"Em uma luminosa manifestação do populismo penal, suprimiu-se uma medida ressocializante", diz nota do grupo que critica o Congresso Nacional
O Grupo Prerrogativas
emitiu nota nesta quinta-feira (21) condenando a aprovação por parte do
Congresso Nacional do Projeto de Lei nº. 2253/2022, que praticamente acaba com
a saída temporária de presos. O grupo chama a medida de "populismo penal",
destacando que a nova regra dificultará a ressocialização dos detentos, e cobra
que o presidente Lula (PT) vete o texto.
Leia na íntegra:
NOTA DO GRUPO PRERROGATIVAS SOBRE O FIM DAS SAÍDAS TEMPORÁRIAS
“O grau de civilização de uma sociedade pode ser medido pela maneira como trata seus prisioneiros”.
A velho
aforisma, equivocadamente, porém compreensivelmente, atribuído a Fiódor
Dostoiévski, nunca foi tão preciso quanto hoje no Brasil.
O Congresso
Nacional aprovou o Projeto de Lei nº. 2253/2022, que restringe as saídas
temporárias a hipóteses extremamente restritas e que, dentro da realidade
carcerária brasileira, extingue na prática o instituto, de importância fulcral
para a ressocialização dos presos. Pelo descumprimento de muito poucos, toda
uma população carcerária perderá a oportunidade de voltar ao convívio
gradativos com suas famílias e com a sociedade.
Importante
esclarecer que, de acordo com a atual lei, somente tem direito a saída
temporária os presos que estão cumprindo pena em regime semi-aberto. Sendo
vedado, ainda, para os condenados por crime hediondo com resultado morte.
Em uma
luminosa manifestação do populismo penal, suprimiu-se uma medida
ressocializante, que vale lembrar, foi editada em pleno regime militar haja
vista a sanção da Lei de Execuções Penais pelo então Presidente da República
João Baptista Figueiredo.
Mas não é
só. Mencionado projeto instituiu a obrigatoriedade do exame criminológico para
a progressão de regime. Trata-se de um exame retrógrado, anticientífico e que
já foi rechaçado inúmeras vezes por conselhos de psicologia. Além exotérica, a
obrigação de realização de mencionado exame para a progressão de regime de toda
e qualquer pessoa entupirá ainda mais as Varas de Execução Penal, onerará
sobejamente os cofres públicos e atrasará ainda mais a progressão de regime das
pessoas que já atingiram dos marcos temporais objetivos para a progressão.
Além disso,
trouxe a possibilidade de monitoramento eletrônico para pessoas em regime
semiaberto e sua obrigatoriedade nos casos de livramento condicional, mais uma
vez, medidas que, além de criar severos empecilhos para a reintegração social
do apenado – pelo fragoroso estigma que tais equipamentos infligem -, ignoram
por completo a insuficiência de equipamentos para as necessidades atuais e que
gerarão despesas incalculadas para o Poder Público; valores que seriam muito
melhor alocados em medidas de reintegração social.
A proposta
legislativa aprovada traz a inequívoca mensagem de que nossos legisladores não
acreditam na possibilidade ressocialização de seus cidadãos. Não compreendem o
crime com um fato a ser punido e não repetido, mas sim como uma característica
inata ao criminoso. A proposta trata seus prisioneiros como incapazes de
recuperação e indignos de perdão e, assim sendo, revelam o retrocesso
civilizatório de nossa sociedade.
Por tudo
isso, o Grupo Prerrogativas, comprometido com a construção de uma sociedade
igualitária, solidária e, realmente antirracista e imbuído pela esperança que
jamais deixará de nos inspirar, espera que mencionada lei seja vetada pelo
Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva.
Fonte:
Brasil 247
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