domingo, 21 de abril de 2024

Ruralistas avançam pacote de projetos contra o MST com 17 proposições na Câmara

 A bancada dos latifundiários e seus apoiadores se mobiliza para criminalizar movimentos sociais do campo

A Câmara dos Deputados teve, nos últimos dias, avanços relevantes na tramitação de projetos de lei (PL) contrários à ocupação de terras feita por movimentos sociais do campo. As ações, encabeçadas pela bancada do agro, ocorrem em paralelo à jornada de luta do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pela reforma agrária durante o mês de abril. O período é chamado de “Abril Vermelho” por militantes do grupo.


Um projeto que visa frear o avanço das ocupações de terra tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa e chegou a ser incluído na pauta da semana. Além disso, um segundo PL sobre o assunto teve urgência aprovada no plenário da Câmara. As pautas fazem parte de um pacote com 17 proposições “anti-invasão”, impulsionadas pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), formada por latifundiários e seus apoiadores.


O avanço é fruto de mobilizações da bancada ruralista, que critica as ações realizadas pelo MST ao longo da semana. Segundo o movimento, em abril, foram realizadas 24 ocupações de terras e montagem de acampamentos em 11 estados do país.


A escalada das leis ruralistas no Congresso tem como pano de fundo o lançamento de um programa do governo federal para destinação de terras à reforma agrária no Brasil. Divulgada na última segunda-feira (15/4) com o nome de Terra da Gente, a iniciativa cria prateleiras de terras, ou seja, conjuntos de áreas que podem ser disponibilizadas para o assentamento de famílias de agricultores.


A iniciativa traz alternativas à tradicional desapropriação de terras para a aquisição de imóveis que serão destinadas à reforma agrária. A estimativa é que 295 mil famílias possam ser atendidas até 2026.


Além disso, o governo anunciou R$ 520 milhões para a aquisição de terras para a política agrária, sendo R$ 383 milhões direcionados ao assentamento de pequenos agricultores e R$ 137 milhões destinados a investimentos em territórios quilombolas.


Atrito com Lira


A inclusão de pautas contra a ocupação de terras, no radar da Câmara, também ocorre em meio a um atrito entre o governo federal e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No início da semana, Wilson César Lira, primo do deputado, foi exonerado do cargo de superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas — que já era uma reivindicação do MST. Lira não teria sido avisado previamente da decisão e não gostou da medida.


O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, conversou com o presidente da Câmara e disse que ele poderia indicar um substituto para o cargo.


O movimento de Teixeira não foi suficiente para reduzir a tensão: na noite de terça-feira (16/4), o plenário da Câmara aprovou o regime de urgência para o Projeto de Lei (PL) nº 895/23, que acaba com benefícios, auxílios, inclusão em programas sociais federais e nomeação em cargos públicos para ocupantes de propriedades rurais. O texto tem autoria do deputado Zucco (PL-RS), que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST em 2023.


De acordo com líderes da base governista, ouvidos sob reserva pela reportagem, não houve acordo prévio com Lira para a votação da urgência desse projeto. O tema chegou a ser debatido em reunião com lideranças partidárias, mas a análise da urgência pegou o governo de surpresa.


A situação chegou a ser duramente criticada pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). “Isso não pode acontecer, é quebra de acordo, é ruim para o funcionamento do parlamento”, disse em plenário.


Outros projetos


Além do projeto que teve a urgência aprovada em plenário, nova pauta está na mira da bancada do agro. É o PL nº 8.262/17, que autoriza proprietários de terra a pedirem apoio de forças policiais para a retirada de trabalhadores rurais que promovam ocupações, mesmo sem ordem judicial.


O texto tramita na CCJ, comissão presidida pela deputada Caroline de Toni (PL-SC), integrante da bancada ruralista. A matéria não foi votada porque houve um pedido de vista coletivo, mobilizado pela base governista.


O pacote da bancada do agro com 17 proposições também conta com as seguintes pautas de destaque:


  • PL nº 3.768/21: amplia a participação dos municípios nos processos de regularização fundiária;
  • PL nº 1.198/23: eleva a pena de detenção para o crime de esbulho possessório;
  • PL nº 4.128/23: obriga movimentos sociais a ter CNPJ.

Mobilização


Procurado pela reportagem, o presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), afirmou que aguarda a aprovação das propostas, assim que elas forem pautadas por Lira. Ele acusa o governo federal de ser “conivente” com movimentos de ocupação de terras.


“Não aceitaremos a normalização desses crimes e a fragilização do direito de propriedade. O que adianta fazer churrasco para se aproximar do setor e atacar frontalmente a atividade agropecuária? Aparelhar cargos federais com representantes de movimentos criminosos? A paz no campo é a nossa prioridade”, afirmou.


Na próxima quarta-feira (24/4), o grupo fará uma mobilização na Câmara “em homenagem ao agronegócio nacional”. Segundo o deputado Zucco, o objetivo é “reafirmar a importância do direito de propriedade e da segurança jurídica no campo”.


Enquanto representantes do agro tentam avançar na pauta, partidos ligados ao MST buscam estratégia para atrasar a tramitação do texto. Deputados ligados ao PSol, ouvidos sob reserva pela reportagem, afirmaram que a estratégia será de obstruir as pautas, tanto na CCJ, quanto no plenário. O objetivo é atrasar ao máximo a votação das propostas.


Fonte: Agenda do Poder com informações do Metrópoles.

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