Presidente afirmou que "custo agora é o dobro do que teria custado se a gente tivesse feito definitivamente lá atrás"
Agência Gov – Na
tarde desta quarta (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse acreditar
que a crise no Rio Grande do Sul vai servir para demonstrar com nitidez as
diferenças de projetos políticos que disputam a opinião pública brasileira. Em
certo momento de seu pronunciamento na universidade Unisinos, em São Leopoldo,
ele afirmou que uma dessas diferenças se dá no trato de medidas inadiáveis:
"Cuidar do povo não custa caro. Custa caro é não cuidar".
Lula esteve em São Leopoldo com uma delegação de
ministros, ministras e autoridades da República para anunciar projetos de ajuda a famílias
que perderam seus bens e suas casas durante as cheias que assolam o Rio Grande
do Sul. Ele afirmou que na crise que hoje atinge o Estado há, de um lado,
aqueles que tentam se aproveitar do sofrimento alheio e, de outro, quem tenta
ajudar.
Entre as ações destinadas a atender pessoas, cidades e o estado, o
presidente assinou medida provisória que cria a Secretária Extraordinária de Apoio
à Reconstrução do Rio Grande do Sul. A pasta, com status de
ministério, será comandada pelo ministro Paulo Pimenta, que deixa a Secretaria
de Comunicação Social da Presidência (Secom).
"Existe uma diferença do país que a gente herdou e o país que a
gente pode devolver ao povo brasileiro. Uma demonstração dessa diferença são os
milhões de voluntários que estão ajudando", disse.
"Ainda bem que a gente pode continuar acreditando numa humanidade
mais solidária, apesar da nojeira de vândalos que não fazem política, mas só
querem destratar a vida dos outros", afirmou, em referência à onda de
desinformação. "Eu tenho certeza que essas pessoas serão banidas da
política brasileira", afirmou.
Segundo Lula, outra diferença de projeto político é a capacidade
de enfrentar problemas antigos e estruturais. Para ele, o propósito do atual
governo não é produzir simples consertos, mas projetos de longo prazo. Lula
argumentou que crises da magnitude da que atinge o Rio Grande do Sul têm raízes
antigas, que não foram convenientemente enfrentadas. "O barato sai caro, o
melhor é fazer bem feito. O custo de agora, acredito, é o dobro do que teria
custado se a gente tivesse feito definitivamente lá atrás."
Como exemplo, Lula citou a transposição do Rio São
Francisco, ideia defendida por alguns setores desde o Império, mas nunca
executada até que seus dois primeiros mandatos dessem início ao projeto.
Enquanto a ideia ficou suspensa, argumentou o presidente, pessoas morreram de
fome e o potencial da região banhada pelo rio ficou adormecido. "Saiu
muito caro".
Falando com a plateia reunida no auditório da Unisinos, Lula argumentou
que a presença de representantes de diferentes poderes da República, por ele
convidados a acompanhá-lo a São Leopoldo, é uma tentativa de criar um novo
padrão de relacionamento político no Brasil, em que as divergências não sejam
fortes o bastante para atrapalhar o cuidado com a população.
"A gente tem que funcionar como uma orquestra. A gente não pode se
encontrar apenas em jantares, em atos solenes, mas também em momentos de
amargura do povo brasileiro". disse. "Eu estou chamando para
compartilhar a política. Eu não sou dono, eu sou apenas um síndico". E
completou: "Espero que isso sirva de exemplo para um outro padrão de
relacionamento entre os entes federados."
"Não fiquem com raiva dos pobres. A única coisa que a gente não
escolhe é ser pobre" (foto: Ricardo Stuckert)
Desmontar a burocracia
O presidente alertou que uma nova diferença entre projetos políticos
deve se manifestar após as águas baixarem de vez no Rio Grande do Sul e o
processo de reconstrução for iniciado. Para ele, os prefeitos, o governador
Eduardo Leite, o Governo Federal e os demais poderes - como os tribunais que
serão acionados nessa trajetória - precisam ser rápidos na execução das
tarefas. "Se for burocracia, a gente tem que desmontar essa
burocracia", comentou. "Se não, as pessoas perdem a confiança nas
instituições, na democracia", afirmou ainda, dizendo que esse vazio de
confiança gera espaço para aventureiros sem compromisso.
"Eu estou tentando ver se a gente constrói um jeito de
resolver os problemas", acrescentou, antes de destacar que em seu retorno
à Presidência encontrou o Brasil com indicadores sociais e econômicos
inferiores ao que havia deixado no início da segunda metade da década de 2000.
"O Brasil voltou para trás".
Próximo ao encerramento de sua fala, Lula reafirmou a
disposição de seu governo em ajudar o Rio Grande do Sul, quando disse que
ajudar o povo não é caro. "Não fiquem com raiva dos pobres. Não, gente. A
única coisa que a gente não escolhe é ser pobre". Lula argumentou que, se
analisada a árvore genealógica de pessoas muito vulneráveis, descobre-se que a
pobreza vem de muitas gerações. "Caraca, a gente não consegue resolver
isso?", exclamou.
Lula ainda afagou o prefeito de Eldorado do Sul, Ernani de
Freitas Gonçalves (PDT), que reservou espaço na sede do Executivo Municipal
para abrigar animais resgatados durante as chuvas e enchentes na cidade.
"A Janja me ensinou a gostar das pessoas que gostam de animais",
disse, em referência à primeira-dama, Janja Lula da Silva
O presidente se despediu dizendo-se grato por poder
ajudar. "Eu, como ser humano, como cristão que acredita em Deus, ganhei o
dia hoje."
Fonte:
Brasil 247 com informações da Agência Gov
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