Segundo fontes ligadas à investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, também existe a suspeita que o general tenha buscado meios para financiar os acampamentos golpistas
Reuters - A Polícia
Federal investiga a participação do general da reserva Walter Braga Netto na
preparação para viagem a Brasília e alojamento de militares com treinamento de
forças especiais após a eleição de 2022, em meio a discussões no núcleo do
governo Bolsonaro para tentar impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio
Lula da Silva, mostram documentos vistos pela Reuters.
A investigação, também confirmada por duas fontes que
acompanham o inquérito, aponta que o ex-ministro da Casa Civil e companheiro de
chapa de Jair Bolsonaro na eleição, teria tido participação ativa e decisiva na
preparação para uma tentativa de golpe, disseram as fontes.
Ao longo do inquérito, disse uma das fontes, ficou claro que o
general da reserva teve papel central especialmente como influenciador dentro
do Exército.
"Braga Netto atuava como um incentivador e
influenciador dentre os demais comandantes do Exército. E há suspeitas de que
ele buscava meios para financiar os acampamentos", disse a fonte, fazendo
referência aos acampamentos montados por bolsonaristas em frente a instalações
do Exército pedindo uma intervenção para impedir a posse de Lula.
A Reuters tentou contato com o advogado de Braga Netto, mas não
obteve resposta.
Foi na casa do general da reserva que teria sido discutido
pela primeira vez como levantar os recursos necessários para levar a Brasília
homens do Exército com treinamento para fomentar insurgências, os chamados
"kids pretos" por conta do gorro escuro que usam, de acordo com os
documentos.
Depoimentos prestados por vários envolvidos na tentativa de
golpe, que tiveram divulgação liberada pelo ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Alexandre de Moraes, mostram que os delegados do caso têm em mãos
informações sobre uma reunião realizada no dia 12 de novembro de 2022 na casa
de Braga Netto, um apartamento na zona sul de Brasília.
O encontro, menos de duas semanas depois do segundo turno
das eleições presidenciais de outubro, teria reunido diversos militares de
segundo escalão envolvidos na tentativa de golpe.
De acordo com as fontes ouvidas pela Reuters, a reunião na casa
de Braga Netto tratou, entre outros assuntos, da ida a Brasília, do Rio de
Janeiro e de Goiás, de homens com treinamentos de forças especiais, de forma
clandestina. A intenção era a preparação para um possível evento que pudesse
justificar a decretação de um estado de sítio ou de defesa -- a base das
minutas de decreto de teor golpista analisadas pelo então presidente Bolsonaro.
As investigações revelam que, ao final do encontro na casa
de Braga Neto, os presentes teriam chegado à necessidade de um orçamento de
cerca de 100 mil reais para "transporte, hotel e material", que iria
ser coordenado pelo major Rafael Martins Oliveira, um dos membros das forças
especiais, para trazer a capital federal os "kids pretos".
Formados em operações especiais, os "kids pretos" são
homens do Exército lotados em diversas áreas, mas que foram treinados para
operações sigilosas de insurgência, sabotagem e outras técnicas, e considerados
uma elite de combate, de acordo com a PF.
Desde o início das investigações dos ataques do 8 de
janeiro, a PF trabalhava com a hipótese de os invasores terem passado por algum
tipo de treinamento e que entre eles houvesse homens com conhecimento de
táticas de invasão ou guerrilhas. De acordo com uma fonte, a investigação
caminha para identificar essas pessoas.
Segundo a outra fonte, Oliveira ficou responsável por organizar
as manifestações contra o STF e o Congresso e também a vinda dos homens a
Brasília. Mensagens encontradas no celular apreendido pela PF do coronel Mauro
Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, mostram uma conversa com Oliveira para
oferecer ajuda na captação dos 100 mil reais acertados durante a reunião com
Braga Netto. A Reuters não conseguiu contactar a defesa de Oliveira para pedir
comentários.
Além disso, disseram as fontes, o general tinha um papel
político e até mesmo nas redes sociais bolsonaristas. Mensagens reveladas pela
PF nos celulares dos investigados mostram que Braga Netto incentivou a
divulgação de mensagens nas redes contra o então comandante do Exército, Marco
Antonio Freire Gomes, e o da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior.
De acordo com os depoimentos de ambos à PF, Baptista
Júnior e Freire Gomes se recusaram, em conversas com Bolsonaro, a apoiar a
tentativa de golpe arquitetada pelo ex-presidente e Braga Netto. Os dois
declararam ver os ataques digitais como uma tentativa de pressão para que
mudassem de ideia.
Ambos disseram à PF, em seus depoimentos, que passaram a
ser atacados nas redes sociais e relacionaram o período com as mensagens de
Braga Netto, o que só vieram a descobrir depois das operações da Polícia
Federal.
Braga Netto foi alvo de busca e apreensão na operação
Tempus Veritatis" (hora da verdade, em latim), feita pela PF no início de
fevereiro e que atingiu o núcleo central de militares e civis do governo
Bolsonaro envolvidos na tentativa de golpe, e foi proibido de manter contato
com Bolsonaro e com outros integrantes do grupo.
Em seu depoimento, como acusado, o general se recusou a
responder perguntas dos policiais federais.
Fonte: Brasil 247 com Reuters
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