muito ativa nesse
destravamento, nessa ponderação até técnica para a exploração na Margem
Equatorial, porque ela vai ter propriedade pra falar", afirmou.
Kardec, que atualmente é professor titular da Universidade
Federal do Maranhão, também disse acreditar que a futura CEO também deverá
reforçar outros setores, como de biocombustíveis e outras energias renováveis.
(Por Marta Nogueira e
Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro, e Sabrina Valle, em Houston)
Fonte: Brasil 247
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