domingo, 19 de maio de 2024

Enchentes no Sul: águas invadiram 301 mil casas em áreas urbanas e mais de 7,8 mil de propriedades rurais

 Parte da derrubada de árvores ocorreu os limites da lei, mas em alguns casos houve desrespeito, inclusive após o novo Código Florestal, afetando a capacidade de suportar fortes chuvas, diz estudo


As enchentes no Rio Grande do Sul causaram forte impacto nas áreas urbanas e rurais. Na região hidrográfica do Lago Guaíba, estima-se que 301.738 domicílios em 125 municípios tenham sido afetados por inundações. Em propriedades rurais de todo o estado, 7.854 locais em 58 municípios foram inundados.


Os dados relacionados às áreas urbanas foram coletados por Iporã Possantti, engenheiro ambiental e hidrólogo, doutorando no Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), junto com um grupo de mais de 50 pesquisadores dedicados ao tema. O instituto chegou a esses números cruzando a mancha de inundação calculada com os dados do Censo de 2022, sem analisar o nível de água em cada imóvel. Esses números estão sendo atualizados periodicamente.


Até a última sexta-feira, os municípios mais afetados pelas enchentes foram Porto Alegre (85 mil domicílios), São Leopoldo (38 mil) e Canoas (65,9 mil). Estima-se que 632 mil pessoas foram atingidas por alagamentos.


O prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), disse que o município “virou um grande lago”, principalmente na parte Oeste. Foram recebidos 66 mil pedidos de resgate e, até o momento, a cidade conta com 97 abrigos para atender as vítimas da enchente. Das 27 unidades básicas de saúde, 19 foram perdidas, e das quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), apenas uma permaneceu intacta.


Em Porto Alegre, 46 dos 81 bairros tiveram alagamentos de alguma proporção, conforme levantamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade. Em São Leopoldo, o prefeito Ary Vanazzi (PT) relatou que 18 escolas e 16 postos de saúde ficaram “debaixo d’água”, e sua própria casa foi quase completamente submersa após o temporal.


O estudo sobre as propriedades rurais foi elaborado pelo Terra Analytics e pela R.Torsiano Consultoria Agrária, Ambiental e Fundiária. Os dados mostram que 6.475 (82,4%) dos imóveis afetados foram classificados como pequenos. Propriedades médias somaram 11,4% dos imóveis atingidos, e as grandes, 6%.


Richard Torsiano, diretor executivo do Terra Analytics e responsável por coordenar o estudo, afirma que os dados indicam que, mesmo após a água baixar, o governo precisará ajudar os produtores a recuperar sua capacidade produtiva.


Segundo ele, o volume de pequenas propriedades afetadas é impactante, representando mais de seis mil imóveis do total de 7.800, com quase 50% dessas áreas inundadas. O governo deve investir em um processo de apoio focado na recuperação da capacidade produtiva.


Nas pequenas propriedades, 48% da área ficaram inundadas, percentual que é de 45% nas médias e de 30% nas grandes. Esses locais produzem principalmente arroz e soja.


Em termos de área total atingida pelos alagamentos, quase metade (49%) corresponde a grandes propriedades, enquanto 28% são pequenas e 21% médias. A classificação do tamanho dos imóveis seguiu os padrões oficiais do Incra.


O levantamento também mostrou que, nos imóveis atingidos, houve um desmatamento de 78,71% da vegetação nativa até 2021.


Torsiano destaca que parte dessa derrubada ocorreu dentro dos limites permitidos pela legislação, mas em alguns casos houve desrespeito às regras, inclusive após o novo Código Florestal, afetando a capacidade das áreas de suportar fortes chuvas.


Quanto menor a cobertura vegetal, especialmente nas regiões próximas aos rios, maior a força com que a água corre, agravando os efeitos das enchentes.


Fonte: Agenda do Poder com informações de O Globo.

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