terça-feira, 23 de abril de 2024

No primeiro dia de acampamento em Brasília, indígenas redigem carta aos três Poderes pedindo proteção aos povos originários

 Documento aponta para as consequências da nova legislação, que, segundo o texto, “legaliza” crimes e recompensa invasores de territórios

No primeiro dia do Acampamento Terra Livre (ATL) de 2024, em Brasília, movimentos indígenas redigiram uma carta direcionada aos três Poderes, solicitando a adoção de medidas urgentes para garantir a proteção e a promoção dos direitos dos povos originários, especialmente no que diz respeito à demarcação de territórios.


O ATL é a maior mobilização dos povos indígenas do Brasil, e ao longo de sua programação, que se estenderá até sexta-feira (26) em Brasília, espera-se reunir um público de mais de 10 mil pessoas. O presidente Lula não foi convidado para participar do evento em meio a insatisfações com a abordagem das questões indígenas durante seu governo.


Conforme destacado no documento assinado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e organizações regionais, apesar da mudança recente de governo, as ameaças à demarcação de terras, culturas e direitos persistem, exacerbadas pelo contexto do ano mais quente já registrado na história, evidenciando a contínua emergência indígena.


A carta aponta para as consequências da nova legislação, que, segundo o texto, “legaliza” crimes e recompensa invasores de territórios.


Nos primeiros meses da lei 14.701/2023, a expansão do agronegócio e o arrendamento de terras para monoculturas e garimpo resultaram em nove assassinatos de indígenas e 23 conflitos em territórios localizados em sete estados e cinco biomas.


Lida na plenária principal do ATL, a carta denuncia a atuação da “bancada do boi e da bala”, que ameaça vidas e territórios, buscando retirar os direitos indígenas da Constituição.


No entanto, destaca-se que o Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou que os direitos originários não podem retroceder, em referência à revogação da tese do marco temporal pelo Judiciário em setembro do ano passado.


O documento também destaca um exemplo recente de violência resultante da aplicação da tese do marco temporal: o assassinato a tiros da pajé Nega Pataxó Hã-Hã-Hãe, ocorrido em 21 de janeiro, na terra indígena Caramuru-Paraguaçu, na Bahia.


Durante o confronto, outras três pessoas ficaram feridas, incluindo o irmão da vítima, o cacique Nailton Muniz. Dois fazendeiros foram presos sob acusação de cometer o crime.


Segundo Kleber Karipuna, coordenador da Apib, o texto será protocolado nos três Poderes e há expectativa de que seja entregue pessoalmente, durante as atividades do ATL, aos ministros do Executivo e do STF, bem como aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.


Na terça-feira (23), está programada uma marcha do acampamento até o Congresso Nacional para apresentar a carta, com a participação esperada das ministras Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudanças Climáticas).


Nesta segunda-feira, o ministro Gilmar Mendes, do STF, decidiu suspender todas as ações judiciais relacionadas à lei do marco temporal das terras indígenas, aprovada no ano passado pelo Congresso em resposta à decisão do tribunal.


Além disso, ele determinou o início de um processo de conciliação sobre o reconhecimento, demarcação e uso das terras indígenas no país.


Fonte: Agenda do Poder com informações da Folha de S. Paulo.  

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