À frente de um dos ministérios mais importantes e de maior orçamento do governo, a ministra já havia sido sabatinada por deputados federais na semana passada.
Brasil de Fato - Pressionada desde que assumiu o
Ministério da Saúde – e ainda mais intensamente no último mês –, Nísia Trindade resistiu sem grandes
arranhões a uma sequência de audiências no Congresso Nacional. No dia 16, ela
atendeu ao convite do colegiado da Comissão de Assuntos Sociais (CSA) do
Senado, e teve nova oportunidade de apresentar aos parlamentares os principais
projetos, metas e projeções da sua gestão, além de rebater acusações e
fortalecer sua posição na arena política.
À frente de um dos ministérios mais importantes e de maior
orçamento do governo, a ministra já havia sido sabatinada por deputados
federais na semana passada. E não se deixou emparedar diante de questionamentos
e acusações feitas por senadores da oposição – dos mais polidos, como se
mostraram Alessandro Vieira (MDB) e Dr. Hiran (PP-RR), aos mais estridentes
Eduardo Girão (Novo-CE) e Damares Alves (Republicanos-DF).
Foi justamente em um embate com a ex-ministra de Jair Bolsonaro
(PL) que Nísia demonstrou sua versão mais contundente ao ser confrontada com
insinuações de fraqueza. "A senhora está sendo sabotada no seu ministério?
Tem controle de tudo o que está acontecendo ali, ministra? Está confortável em
continuar neste cargo?", havia provocado a senadora de extrema direita,
tentando impor uma lógica de que os indicadores seriam "tão ruins ou
piores" dos que os dos ministros bolsonaristas.
"Eu me sinto honrada por ocupar esse ministério. Não
há nenhuma hipótese de eu desistir desse trabalho. Quem é responsável pela
minha nomeação é o presidente da República, que me convidou e, sempre que
estiver nessa posição, estarei trabalhando pela missão maior do ministério, que
é a defesa do SUS, a defesa dos cidadãos
brasileiros, da sua saúde e das suas famílias", rebateu Nísia.
Ministra emite sinais e ganha apoios
A ministra reconheceu a dimensão de desafios como a
extensão da crise sanitária no território Yanomami, a
queda da cobertura vacinal e as campanhas de
combate à dengue, e não se ateve apenas em mencionar
as condições que encontrou e trabalha para reverter no Sistema Único de Saúde
(SUS) e outros programas fundamentais. Também apresentou projetos de
investimentos, novos programas, como o que visa ampliar o acesso a especialistas médicos,
e explicou procedimentos amparados por sociedades científicas que seguem
critérios técnicos.
"Nós começamos um processo de reverter a queda nas
coberturas de vacina que tem como uma das suas explicações o negacionismo do
governo passado. Isso é dado, isso é fato, e que repercute inclusive na
vacinação de dengue mencionada aqui pela senadora Damares", disse Nísia.
Ela também aproveitou para dividir os louros do início da
jornada no cargo: "Se não fosse a grandeza dos senadores e de todo
Congresso Nacional que aprovou a PEC da Transição, nós não teríamos
conseguido a retomada desses programas; alguns foram retomadas, e outros
iniciam com inovações importantíssimas, como a estratégia do Complexo Econômico e Industrial da Saúde,
lançada em setembro passado".
Confrontada sobre um suposto erro no repasse a Cabo Frio (RJ),
cidade onde seu filho é secretário municipal de Cultura, Nísia negou que tenha
havido qualquer favorecimento ou direcionamento. "Vinha, desde janeiro,
parecer da CIB (Comissão Intergestores Bipartite), aprovação dentro do
ministério, e o que nós fizemos foi, não só em Cabo Frio, mas em todo Brasil,
reparar danos históricos à saúde da população, independentemente do partido de
seus governantes", ressaltou.
Com qualidades exaltadas até por senadores de oposição, a
ministra da Saúde teve sua participação aprovada por governistas, como a
senadora Teresa Leitão (PT-PE). "O depoimento dela (Nísia) aqui hoje foi
exemplar. Muita segurança, muita calma e transmitiu, de fato, sem nenhum efeito
pirotécnico, o que está sendo feito, com um nível de conhecimento técnico muito
grande, consciência das dificuldades, mas também um compromisso com a superação
dessas dificuldades", exalta.
Para o também petista Humberto Costa, que preside a Comissão de
Assuntos Sociais e já liderou o ministério da Saúde, a ministra está sendo
"absolutamente fiel" ao programa do governo e vem fazendo um bom
trabalho. "Os que hoje fazem um movimento para a sua desestabilização não
estão preocupados em melhorar a saúde da população brasileira, mas em ter
controle político, especialmente sobre o Ministério da Saúde. E isso é
inaceitável, então nosso apoio é integral", reafirma.
O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) também se solidarizou com Nísia, especialmente
se comparada às escolhas "desastrosas" de Bolsonaro para a pasta.
"Para mim, ela é a melhor ministra dentre todos que eu vi até hoje, desde
os governos Fernando Henrique até agora no governo Lula, pelo seu preparo, pela
sua seriedade, pela sua dedicação", disse o senador, que também contestou
a própria finalidade dos seus pares na comissão. "Me preocupo quando aqui
nas comissões marcam presença ministros diferenciados e que são maltratados e
desrespeitados por senadores que não são de oposição ao governo Lula, são de
oposição ao Brasil. Para eles, quanto pior melhor", acusou.
Machismo sempre à espreita
Bem-sucedida, doutora em Sociologia e mestre em Ciência
Política, Nísia Trindade foi a primeira mulher a ser presidente da Fiocruz,
onde chegou a ser condecorada por sua atuação durante a pandemia de covid-19. Em janeiro de 2023,
tornou-se também a primeira mulher a assumir o cargo máximo do Ministério da
Saúde.
Discreta, tem sua trajetória como gestora pública e
pesquisadora reconhecida internacionalmente e sua produção consta em algumas
das principais revistas científicas. Porém, isso não a blinda de ser vítima de
misoginia e outros golpes baixos, conforme aponta a senadora Teresa.
Fonte: Brasil 247 com informações do Brasil de Fato
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