Segundo o BC, mesmo com a entrada em vigor da lei que limita os juros do rotativo a 100% do valor da dívida, a medida não afeta a taxa pactuada no momento da concessão do crédito
Por Andreia Verdélio, repórter da Agência Brasil - A taxa média de juros das concessões de crédito para famílias
teve pequena redução no mês de abril, enquanto os juros do cartão de crédito
rotativo continuaram subindo, com aumento de 2,2 pp (pontos percentuais),
atingindo 423,5% ao ano. Os dados são das Estatísticas Monetárias e de Crédito
divulgadas nesta segunda-feira (27) pelo Banco Central (BC).
O crédito rotativo dura 30 dias e é tomado pelo consumidor
quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão de crédito. Ou seja,
contrai um empréstimo e começa a pagar juros sobre o valor que não conseguiu
quitar.
A modalidade é uma das mais altas do mercado. Segundo o BC,
mesmo com a entrada em vigor, em janeiro, da lei que limita os juros do
rotativo a 100% do valor da dívida, a medida não afeta a taxa de juros pactuada
no momento da concessão do crédito. Como ela só se aplica a novos
financiamentos, não houve impacto na apuração estatística de abril.
Por outro lado, considerando os 12 meses encerrados em
abril, houve recuo de 23,8 pp nos juros do cartão rotativo.
Após os 30 dias, as instituições financeiras parcelam a dívida
do cartão de crédito. Nesse caso do cartão parcelado, os juros caíram 8,7 pp no
mês e 18,5 pp em 12 meses, indo para 128% ao ano.
Crédito livre - No total, a taxa média de juros das concessões de crédito livre,
para famílias, teve redução de 0,4 pp em abril e de 6,6 pp em 12 meses,
chegando a 53% ao ano.
Também compõem essas estatísticas os juros do cheque especial,
que subiram 1,8 pp no mês e caíram 3,6 pp em 12 meses, alcançando 129,9% ao
ano. Contribuindo para a queda dos juros médios, houve reduções em menor
magnitude no crédito consignado, aquisições de outros bens e arrendamento
mercantil.
Já nas operações com empresas, os juros médios no crédito
livre tiveram aumento de 0,4 pp em abril e redução de 2,2 pp em 12 meses, indo
para 21,3% ao ano. Destacaram-se os aumentos das taxas de capital de giro com
prazo superior a 365 dias (1 pp) e de cartão de crédito rotativo (39,7 pp).
No crédito livre, os bancos têm autonomia para emprestar o
dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes.
Já no crédito direcionado, as regras são definidas pelo governo, e se destina,
basicamente, aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao
microcrédito.
Taxa média - No caso do crédito direcionado, a taxa média para pessoas
físicas ficou em 9,9% ao ano em abril, aumento de 0,1 pp no mês e redução de
1,2 pp em 12 meses. Para as empresas, a taxa caiu 2 pp no mês e 3 pp em 12
meses, para 11,3% ao ano.
Com isso, considerando recursos livres e direcionados, para
famílias e empresas, a taxa média de juros das concessões em abril diminuiu 0,2
pp no mês e 3,9 pp em 12 meses, alcançando 28% ao ano.
O comportamento dos juros bancários médios ocorre em um
momento em que a taxa básica de juros da economia, a Selic, vem sendo reduzida.
A Selic é o principal instrumento do BC para controlar a inflação e está
definida em 10,5% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Entretanto,
a alta recente do dólar e o aumento das incertezas fizeram o BC diminuir o
ritmo do corte de juros, que vinham sendo de 0,5 ponto percentual, para 0,25
ponto.
Além disso, com as expectativas de inflação acima da meta e, em
meio a um cenário macroeconômico mais desafiador do que o previsto
anteriormente, o Copom decidiu não prever novos cortes na Selic na última
reunião, no início de maio.
Saldos das operações
- Em abril, as concessões de crédito
tiveram queda de 1,6%, chegando a R$ 562,2 bilhões, resultado da alta de 4%
para as pessoas físicas e da queda de 8% para empresas.
Com isso, o estoque de todos os empréstimos concedidos
pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) ficou em R$ 5,893 trilhões,
um crescimento de 0,2% em relação a março. O resultado refletiu a redução de
0,9% no saldo das operações de crédito pactuadas com pessoas jurídicas (R$
2,249 trilhões) em contraposição ao incremento de 0,9% no de pessoas físicas
(R$ 3,644 trilhões). Na comparação interanual, o crédito total cresceu 8,7% em
abril.
Já o crédito ampliado ao setor não financeiro, que é o
crédito disponível para empresas, famílias e governos, independentemente da
fonte (bancário, mercado de título ou dívida externa), alcançou R$ 16,711
trilhões, com aumento de 0,9% no mês e 10,4% em 12 meses. O principal fator
dessa alta foram os títulos da dívida pública e dos empréstimos externos, que
subiram 1,4% e 2,2%, respectivamente.
Endividamento das
famílias - Segundo o Banco Central, a
inadimplência - atrasos acima de 90 dias - tem se mantido estável há bastante
tempo, com pequenas oscilações e registrou 3,2% em abril. Nas operações para
pessoas físicas, ela está em 3,6%, e para pessoas jurídicas em 2,6%.
O endividamento das famílias - relação entre o saldo das
dívidas e a renda acumulada em 12 meses - ficou em 48% em março, aumento de 0,2
ponto percentual no mês e queda de 0,6% em 12 meses. Com a exclusão do
financiamento imobiliário, que pega um montante considerável da renda, o
endividamento ficou em 30,1% no quarto mês do ano.
Já o comprometimento da renda - relação entre o valor
médio para pagamento das dívidas e a renda média apurada no período - ficou em
26,5% em março, aumento de 0,8 ponto percentual na passagem do mês e redução de
1,1% em 12 meses.
Esses dois últimos indicadores são apresentados com uma
defasagem maior do mês de divulgação, pois o Banco Central usa dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Fonte: Brasil 247
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