Novas chuvas nos últimos dias levaram a um novo aumento do nível das águas do Guaíba, aumentando o receio de que o lago ultrapassará recordes anteriores
Reuters - As ruas de
Porto Alegre ainda devem continuar a sofrer com enchentes por semanas, disseram
especialistas, agravando as dificuldades em um Rio Grande do Sul onde mais de
meio milhão de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas inundadas por
chuvas recordes no Estado.
As águas do lago Guaíba, que transbordou e inundou a
capital gaúcha, subiram a 5,22 metros na terça-feira, bem acima do nível de
enchente de 3 metros e perto do pico histórico de 5,33 metros alcançado na
semana passada. O lago recebe as águas de diversos rios da região que foram
sobrecarregados por temporais.
Especialistas e pesquisadores climáticos do Instituto de
Pesquisas Hidráulica (IPH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), afirmaram que as águas podem se estabilizar ou continuar a subir,
dependendo da chuva. Mas eles concordam que o nível das águas levará cerca de
um mês para baixar.
As enchentes devastaram dezenas de cidades do interior do
Rio Grande do Sul e alagaram diversos pontos de Porto Alegre, onde a região
central permanece debaixo de água. O número de mortos na tragédia subiu na
terça-feira para 149, e 112 pessoas permanecem desaparecidas.
Uma previsão inicial do IPH dizia que as águas do Guaíba
demorarão 35 dias para voltar aos níveis normais, com base na pior enchente
anterior, em 1941, quando atingiram 4,76 metros. Rio acima, as águas podem
recuar mais cedo nos cinco afluentes.
O Guaíba deve voltar lentamente a ficar abaixo dos níveis
de enchentes dentro de semanas ou mesmo até meados de junho, afirmou o
professor do IPH Rodrigo Paiva, mas ele acrescentou que isso dependerá de
chover mais ou não.
Segundo Fernando Fan, hidrólogo e pesquisador do IPH, o Guaíba
deve voltar a 4 metros entre 19 e 21 de maio. Ele acrescentou, no entanto, “que
isso pode atrasar, se chover mais".
"Em 1941 nós não tivemos o rebote que temos agora”,
disse ele à Reuters.
Novas chuvas nos últimos dias levaram a um novo aumento do nível
das águas do Guaíba, aumentando o medo de que o lago ultrapassará recordes
anteriores e levando as autoridades a alertarem os moradores a não retornarem
para suas casas em áreas inundadas.
Às margens da estrada RS-448, a comunidade de pescadores
da praia do Paquetá observa de perto cada movimento das águas que tomou conta
do local e acabou com o sustento das famílias.
“Estamos esperando baixar. A gente estava contente que estava
baixando, agora começou a subir de novo... vai levar dois meses pelo menos”,
disse Cristiano André Pastoriza, de 45 anos.
A comunidade vive da pesca no rio Jacuí, um dos principais
afluentes do Guaíba. No dia 1º de maio, depois de dois dias de chuvas intensas,
uma barreira se rompeu e a água chegou de uma vez só na região.
“Só deu para sair com a roupa do corpo e os documentos”, contou
Cristiano.
No que parece ser agora um enorme rio, só se vê os
telhados das casas. A estrada que levava à comunidade termina na água.
Moacir Oliveira Lopes, de 58 anos, disse que nunca viu o
rio assim durante toda sua vida passada na localidade.
“Vai demorar muito para voltar, dois, três meses. E o
peixe volta quando a água voltar para o leito. Tem que escoar essa água ruim
toda, aí vem a nova e aí os peixes voltam”, disse "Seu Cira", como é
conhecido.
Os pescadores da comunidade também usaram seus barcos para
resgatar moradores na cidade vizinha de Canoas, que ficou gravemente inundada.
“Quando falaram que invadiu Mathias (Velho, bairro de
Canoas mais afetado pela enchente) saí por aqui por dentro correndo de barco.
Quando cheguei lá me desesperei. Quando eu vi aquele povo em cima do telhado,
criança pequena, eu chorei, me cortou o coração. A gente está pegando uns e
outros pedindo socorro”, contou.
Fonte: Brasil 247 com Reuters
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