Protesto ocorreu na noite desta sexta-feira. Prefeito é acusado de falhar na manutenção das bombas de drenagem e do sistema de comportas
sexta-feira (24/05), moradores do
centro de Porto Alegre realizaram panelaço em protesto contra o prefeito
Sebastião Melo (MDB). O motivo é a insatisfação com a gestão municipal durante
a cheia do Guaíba. A manifestação, organizada pelas redes sociais, teve gritos
de “Fora Melo”.
Os manifestantes pediram a renúncia ou
impeachment do prefeito de Porto Alegre.
Na quinta-feira (23), a propósito, a União das Associações de
Moradores de Porto Alegre (Uampa) protocolou um pedido de impeachment contra o
prefeito na Câmara de Vereadores.
O presidente da Câmara, Mauro Pinheiro, deverá apresentar
o pedido em sessão plenária na segunda-feira (27).
A iniciativa foi liderada pelo secretário-geral da Uampa, Brunno
Mattos da Silva, que acusou Sebastião de “negligência” em relação às estações
de bombeamento e ao sistema de drenagem da capital gaúcha.
Brunno, que também é membro da Juventude do Partido dos
Trabalhadores (PT) em Porto Alegre, anexou documentos ao pedido indicando que a
prefeitura foi alertada em 2018 sobre o risco de colapso no sistema de drenagem
da cidade. Na época, a gestão estava sob o comando de Nelson Marchezan (PSDB).
Sebastião Melo classificou a proposta de “narrativa”
impulsionada pelas eleições municipais deste ano.
“Eu não vou entrar nesta narrativa de eleições. Toda e
qualquer decisão que tomamos recebe alguma desaprovação. Eu não vou entrar
nesta narrativa de eleições. Eu tenho uma boa relação com o ministro Paulo
Pimenta, mas o time dele daqui faz o contrário. Eu não vou entrar neste
processo. Eu vou informar a sociedade sobre o que está acontecendo. O tempo que
tenho na prefeitura é para cuidar da cidade”, disse o prefeito de Porto Alegre
em entrevista à Rádio Gaúcha.
Agência Brasil – O sistema
de proteção contra inundações de Porto Alegre é considerado "robusto,
eficiente e fácil de operar e manter", mas falhou porque não recebeu as
manutenções permanentes necessárias por parte da prefeitura, por meio do
Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE). Essa é a avaliação de um grupo
de 42 engenheiros, arquitetos e geólogos, que divulgou um manifesto, na última
quinta-feira (23), em que explicam o que ocorreu para a cidade ser tomada pela
água do Guaíba, na maior enchente da história da capital gaúcha.
Concebido na década de 1970 por engenheiros da Alemanha,
com inspiração em modelos holandeses, o sistema porto-alegrense é composto por
cerca de 60 quilômetros (km) de diques e barragens, de norte a sul da capital
gaúcha. Avenidas importantes, como Castelo Branco, Beira-Rio e Diário de
Notícias, além da rodovia Freeway, são barragens construídas para evitar o
extravasamento da água do Guaíba para áreas urbanas.
Há também um muro de proteção, o Muro da Mauá, que funciona como
dique para área central da cidade, desde a altura da rodoviária até a usina do
Gasômetro. Por toda essa extensão, há 14 comportas, que permitem a entrada e
saída da água, e 23 casas de bombas hidráulicas, que também tem as próprias
comportas, e funcionam como pontos de drenagem da água, para devolver , em uma
eventual inundação, ao lago.
Já os córregos (arroios) que cortam a cidade, como o
Arroio Dilúvio, na Avenida Ipiranga, complementam o sistema de diques internos.
A cota de inundação do sistema é de 6 metros de cheia, cuja altura na enchente
do início do mês não passou de 5,30 metros.
"Os diques e os muros não vazam. Os vazamentos estão em boa
parte das comportas sem manutenção. No ano passado, quando o sistema foi
acionado, durante as inundações com início no Vale do Taquari e que também
inundaram a região metropolitana, as deficiências nas comportas ficaram
visíveis. Fáceis de serem sanadas, mas não foram. As próprias casas de bombas,
bem como as Estações de Bombeamento de Água Bruta (EBABs) estão
inundadas", diz o manifesto.
O que dizem os
engenheiros
"O mais urgente que tinha que ser feito, desenvergar
[comportas], trocar as borrachas, não foi feito. Não precisaríamos ter sequer
10% da inundação que nós tivemos", argumentou o engenheiro Vicente Rauber,
ex-diretor do antigo Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), que nos anos 1990
já tinha lançado uma publicação sobre como prevenir enchentes na cidade, que
havia passado um trágico incidente em 1941.
"Como medidas emergenciais, [o DMAE] deveria ir lá e
fechar os furos, os vazamentos [das comportas]. Uma empresa de saneamento
trabalha permanentemente com mergulhadores, eles são necessários para fazer
qualquer atividade, qualquer conserto embaixo d'água. Conserta os furos e tenta
religar as casas de bomba, fazendo ensecadeiras, tirando a água dentro dela.
Estamos num círculo vicioso, as casas de bomba não funcionam porque foram
inundadas, e a água não sai porque não tem bomba [funcionando]",
acrescentou durante uma entrevista coletiva para lançar a carta.
"Nós temos uma barragem, que impede a água de entrar.
O muro e os diques são barragens. E, quando a barragem não impede a água de
entrar, tem um sistema que pega e joga água para o outro lado da barragem.
Muito simples, tradicional, clássico e eficiente, é fácil de fazer. É só manter
as casas de bomba funcionando, que ela vai pegar a água de dentro da cidade e
vai jogar fora", apontou Augusto Damiani, engenheiro civil,
ex-diretor-geral do DEP e do DMAE, hidrólogo e mestre em Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Prefeitura nega falta
de manutenção
Procurado, o DMAE informou que, atualmente, 11 das 23
bombas estão em funcionamento. No auge da inundação, 19 pararam por inundação
ou por problemas elétricos. Elas estão sendo consertadas, assegurou o órgão.
Enquanto isso, moradores da região central e do norte da
cidade, onde estão as bombas sem funcionamento ou com operação parcial, sofrem
com o repique das enchentes, que quase colapsaram a cidade há 20 dias.
"Estamos trabalhando para religar as demais casas de
bombas. Ontem [23], durante o temporal, nenhuma saiu fora de operação. Estamos
trabalhando nas EBAPS [Estações de Bombeamento de Água Pluvial] que faltam.
Algumas tiramos os motores para secar, outras ainda não conseguimos entrar em
razão da inundação. Nossas equipes estão trabalhando incansavelmente para
colocar todo o sistema em operação o mais breve possível", disse o DMAE.
Em entrevista à Rádio Nacional, última quarta-feira (22),
o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, negou falta de manutenção no
sistema e atribuiu a falha à concepção do sistema.
"Em 1968, 1969, eu sou o décimo terceiro prefeito dessa leva [da década] de 1970 para cá. Esse sistema foi concebido de um jeito e ele nunca foi modificado. E ele tinha testado algumas vezes em centros menores e tinha respondido bem. Bom, mas ele nunca tinha sido testado com o fenômeno do tamanho que aconteceu", afirmou.
"Esse fenômeno que aconteceu, o climático, ele poderia ter acontecido em qualquer cidade brasileira e talvez não fosse diferente, porque nós não temos cidades adaptadas para esse novo normal, nenhuma. Nenhuma, especialmente grandes cidades. Então, essa tragédia que aconteceu aqui, ela poderia acontecer em São Paulo, Rio de Janeiro, em qualquer outro lugar. Acho que o Brasil tem que pensar no novo normal", insistiu Melo.
Fonte: Brasil 247
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