segunda-feira, 1 de abril de 2024

PF acha carta golpista para pressionar Forças Armadas com namorada de ex-assessor de Bolsonaro

 

Filipe Martins e a namorada, Anelise. Foto: Divulgação/Instagram

Durante a operação Tempus Veritatis, que resultou na prisão de Filipe Martins, ex-assessor da Presidência durante o governo Bolsonaro, agentes da Polícia Federal (PF) descobriram materiais e documentos que levantam questões sobre o processo eleitoral, exercem pressão sobre as Forças Armadas e incluem informações sobre adversários políticos, como o deputado federal André Janones (Avante-MG). Com informações da revista Veja.

Os documentos estavam armazenados no celular da namorada de Martins, Anelise Hauagge, que ocupou um cargo comissionado no Ministério das Comunicações entre janeiro de 2021 e janeiro de 2023. Embora não seja investigada, ela estava presente durante a busca e teve seu dispositivo submetido a uma análise preliminar, conforme registrado em relatório pelos agentes. A operação, denominada Tempus Veritatis, ocorreu em 8 de fevereiro.

Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais, é alvo de investigação da PF por sua “posição de destaque nas questões jurídicas” e na elaboração de pareceres que poderiam respaldar ações para reverter o resultado das eleições de 2022.

Segundo Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, Martins apresentou a Bolsonaro, em novembro de 2022, um documento com uma lista de “considerandos” que apontavam interferências do Judiciário durante o governo e propunham a prisão de ministros do STF, incluindo Alexandre de Moraes.

Esse documento teria sido compartilhado por Bolsonaro, posteriormente, com os três comandantes das Forças Armadas.

Carta encontrada no celular de Anelise
Carta encontrada no celular de Anelise. Foto: VEJA/VEJA

O texto identifica pessoas que estariam inseguras e duvidosas sobre as eleições de 2022, citando um suposto desequilíbrio no processo. Também questiona a segurança das urnas eletrônicas e solicita, de forma “pacífica” mas “implorando”, a intervenção de um “poder moderador neutro” para investigar e restabelecer a credibilidade da democracia brasileira.

Encerra-se com o alerta de que, se persistirem as dúvidas sobre as eleições, “não haverá ambiente de unificação no país”. O documento é datado de 5 de novembro de 2022.

Namorada bloqueou o aparelho

Segundo os agentes, Anelise bloqueou o aparelho e se recusou a fornecer a senha quando foi informada de que o telefone seria apreendido, gerando suspeitas de que o dispositivo também fosse utilizado por Martins.

Ela então tentou acessar os dados armazenados na nuvem através do celular de sua mãe, mas foi advertida sobre as consequências de impedir a investigação, embora tenha negado a tentativa.

No telefone de Anelise, os agentes também encontraram levantamentos sobre dados cadastrais de opositores políticos, incluindo o deputado André Janones. Um relatório intitulado “Premium Name Report on André Janones in BR” continha informações como empresas, telefone e endereço vinculados ao deputado.

Além disso, durante as buscas, foi encontrado um crachá da Presidência da República em nome de Filipe Martins, com validade até 31 de dezembro de 2026, levantando questionamentos sobre sua possível reeleição de Bolsonaro.

Confira a íntegra da carta:

Declaração aberta de insegurança e dúvida sobre o processo eleitoral Brasileiro

Eu, _______________, brasileiro (a), portador do RG _________, venho por meio desta carta aberta expor minha insegurança e dúvida em relação ao processo Democrático da última eleição presidencial.

Essa insegurança se origina justamente de todo o histórico comprovadamente desequilibrado do processo eleitoral. Reforço a manobra jurídica que permitiu que um condenado por vários juízes, com base em provas reais, que deveria ser inelegível pela Lei da Ficha Limpa e inclusive de devolução de bilhões aos cofres públicos, fosse candidato ao cargo de Presidente da República. Somente este fato já justificaria uma ação. A reputação da nossa Pátria está em jogo.

Destaco a forma como defenderam a urna eletrônica como segura e inviolável, não permitindo a discussão sobre a necessidade de um mecanismo de auditoria física, como acontece nas maiores democracias do mundo e que atenderia à exigência constitucional de que a contagem do voto, como ato administrativo, observe o princípio da publicidade.

Sem falar na Censura estabelecida apenas a veículos, empresários e influenciadores de um dos lados do pleito, resultado em total desequilíbrio e falta de isonomia, pois claramente o que não valia pra um lado valia para o outro.

A maneira como foi conduzido o processo das campanhas gratuitas de rádio e TV, com evidente desequilíbrio nos julgamentos de direito de resposta, com permissão de fake news favoráveis a uma das candidaturas e com desequilíbrio no tempo utilizado nas rádios, sempre em benefício do mesmo candidato.

A indignação sobre a apuração das urnas, com centenas de casos matematicamente improváveis, com comportamento absurdamente fora da realidade racional e indicação tecnicamente crível de atividade algorítmica em determinados modelos de urnas.

Tudo isso me faz pacificamente, implorando ajuda de um poder moderador neutro para investigar e reestabelecer a credibilidade da Democracia Brasileira. Exerço aqui o dever de cidadão e peço ajuda às Forças Armadas, para que tragam credibilidade e isenção a investigação do processo eleitoral.

Se essa dúvida persistir não existirá ambiente de unificação no país.

Local _____________________ 05 de Novembro de 2022

Assinatura

Fonte: DCM

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